terça-feira, 29 de maio de 2012

RELVAS DANINHAS




Tiago Mesquita – Expresso, opinião, em Blogues

Depois de tudo o que se tem sabido em relação a Miguel Relvas, aparentemente ainda ministro dos assuntos parlamentares, a única coisa que me apetecia fazer era borrifá-lo de cima a baixo com herbicida industrial.

Relvas transformou-se num gigantesco emaranhado de ervas daninhas, um novelo que mina todo o governo, já de si fraco e desgastado. Um cancro no seio do executivo que ameaça alastra-se, imparável e incurável, contagiando e minando tudo e todos. Notícia atrás de notícia. Facto ou dúvida atrás de incoerência ou imprecisão. A verdade (a falta dela) é que Miguel Relvas garantiu no Parlamento que nem ele nem ninguém do seu gabinete (e ninguém o obrigou a falar pelos outros) havia mantido contactos com o antigo director das secretas. Ignorante ou não relativamente a assunto - faltou à verdade. Ou não?

Ouço dizer que Passos Coelho devia deixar cair Relvas, mas o caso parece ser ao contrário. Passos encontra-se (estranhamente) refém de Relvas. E Relvas não parece interessado em deixar o lugar com a facilidade que um qualquer país democrático exigiria numa situação remotamente parecida.

Jorge Coelho veio a terreiro dizer que Relvas "é um amigo de longa data". Uma afirmação que me deixa ainda mais aterrorizado. Se tivesse de escolher um Relvas na família política socialista apontava precisamente a Jorge Coelho.

As estranhas ligações, o relacionamento duvidoso, as muitas contradições sobre o envolvimento entre o ministro e o ex-director do SIED e antigo quadro da Ongoing - Jorge Silva Carvalho - e a alegada ameaça feita num telefonema à editora de política do PÚBLICO e à jornalista que cobre o caso das escutas, num país a sério, levariam à demissão imediata deste senhor. Pelo próprio pé ou convidado a sair.

Mas em Portugal, neste pedaço político sul-americano à beira mar plantado Relvas dá-se ao luxo de afirmar que vai "sair mais forte" deste caso. Ao defunto político é-lhe indiferente se a imagem do governo e do país são beliscadas no processo desde que possa permanecer no cargo que acha ser seu por direito inalienável. Miguel Relvas é, para mim, uma vergonha de político.

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