CANDIDATURA DE TAUR SERVE BRANQUEAMENTO DO CANDIDATO XANANA A PM

Beatriz Gamboa, Timor-Leste

Nas minhas intervenções no Página Global não tinha reparado na opinião de Carlos Tadeu acerca das eleições em Timor-Leste para a presidência da República, com espírito atempado deparei agora com os três parágrafos de Tadeu no título Xanana Gusmão pede voto em Taur Matan Ruak em comício em Díli, publicado sábado.

Quando os portugueses falam em “engolir elefantes” ou sinónimos disso acho que a imagem é desproporcional, prefiro referir “engolir sapos vivos”. É disso que se trata, os timorenses que reprovaram Xanana Gusmão ao longo de anos pelas suas políticas como PM do governo AMP, ainda em exercício, estão mesmo a engolir sapos vivos enquanto são arrastados pelo candidato Taur Matan Ruak a apoiar e vitoriar um casamento que não desejavam. Falta saber se depois o desejam. Isso será notado após conhecermos o resultado das eleições que acontecem dentro de uma semana, no próximo dia 17.

A estratégia Xanana Gusmão-Taur Matan Ruak foi muito bem delineada mas não passa de obra de Lineu e já vista noutras latitudes. Levou cerca de dois anos a ser arquitetada e parece estar a resultar. Não ponhamos dúvidas de que o general é um potencial candidato a habitante do Palácio Presidencial e principal antagonista de Lu Olo, candidato da Fretilin transparentemente assim declarado. Ao inverso Taur avançou alegadamente como candidato independente (denunciámos aqui no Página Global e muito antes no Timor Lorosae Nação que é um candidato de Xanana) e agora vai surgindo pé ante pé como o real candidato de Xanana Gusmão - porque o CNRT é folclore e no dia em que Xanana o abandonasse ficaria tão órfão que definhava num ápice.

NA POLÍTICA NADA ACONTECE POR ACASO

Imaginem que Xanana foi como simples mortal assistir ao comício de Taur em Díli e alguém da organização de campanha reconheceu Xanana e convidaram-no a juntar-se ao candidato e elenco no palanque, tendo até tido a oportunidade de falar à assistência do comicio. Mas que coincidência tão inesperada (e feliz), Xanana estar ali naquele comício entre o povinho. E haver elemento da campanha bom observador que conseguiu ver Xanana Gusmão por entre a mole imensa. Foi mesmo uma benévola e interessante coincidência… Só gente de maus fígados é que não vê toda a normalidade nesta coincidência e declara que aquilo foi uma encenação porca e estúpida dos que não se querem assumir como aliados na estratégia de conseguirem uma presidência, uma maioria, um governo. Taur Matan Ruak está evidentemente comprometido nas falsidades que comportam estes objetivos de Xanana Gusmão. Taur é muito mais dócil que Horta (anterior candidato de Xanana) porque o pragmatismo de Horta leva-o a ser um pau de dois bicos e saltar fora do que quer que seja se assim lhe der na veneta ou se considerar haver razão bastante para isso. Ia-lhe custando a vida esta postura em Fevereiro de 2008, há quatro anos, depois de admitir publicamente que podia vir a convocar eleições legislativas antecipadas devido a reprovar o modo como Xanana-AMP estavam a governar…. Porém isso são contas de outro rosário. Horta escapou – felizmente – e não se falou mais em eleições antecipadas, tal foi a “força” do aviso. Compreensivelmente, nada garantia a Horta que escapava a novo atentado se mantivesse essa intenção. Até Ramos Horta sabe que milagres não acontecem sempre. Ele sabia e sabe que existem pessoas capazes de tudo. Ora quem o manda desagradar a Xanana-AMP? Claro que não o apoiam na sua recandidatura. “Ele até já devia de estar cadáver.” Devem pensar.

BRANQUEAMENTO DO MAU GOVERNO DE XANANA

A campanha de Taur não visa somente o simples contacto de esclarecimento e promocional daquele candidato presidencial Não é só a isso que estamos a assistir. Muito mais que isso é o objetivo que está por detrás: a manipulação e lavagem da sujidade que comporta Xanana Gusmão, reabilitando-o para a continuidade de muitos mais altos voos e até da sua continuidade como PM do próximo governo, a ser eleito meses depois desta eleição ao palácio presidencial. Se tal acontecer veremos Taur sentado num gabinete com vista para a baía de Díli, agora ainda ocupado por Ramos Horta, e Xanana Gusmão quase com as mesmas vistas paisagísticas no denominado palácio do governo, no centro da capital. Afinal as vistas vão ser as mesmas. Isto se ambos vencerem as eleições, e a intenção é essa. Xanana não gosta de perder nem a feijões. Muito menos andou a convencer o general Taur desde há cerca de dois anos a ser o seu candidato para agora ver tudo gorado. Enquanto isso, pela garganta dos criticos de Xanana Gusmão ao longo de quase todo este mandato governativo, estão a escorregar os sapos vivos configurados por Xanana mas tendo por veículo ou vaselina Taur Matan Ruak. A estratégia só não é deslumbrante porque quem dispensou atenção e teve alguma informação sobre o que vai acontecendo em Timor-Leste podia e devia facilmente prevê-la. É que a Taur muito poucos ou nenhuns têm o que de desfavorável lhe apontar e talvez até tenha passado bem despercebido que é um Yes Man relativamente a Xanana Gusmão. Aliás, compreende-se que assim seja porque a ascendência de comandante de Xanana perante Taur Matan Ruak é evidente.

Aos que argumentam que Taur é um homem simples e excecional que lhes inspira total confiança e por isso o apoiam não posso deixar de lhes dar razão e nutrir respeito por aquilo em que acreditam. Na verdade nada há que possam apontar a Taur Matan Ruak que o desfavoreça por aí além. É quase um homem integro… O facto de ter acedido à estratégia de negar ser candidato do CNRT-Xanana Gusmão é que lhe leva mácula porque assim se pode constatar que não mostrou toda a verdade da sua candidatura aos timorenses. Nem ao menos alguma vez tornou claro quem é que o começou a “inquietar” para se candidatar a PR. Se faltou à revelação de factos uma vez… Merece confiança? Se a mácula caiu na sua transparência e algo o ofuscou… Merece confiança? Como dizem os que concordam comigo: “É de ficar de pé atrás porque já vimos algo semelhante acontecer com alguém em quem confiávamos cegamente e até dávamos a vida para o proteger: Xanana Gusmão.”

Nenhuma animosidade contra o general Taur (estava tão bem onde estava, nas F-FDTL) deve ser aqui sentida, porque não existe. O que existe é a defesa intrínseca da transparência sobre como surge candidato. O general Taur não tem sido devidamente transparente. Independentemente de ser muito boa pessoa, muito bom timorense, um resistente e patriota imaculado durante a ocupação indonésia, e o que mais se quiser considerar de positivo, Taur Matan Ruak tinha todas as condições para ser na realidade um candidato forte e independente, que não permitisse a colagem dos feios porcos e maus políticos como o está a fazer. Taur devia pugnar por ter mantido a sua postura imaculada, a sua independência a valer por ele, sem misturas, sem ser usado para lavar a sujeira que está agarrada a Xanana Gusmão e a alguns que o têm acompanhado. Sujeira que já está a contaminar o general-candidato com a sua bonomia, servilismo e plena autorização.

Para bem de Taur Matan Ruak será muito útil que não venha a ser eleito Presidente da República, muito menos se acaso Xanana Gusmão vencer as muito próximas eleições legislativas e continuar como primeiro-ministro todo poderoso… Se tem dúvidas pergunte a Ramos Horta que o esclareça. Ou o general Taur considera que é por acaso que Ramos Horta até tem o desejo secreto de não ser reeleito PR caso Xanana Gusmão volte a ser primeiro-ministro?

Na política nada acontece por acaso e o que parece é.

A HARMONIA PACIFICA DA CAMPANHA ELEITORAL

Anteriormente constam meras observações, constatações e opiniões, principalmente sobre o candidato de Xanana Gusmão, Taur Matan Ruak, por pretender estar envolto na neblina característica do “clima Xanana”, mas para além disso deve ser aqui notado e enaltecido o comportamento dos timorenses nesta campanha eleitoral. A paz reina em Timor-Leste, a harmonia da tolerância não tem sido manchada por acontecimentos violentos, destruidores e assassinos. Casos pontuais de maus comportamentos, excessos, desavenças, são muito poucos. A democracia e o civismo, sobrepõem-se à disputa dos candidatos entre os grupos de apoiantes. De gravidade quase nada existe digno de registo. O que tantos temiam que ressurgisse, a violência, deu lugar ao pacifismo, pelo menos até agora.

A terminar atrevo-me a juntar a esta prosa a opinião de Carlos Tadeu no título que em cima referi, sobre o “casamento” Taur Matan Ruak-Xanana Gusmão:

OPINIÃO PÁGINA GLOBAL

Nada que não fosse previsível, Xanana Gusmão ao lado de Taur Matan Ruak. Falta saber como conseguem os críticos de Xanana Gusmão apoiar em consciência limpa o candidato-general. Em Portugal e em muitas partes do mundo chama-se a isso “engolir elefantes”, ter de “levar a injeção”, “devorar sapos”, em Timor-Leste não sei como se denomina o que neste contexto se está a passar.

Certo é que com legitimidade podem dizer que Taur se aliou ao chefe de um governo corrupto e muito mau governo (os próprios timorenses o acusam) no decorrer destes quase cinco anos de exercício. E sendo assim ainda apoiam Taur Matan Ruak? Mas que consciência terão das consequências de tal ato?

Por aqui, pelo Página Global, mais e melhores entendidos sobre as políticas em Timor-Leste, vêm há quase dois anos anunciando a aliança Xanana Gusmão-Taur Matan Ruak que alguns negaram em comentários, enaltecendo Taur. As evidências do que veio sendo afirmado por nós estão agora à vista de todos. A gravidade das ocultações e mentiras de Taur podem ser constatadas em qualquer publicação que tenha publicado as suas declarações desde há uns tempos a esta parte. Ele nunca assumiu a aliança feita com Xanana Gusmão desde há mais de um ano, pelo menos. Mesmo assim confiam nele? Então concedem que andaram a acusar injustamente Xanana Gusmão e que até chegaram ao ponto de o acusar de traidor indevidamente? Como é possível as pessoas serem tão incoerentes ou difamatórias? Onde está a razão de tudo isto? Na manipulação há muito desenhada e que é uma ratoeira onde os timorenses vão provavelmente cair? O futuro o dirá. (Redação PG – CT)

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