sábado, 23 de junho de 2012

Estudo revela: FALTA DE PAZ E SEGURANÇA NA GUINÉ-BISSAU


Boa parte da comunidade internacional não reconhece o governo de transição da Guiné-Bissau e abandonou os projectos de ajuda ao país


A Guiné-Bissau continua a ter uma enorme quantidade de situações problemáticas que a impedem de viver em paz e segurança, avalia o Instituto de Economia e Pesquisa, responsável pelo Índice Global da Paz.

Apesar de já existir um governo de transição na Guiné-Bissau, depois do golpe de Estado de 12 de abril, a situação ainda não voltou ao normal. Boa parte da comunidade internacional não reconhece o atual governo e abandonou os projectos de ajuda ao país.

Também a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), organização da qual a Guiné faz parte, não aceita bem o governo de transição e continua a fazer pressões para que seja restaurada a legalidade constitucional.

Ao nível interno, o PAIGC, partido no poder na Guiné-Bissau até o golpe de Estado, boicota as sessões parlamentares e permance um clima de acusações entre os políticos. Esta instabilidade política afecta muito a vida dos guineenses, pondo em risco as frágeis paz e segurança.

Desafios a superar, aspectos positivos a serem destacados

O país foi avaliado, pela primeira vez, este ano, pelo Índice de Paz Global (GPI), e entrou directamante para a posição 96 de um total de 158 lugares.

Para Daniel Hyslop, pesquisador do Instituto de Economia e Paz, responsável pelo GPI, há muitos desafios negativos a serem superados. "A Guiné-Bissau tem uma alta taxa de assassinatos, tem alto acesso a armas de pequeno porte, tem um nível alto de conflitos internos, altos níveis de demonstrações violêntas e crimes violentos", relata.

O pesquisado destaca também aspectos positivos que devem ser explorados. "Há um nível de terrorismo baixo e níveis baixos de encarceramento, embora isso seja um sinal do fraco papel da sociedade civil", avalia.

Comunidade internacional dividida

A falta de uma posição única por parte de organizações internacionais dificulta uma solução para a crise na Guiné, considera Hyslop. Por um lado, as Nações Unidas e a União Africana (UA) exigem soluções democráticas, em última instância com apelo a sanções aos comandos militares golpistas, tal como vem fazendo Portugal.

Por outro, a Comunidade Económica de Estados da África Ocidental (CEDEAO) apoia o atual governo. Este posicionamento não é bem visto por Angola, segundo palavras do seu ministro dos Negócios Estrangeiros, Georges Chikoti, que afirma ter dúvidas "se de facto a CEDEAO insiste, da mesma maneira como nós insistimos, de que, tendo havido um golpe de Estado, não reconheceríamos outras entidades que aquelas que foram golpeadas".

Angola na 95ª posição do GPI

Angola, por sua vez, não se distancia muito da Guiné-Bissau, segundo o GPI. Ocupa a 95ª posição na tabela do índice. Em Agosto próximo, realizam-se eleições gerais no país, que são antecedidas por alguma turbulência no meio político local.

Mas, George Chikoti garante que a paz veio para ficar em seu país. "Já deixamos a experiência da guerra para trás. Os últimos dez anos mostraram que os angolanos todos querem a paz", afirma.

Apesar do amplo leque de partidos políticos, "ninguém acredita que a única via de adquirir o poder é a via armada", diz. O ministro pensa ser esta uma questão essencial e finaliza "vamos continuar a apostar na paz".

O Instituto de Economia e Paz vai no mesmo diapasão. O pesquisador Daniel Hyslop aponta melhorias que contribuem para a estabilização da paz em Angola. "Angola é um dos países que mais progressos registou nos últimos cinco anos no GPI, em termos de militarização houve um decréscimo, tal como o terrorismo político. Os individuos podem expressar as suas opiniões sem medo", garante.

Autora: Nádia Issufo - Edição: Cristiane Vieira Teixeira/António Rocha

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