Diário de Notícias
Incidentes na greve de 22 de março estão bem presentes na memória de quem manda nas forças de segurança. Ordem aos agentes é para que nenhum sinal de ameaça seja desvalorizado. Este é um dos temas abordados na edição de hoje do DN.
Com o 38.º aniversário do 25 de Abril a aproximar-se, assim como a celebração do 1. º de Maio, a PSP recebeu a orientação de impedir todos os desfiles ou ações de rua que não obedeçam aos procedimentos legais para a sua realização. É uma reação ao que sucedeu a 22 de março, dia da última greve geral. Uma avaliação operacional feita pela PSP deu conta da desvalorização de sinais relevantes sobre ameaças à ordem pública, erro que não deverá ser repetido pelos agentes.
Já numa entrevista à Antena 1, o inspetor nacional da PSP, Magina da Silva, que coordenou a auditoria à operação do 22 de março, reconhecera que “o potencial de violência e desordem não teve o tratamento necessário”. Ao mesmo tempo, alertou que a PSP terá tolerância zero para novas manifestações por parte de grupos identificados como potencialmente desordeiros.
Sangue-frio e nervos de aço
Diário de Notícias, opinião
As manifestações do 38.º aniversário do 25 de Abril decorrerão tendo as autoridades de segurança a pairar sobre si o fantasma dos incidentes ocorridos durante a greve geral de 22 de março.
A PSP já se prepara para o evento e, aparentemente, decidiu um procedimento de "tolerância zero" em relações a todos os que alinhem em comportamentos perturbadores da ordem pública. É bom que assim seja. No 25 de Abril celebra-se a Liberdade - e quando se celebra a Liberdade celebra-se também a Responsabilidade.
Acontece que, na greve geral, emergiram nas forças policiais - ou em alguns dos seus agentes - sinais de um evidente nervosismo. Foram agredidas pessoas que não tinham de o ser (jornalistas, transeuntes). E tendo esses excessos sido tornados públicos, ficou para o mundo a imagem de um país a ferro e fogo - uma imagem que reflete tudo menos a verdade dos factos em Portugal. Pois apesar das medidas de austeridade para resolver o problema da dívida tem sido possível preservar a paz social.
Por responsabilidade exclusivamente própria, a atuação das forças de segurança terá no 25 de Abril - e até talvez mais depois no 1.º de Maio - todos os olhos sobre si. Convém então que os agentes, cuja missão é muito importante, se munam de doses extras de sangue-frio e nervos de aço. Distinguindo o trigo do joio - e, na dúvida, julgando pelo mais sábio dos princípios de uma Justiça democrática: in dubio pro reo (na dúvida, a favor do réu).
As forças da segurança portuguesas estão ao serviço da comunidade nacional e a comunidade nacional agradece que não se transmita do País uma imagem errada.
Opinião Página Global
O discurso da PSP por mais bem intencionado que possa querer parecer tem um tinir de provocação para os que, mais jovens ou “guerreiros”, mais indignados e revoltados, tomem dele conhecimento. Esta é a técnica errada e que está ausente dos manuais de uma polícia numa sociedade civilizada e democrática.
Em vez de apelar aos usos e costumes da Festa de Abril, que sempre foram pacíficos, vem ameaçar à boa maneira de Passos Coelho poucos dias após ter tomado posse como primeiro-ministro. É a postura de botas cardadas usada durante a vigência de Cavaco Silva em primeiro-ministro – por dez anos – e que agora regressa com este bando de mentirosos ressabiados.
A PSP deve representar o civismo e o discurso correto e não a “gerra preventiva” que nos mostra e que parece ter por objetivos provocar para criar um ambiente animoso, de confrontação de palavras que levam aos confrontos físicos tantas vezes exacerbados pelos próprios agentes, como vimos no passado dia 22 de Março no Chiado. Acrescente-se a isto a falta de verdade nas conclusões a que chegam nos inquéritos e a impunidade de agentes que vimos atuarem selvaticamente, sem desculpas, de modo inadmissível, assim devendo ser considerado pelas chefias se a PSP tivesse o decoro e o profissionalismo que os cidadãos esperam.
Este é o discurso de um responsável da PSP igualmente “guerreiro” que até parece que se péla por confrontações com os jovens mais exaltados, obediente que é às ordens cegas de um governo de botas cardadas que nada tem que ver com democracia, com justiça e liberdade… Que é afinal o que se pretende comemorar.
Curiosamente alguns extratos da comunicação social vai nas loas. Não vêem manuais nem interpelam sobre os procedimentos cívicos e profiláticos a que a polícia está obrigada. Em vez disso faz a publicidade ao discurso musculado que se percebe por entre linhas dos que têm responsabilidades acrescidas relativamente ao bem-estar e proteção dos cidadãos. Ao cumprimento daquilo que reza na Constituição da República Portuguesa, a quem as polícias devem servir e não aos governos mais ou menos musculados. Firmeza, civismo e respeito pelos cidadãos é aquilo que se pretende de uma polícia numa sociedade democrática e não o servilismo cego a governos boçais, de políticos desonestos, tementes da verdade, injustos e antidemocráticos. Tudo, afinal, à espera de uma promoção, umas migalhas, que um qualquer ministro possa distribuir. Dignidade e sabedoria ajudam a conservar a ordem pública. Ameaças e provocações, ou o que possa ser assim interpretado é que não.
Aos jovens belicosos, mais ou menos violentos, mais ou menos indignados, também se deve pedir sabedoria e contenção. Que sejam indiferentes às provocações, que se lembrem que há muitos portugueses com fome e que os ovos são um alimento importante que não deve ser desperdiçado em arremessos que nada resolvem e até podem prejudicar inocentes e famintos. (Redação PG – LV)
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