quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

EUA: GIGANTESCA HIPOCRISIA




José Inácio Werneck*, Bristol – Direto da Redação

Bristol (EUA) – Metade dos casos de gravidez nos Estados Unidos são involuntários. Das mulheres que assim engravidam, 40% recorrem ao aborto. Seria o caso de pensar, como medida de bom senso, que se devesse estimular o uso de pílulas e outros métodos anti-concepcionais.

Isto seria o que o bom senso recomenda. Mas na atual campanha de primárias republicanas nos Estados Unidos, políticos e líderes religiosos, movidos por uma onda de medievalismo, colocam-se contra a pílula, a camisinha, o diafragma ou lá o que seja que permita às mulheres o prazer do sexo sem o risco de engravidar.

E depois ainda acusam os muçulmanos de serem atrasados.

No fundo, estamos diante de uma gigantesca hipocrisia, além de uma burrice siderúrgica. As estatísticas mostram que 98% das mulheres católicas sexualmente ativas (quem sabe, de acordo com as autoridades litúrgicas, devêssemos dizer “dadas `a prática da fornicação”?) usam anti-concepcionais.

Mas temos no momento o “católico novo”, Newt Gingrich (foto), o católico de longa data Rick Santorum e diversos bispos, cardeais e prelados condenando a pílula. Isto, senhoras e senhores, mais de meio século depois dela ter surgido e ter salvo incontáveis vidas femininas.

Sim, vidas que não sucumbiram em consequência de abortos precariamente efetuados ou que não caíram em depressão que muitas vezes leva ao suicídio, ao alcoolismo, às drogas.

Vocês sabem quem é Newt Gingrich? É um monumento à hipocrisia, um homem que, quando presidente da Câmara dos Deputados, promoveu o “impeachment” do presidente Bill Clinton por adultério, enquanto ele mesmo mantinha uma relação adúltera. Um homem que, entrando com a petição para seu primeiro divórcio ao tempo em que a mulher era operada de câncer, praticou outra vez o adultério quando casado pela segunda vez, pediu à segunda mulher permissão para manter a amante na “linha auxiliar” e, diante de sua recusa, divorciou-se novamente.

Sua segunda amante, hoje terceira mulher, é católica – uma católica que canta no coro da Igreja mas não viu nenhum impedimento em manter a relação adúltera – e, depois de casar-se com ela, Newt Gingrich “converteu-se”. Virou católico fervoroso, tão fervoroso que é contra os anti-concepcionais e tão fervoroso que passou a acusar o presidente Barack Obama de promover uma “guerra contra a religião”, só porque o presidente quer dar a todas as mulheres o direito de usar a pílula, com ou sem consentimento de párocos e outros usuários da batina – esses mesmos párocos e usuários de batina frequentemente envolvidos em escândalos de pedofilia pelo mundo afora.

Newt Gingrich conseguiu anular seu primeiro casamento no Vaticano. Quanto ao segundo, não precisou, pois, aos olhos da Igreja, ele nunca existiu. Entrou portanto zero quilômetro em seu matrimônio com a beata Calista e passou a ditar cátedra em pontos de doutrina.

Ele garante que vai lutar até o fim para ser o candidato republicano, mas tenho certeza de que o escolhido será mesmo Mitt Romney, o homem que, segundo ele mesmo deixou escapar, não se “preocupa com os pobres”.

Em tese, com candidatos republicanos tão ruins, Barack Obama será reeleito. Mas Obama precisa aparecer de público com um plano concreto para combater o desemprego e a recessão – mesmo que seja para ser obstruído no Congresso pelos republicanos. Deve fazê-lo, ao menos para estabelecer um nítido contraste aos olhos do eleitorado.

* É jornalista e escritor com passagem em órgãos de comunicação no Brasil, Inglaterra e Estados Unidos. Publicou "Com Esperança no Coração: Os imigrantes brasileiros nos Estados Unidos", estudo sociológico, e "Sabor de Mar", novela. É intérprete judicial do Estado de Connecticut. Trabalha na ESPN e na Gazeta Esportiva

1 comentário:

Anónimo disse...

"E depois ainda acusam os muçulmanos de serem atrasados."

Os republicanos e líderes religiosos dos EUA não trucidam homossexuais. Já os muçulmanos .... mas disso você não vai falar, né?

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