quinta-feira, 1 de março de 2012

HÁ MAIS VIDA PARA ALÉM DA CRISE ATRAVÉS DA TERAPIA DA DECORAÇÃO



Helena Ricoli*

Os afazeres profissionais, a labuta pela vida, por um emprego e por manter a nossa casa para que não fiquemos sem ela é a principal ocupação e preocupação destes meses, anos, em que a crise se estabeleceu em Portugal, na Europa e em muitos países do mundo. Parece que por larga temporada vai ser assim. Temos de reagir para alterar este défice de justiça e de democracia que nos é imposto por um PR e um governo insensíveis, mentirosos e hipócritas. Temos de zelar por nós e saber exigir decoro.

Nas atuais circunstâncias, em que o desemprego e a precariedade laboral ameaçam mais de dois terços de portugueses poderá parecer inusitado vir aqui defender a necessidade de mais conforto em nossas casas mas certamente que quem fizer a experiencia de se interessar por encontrar mais conforto e bem-estar no local que habita decerto que me vai dar razão. Note-se que não constará aqui proposta para que gaste dinheiro. Não. O que nos poderá causar mais conforto no lar pode ser movimentar um simples adereço, um móvel, uma banal mudança da disposição dos objetos que adquirimos e que podemos jogar com eles como peças de um jogo retirando-as de um canto para colocar noutro, racionalizando de outra forma o mesmo espaço. Para quem tiver crianças esta operação deve tomá-las em consideração e privilegiar mais espaço livre em que possam movimentar-se. Tudo isso nos causará muito mais conforto.

Há ainda vantagem de ocuparmos o nosso tempo livre em algo agradável e que é exclusivamente para nós, para a nossa família. Melhor ainda se tiver guardado velharias, objetos e “panos” que arrecadou, e que afinal estão sempre disponíveis para os remodelar e lhes dar uso. Verá que a sua imaginação conseguirá ser fértil e com as “velharias” conseguirá um recanto mais agradável que lhe dará prazer olhar. Não duvide que isso é o sinónimo de mais conforto. Simples, sem custos, e agradável para si.

Vá ver o que tem na arrecadação, nas gavetas que raramente usa, na despensa ou na marquise. Parta à descoberta dos objectos que já esqueceu que existem. Eles estão onde os abandonou, sempre dispostos a proporcionar-lhe conforto e muito provavelmente a despoletar em si boas recordações de pessoas e ocasiões em que os adquiriu ou lhe ofereceram.

Ao menos nesse tempo esquecerá a crise e os “apertos” que ela está a causar a tantos milhões de portugueses. Parta à descoberta da sua casa e do seu conforto. Pobrete e alegrete quer dizer isso mesmo. Sermos capazes de encontrar felicidade através de coisas simples. Não podemos esquecer as potencialidades da terapia da decoração que mais nos agrada.

Todos nós sabemos das injustiças de que estamos a ser vítimas para que uns quantos no mundo e em Portugal (que é a parte que nos cabe) enriqueçam à custa do nosso empobrecimento. Todos sabemos que os políticos estão ao serviço desses que enriquecem e que eles próprios colhem chorudos benefícios das medidas e ações que tomam e nos são prejudiciais, contudo não podemos estar a pensar só nisso, devemos pensar também em nós, nos que estão nas mesmas circunstâncias e adquirir energias para dar luta em defesa do bem comum que é o nosso país. Mas primeiro devemos arrumar a nossa casa, torná-la ainda mais confortável. Depois vamos à luta por uma vida melhor, num país e num mundo muito melhor, mais justo e democrático. Não nos podemos abandalhar e dar tudo por perdido. Há mais vida para além da crise.

Não esqueçamos os portugueses que já perderam as suas casas e que hoje partilham a fome entre muitos nessas circunstâncias. Esses já não podem dispor dos seus espaços por não os possuírem. Cabe aos que ainda não chegaram a fase tão má na vida saber ser solidários. Cabe-nos a nós dar as mãos aos mais carenciados, às maiores vítimas desta horrenda crise que havemos de vencer.

*Helena Ricoli é decoradora, escreve para revistas da especialidade e começa aqui a sua colaboração no Página Global

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