Urariano Mota*, Recife – Direto da Redação
Recife (PE) - A recente denúncia do Ministério Público contra o coronel Curió terminou por mencionar um romance escrito por mim. Da Europa aos Estados Unidos, a ditadura brasileira é manchete. E creiam: na Itália, no desenvolvimento dessa notícia, hoje se mencionou Os Corações Futuristas, um romance escrito por este colunista.
Estranho e contraditório é o mundo. Ou a vida é um magnífico escritor de ironia. Lembro que “Os corações futuristas” foi escrito em um quartinho no quintal da casa onde eu morava, e se completou sem nenhuma esperança de publicação. E de tal modo, que contraí um empréstimo bancário para com ele inaugurar o ano de 2.000, com direito a coquetel e juros que até hoje não saldei. Há exatos seis anos, em 16 de março de 2006, sobre o livro falei em uma entrevista publicada no La Insignia, de onde recupero alguns trechos.
“- Como você teve a inspiração para escrever Os Corações Futuristas?
- A inspiração, nesse caso, se houve, não foi um estalo. Não veio assim de repente, caída no cérebro sem que se esperasse. Os Corações Futuristas é um romance de formação, é a narrativa de uma geração que se fodeu e quis amar sob a pior ditadura brasileira. É o romance de uma época do lema ‘Brasil, ame-o ou deixe-o’. E nós amávamos muito, muito e muito o Brasil. Disse ‘nós’ como num ato falho. Isso é esclarecedor porque Os Corações Futuristas é um livro que veio sendo escrito, sem que disso eu tivesse consciência. A vida vinha escrevendo-o comigo e para mim. Às vezes, eu dizia, numa brincadeira e meio sério, ‘no dia em que eu escrever um livro sobre a militância, ela não vai gostar’. Mas não foi bem assim, porque depois, durante a escrita, vi que meu olhar alcançava tanto a crueldade quanto a compreensão. É o livro sobre a melhor juventude que eu conheci. Uma gente generosa a ponto de jogar a vida pela força das idéias. Mas, ao mesmo tempo, assim impunha a verdade, que eu não podia alisar a cabeça, vendo-a só no heroísmo. Gente capaz de covardias também, de traições sórdidas, porque é dessa massa que a vida é feita.
- Você disse que Os Corações Futuristas fala da melhor juventude que você conheceu. Então podemos dizer que é autobiográfico?
- Todo livro, por mais estranho à pessoa do autor, é autobiográfico, na medida em que fala de uma forma ou de outra sobre acontecimentos ou interesses dele. Mas responder assim é uma fuga, reconheço. A sua pergunta, bem sei, é mais precisa e específica: trata-se de saber onde o autor, a vida do autor, acontecimentos íntimos da sua vida, estão nas páginas ali apresentadas. Sim, mais uma vez, sim, a vida e as pessoas que eu conheci estão em Os Corações Futuristas. Ele é verdadeiro, nada nele é falso, postiço, quero crer. É o mundo da ditadura que eu senti. É o mundo terrível que faz até hoje ex-presos políticos levantarem-se de madrugada, e dizerem para a mulher, ‘arruma a mala, arruma a mala, que a polícia vem aí’.
- Que influência, então, representa viver no Brasil, para sua escrita e a de outros escritores?
- Fundamental. Este é o nosso berço e identidade. E dizer isso não é reivindicar um exclusivismo de nação, uma estreiteza nacionalista. É apenas dizer que estar e viver no Brasil é ir além de um acidente geográfico. É a língua e a vida da nossa infância, são as pessoas e a gente que nos fizeram e que levaremos conosco aonde formos, ainda que não estejam ao lado como pessoas físicas. O ser múltiplo, a gente múltipla da nossa memória. Como pode ver, isso é universal, cada escritor, cada pessoa é história da sua gente, em todo e qualquer lugar do planeta.
O particular da nossa literatura, a diferença, se se busca isso, está em que ninguém poderá falar com mais autoridade sobre a nossa dor quanto nós mesmos. Na literatura não há brazilianistas. Pode haver críticos literários, mas em dor brasileira nenhuma autoridade virá de laboratório exterior...
Pois o Brasil é não só o país do grande futebol e da maravilhosa música popular. O Brasil é uma imensa contradição, é a miséria material e humana que vê o paraíso ao lado, a menos de 50 metros. Combater isso é um pequeno assalto aos céus”.
Na Itália, hoje, o romance volta à notícia aqui Clique aqui
Jamais poderia imaginar que uma denúncia contra o coronel Curió, o bárbaro que cortava cabeças de jovens presos, terminasse por lembrar aqueles corações de futuro.
* É pernambucano, jornalista e autor de "Soledad no Recife", recriação dos últimos dias de Soledad Barret, mulher do cabo Anselmo, executada pela equipe do Delegado Fleury com o auxílio de Anselmo
9 comentários:
Nossa, o coronel Curió está MORRENO DE MEDO DESSAS DENUNCIAS !!
PQP !!! LEI DA ANISTIA AINDA VALE !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
COMUNISTAS BURROS !!!!!!!!!!!!!!
DOS FRACOS NÃO REZARÁ A HISTÓRIA!
Considerar de burros os comunistas é arrogância, é traição, é a negação do próprio ser e da sociedade em que ele vive:
Aqueles que se identificam por inteiro com seus povos e estão dispostos a enfrentar todos os sacrifícios e afrontas dos poderosos delapidadores de património e cúmplices da miséria e da morte, constituem uma prova de amor inteligente, lúcido e que veio para durar até ao fim de suas vidas!
Os burros não têm ética, nem moral e afinal, quantos comunistas não o têm demonstrado terem-nas até ao limite do sacrifício de suas próprias vidas?!
Dos fracos não rezará a história!
A teoria marxista da “ideologia de classe” não tem pé nem cabeça. Ou a ideologia do sujeito traduz necessariamente os interesses da classe a que ele pertence, ou ele está livre para tornar-se advogado de alguma outra classe. Na primeira hipótese, jamais surgiria um comunista entre os burgueses e Karl Marx jamais teria sido Karl Marx. Na segunda, não há vínculo entre a ideologia e a condição social do indivíduo e não há portanto ideologia de classe: há apenas a ideologia pessoal que cada um atribui à classe com que simpatiza, construindo depois, por mera inversão dessa fantasia, a suposta ideologia da classe adversária. Uma teoria que pode ser demolida em sete linhas não vale cinco, mas com base nela já se matou tanta gente, já se destruiu tanto patrimônio da humanidade e sobretudo já se gastou tanto dinheiro em subsídios universitários, que é preciso continuar a fingir que se acredita nela, para não admitir o vexame.
Olavo de Carvalho
É verdade, comunistas não são burros e imorais. Basta vermos os belos exemplos de grandes personalidade como Stálin, Mao, Pol pot, Kim Il-Sung e até o próprio Lênin, o primeiro a encher os gulags de dissidentes.
Ah, eles não eram comunistas de verdade, vc vai dizer. Eu sei, é o que dirão do Fidel, depois de ele e o irmão irem para as covas, E OS CRIMES CONTRA O POVO CUBANO COMETIDOS POR ELES ficarem completamente escancarados.
" O juiz federal João César Otoni de Matos, de Marabá, rejeitou no início da tarde desta sexta-feira (16) denúncia oferecida pelo Ministério Público Federal (MPF) contra o coronel da reserva Sebastião Rodrigues de Moura, que ficou conhecido como major Curió, pelo crime de sequestro qualificado contra cinco militantes, capturados durante a repressão à guerrilha do Araguaia, na década de 70, e até hoje desaparecidos. A denúncia foi distribuída para a 2ª Vara Federal de Marabá, pela qual o magistrado, que é titular da 1ª, está respondendo.
Como fundamento para a rejeição da denúncia, o magistrado valeu-se da Lei da Anistia, em vigor desde 1979, e que anistiou os supostos autores de crimes políticos ocorridos de 02 de setembro de 1961 e 15 de agosto de 1979, período que abrangeu a ditadura militar instaurada a partir do golpe militar de 1964."
“Pretender, depois de mais de três décadas, esquivar-se da Lei da Anistia para reabrir a discussão sobre crimes praticados no período da ditadura militar é equívoco que, além de desprovido de suporte legal, desconsidera as circunstâncias históricas que, num grande esforço de reconciliação nacional, levaram à sua edição”, diz o juiz João César Matos.
Na denúncia, o MPF relata que cinco pessoas - Maria Célia Corrêa (Rosinha), Hélio Luiz Navarro Magalhães (Edinho), Daniel Ribeiro Callado (Doca), Antônio de Pádua Costa (Piauí) e Telma Regina Cordeira Corrêa (Lia) - foram sequestradas por tropas comandadas pelo major Curió entre janeiro e setembro de 1974 e, após levados às bases militares coordenadas por ele e submetidos a grave sofrimento físico e moral, nunca mais foram encontrados. O juiz federal João César Matos ressalta que o MPF não fez referência, na denúncia, “a documento ou elemento concreto que pudesse, mesmo a título indiciário, fornecer algum suporte à genérica alegação de que os desaparecidos a que se refere teriam sido - e permaneceriam até hoje - seqüestrados.”
Para o magistrado, no caso objeto da denúncia do MPF, não basta, para configurar o crime de seqüestro previsto no artigo 148 do Código Penal Brasileiro, apenas o fato de os corpos dos desaparecidos não terem sido localizados.
“Aliás, dada a estrutura do tipo do seqüestro, é de se questionar: sustenta o parquet [Ministério Público] que os desaparecidos, trinta e tantos anos depois, permanecem em cativeiro, sob cárcere imposto pelo denunciado? A lógica desafia a argumentação exposta na denúncia”, diz o juiz federal.
João César Matos acrescenta ainda que até mesmo se for admitida, apenas por hipótese, a presença de indícios do crime de sequestro supostamente praticado pelo Major Curió, a pretensão punitiva já estaria prescrita, ou seja, o Estado não poderia mais puni-lo. Isso porque, segundo o magistrado, “diante do contexto em que se deram os fatos e da extrema probabilidade de morte dos desaparecidos, haveria mesmo de se presumir a ocorrência desse evento morte.”
Além disso, ressalta o juiz federal, “os desaparecidos mencionados na denúncia do Ministério Público Federal foram oficialmente reconhecidos como mortos pelo artigo 1º da Lei nº 9.140, de 04.12.1995, data que seria, então, o termo inicial do prazo prescricional relativamente ao delito do artigo 148 do CP [sequestro], cuja pena máxima, na forma do seu parágrafo 1º, é de oito anos”.
João César Otoni de Matos também rebateu os argumentos segundo os quais o julgamento proferido pelo Corte Internacional dos Direitos Humanos teria a força para afastar a aplicação da Lei de Anistia em casos como os relatados na denúncia oferecida contra o Major Curió.
O magistrado sustentou que a Lei da Anistia “operou, para situações concretas e específicas, efeitos imediatos e voltados para o passado”. Referiu-se ainda a entendimento do ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal Eros Grau, para quem a Lei da Anistia “tratou de uma lei-medida, não de uma regra genérica e abstrata para o futuro”.
Desse modo, afirma João César Matos, não poderia mesmo um julgamento posterior, como o da Corte Internacional dos Direitos Humanos, “fundado em convenção internacional, pretender retroagir mais de 30 anos para desfazer os efeitos produzidos e exauridos na esfera penal pelo mencionado ato normativo”.
EM OUTRAS PALAVRAS .... COMUNISTAS BURROS !!!!
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