Orlando Castro*, jornalista – Alto Hama*
Portugal continua a ser um dos países mais desiguais do mundo desenvolvido, com um fosso acentuado na distribuição dos rendimentos, e o mais desigual entre as economias europeias, diz a OCDE.
“Porreiro, pá!”, comentou Passos Coelho virado para o seu ministro das Finanças que, perante isso, riu a bandeiras despregadas e desabafou: “Não é para isso que cá estamos?” Coelho acrescentou: “E se para disfarçar fôssemos ao Pingo Doce?’
De acordo com o estudo "Divided We Stand: Why Inequality Keeps Rising", da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), o fosso entre ricos e pobres atingiu o nível mais elevado dos últimos 30 anos.
Bem que a OCDE poderia ser mais exacta, já que o estudo não traz nenhuma novidade, dizendo que o fosso é entre os donos do reino e os escravos.
De acordo com vários indicadores, Portugal continua a ser um dos países mais desiguais do mundo desenvolvido (tão desenvolvido que está cada vez mais próximo do Burkina Faso), em que os 20 por cento mais ricos têm rendimentos seis vezes superiores (6,1) aos dos 20 por cento mais pobres.
Entre outras conclusões, o estudo destaca ainda que o rendimento de 10 por cento da população mais rica é agora nove vezes mais alto do que o das pessoas colocadas entre os 10 por cento mais pobres na generalidade dos países da região.
São pelo um milhão e duzentos mil os desempregados, 20 por cento os pobres e outros tantos os que já têm saudades de ver os pratos com alguma coisa dentro, mesmo indo ao Pingo Doce. São, reconheça-se, o fruto de anos de governação de José Sócrates, agora potenciados (e de que maneira!) pelos novos sobas do reino.
A taxa de desemprego entre os escravos continua a medrar. Mesmo assim, abona a favor das políticas de Passos Coelho o facto de não existir desemprego nos que têm emprego, nos reformados, nos estudantes, nos que já morreram…
A cartilha do PSD que está no governo é, aliás, bem clara na estratégia de tratar a maioria dos portugueses como trata a maioria dos escravos: mentecaptos.
Seja como for, pelo menos os deputados da maioria que apoia o soba aplaudem, o que se calhar é normal... Aliás, cada vez mais, o que é normal para Pedro Passos Coelho e acólitos não o é para o país. A seriedade e o rigor não são, nunca foram, compatíveis com o primeiro-ministro.
Brincando política e mentalmente ao pé-coxinho com os portugueses, Passos Coelho sacode a água do capote e veste a farda do político impoluto que, no mínimo, se assemelha a Deus e que só não fez mais pelos seus servos porque os portugueses teimam em não aprender a viver sem comer.
Quem reduziu os salários, quem congelou as pensões, quem pôs Portugal com uma mão atrás e outra à frente (ambas vazias), foi Sócrates, mas quem os pôs a pão e água, na melhor das alternativas, a farelo e sujeito a porrada se refilarem, foi Passos Coelho.
Portugal, pelos vistos, nunca teve um tão bom primeiro-ministro como o que tem agora. Ainda não ouvi Passos Coelho dizer, mas se não o disse vai dizê-lo em breve, que "está para nascer um primeiro-ministro que tenha conseguido de forma tão rápida e eficaz instituir em Portugal o esclavagismo”.
E quando assim é, e quando os portugueses não se importam que assim seja, o melhor é nomear uma comissão liquidatária.
Passos Coelho aposta tudo numa máquina que é capaz de projectar comida no pratos dos portugueses. E a projecção lá está. Mas a comida não.
Passos Coelho conseguiu aumentar o desemprego, a dívida pública e a pobreza. Apesar disso, com os seus apaniguados a bater palmas numa orgia colectiva, quer aparecer como o salvador da pátria, cantando e rindo no convés de um navio que, também por sua culpa, se afunda a olhos vistos.
E, ao que parece, os portugueses continuam a manter bem vivo o adágio que diz: “quanto mais me bates, mais eu gosto de ti”.
E a ser assim, parafraseando Passos Coelho, ainda está para nascer um povo que consiga contar até 12 sem ter de se descalçar...
* Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.
Título anterior do autor, compilado em Página Global: O MEU JORNALISMO INTERPRETATIVO
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