sábado, 16 de junho de 2012

“VISÃO 2050” PARA O MUNDO E A SADC! – II



Martinho Júnior, Luanda

Para África a planificação geo estratégica integrada e sustentada tem na água interior e nas florestas duas das linhas de força vitais a considerar.

Como alcançar desenvolvimento sustentável a muito longo prazo a partir da economia desses recursos, havendo já a noção básica das suas limitações, em parte devido às pressões derivadas do crescimento da população e de suas actividades, em parte devido ao crescimento dos grandes desertos africanos em função das alterações climáticas globais?

O segundo passo, depois do inventário com início da investigação, refere-se substancialmente à necessidade de mobilização dos povos; sem essa mobilização, tirando partido dos conhecimentos que se forem adquirindo e acumulando, será impossível garantir os equilíbrios indispensáveis para com o ambiente, de acordo com o respeito devido à Mãe Terra e com os interesses das futuras gerações, elas próprias carentes dos equilíbrios que só se poderão alcançar fora da lógica capitalista!

4 ) África portanto é uma das principais vítimas do processo capitalista que a impacta agora com a globalização neo liberal, tendo em conta o subdesenvolvimento crónico que afecta os povos do continente e é a própria ONU, por via da FAO, que desde Roma lança o alerta: “o Desenvolvimento Sustentável não pode ser realizado se a fome e a desnutrição não forem erradicadas” (http://www.rio20.info/2012/noticias-2/o-desenvolvimento-sustentavel-nao-pode-ser-realizado-se-a-fome-e-a-desnutricao-nao-forem-erradicadas)!

Perante a incompatibilidade duma planificação geo estratégica fundamentada numa lógica capitalista, África é o continente mais vulnerável face às ingerências e manipulações que se mantêm, ingerências e manipulações filtradas por via das elites quantas vezes agenciadas pelos interesses da hegemonia, elites que procuram fugir aos novos parâmetros nascentes, preocupadas em garantir o futuro de seus interesses egoístas alinhados e das gerações que diretamente se lhes seguirão.

Plasma-se um mundo carregado de contradições, em função do que escapa ao essencial que é a garantia de vida, ao sentido da vida, sobretudo no que diz respeito à gestão da água e das florestas tropicais do planeta, para responder à lógica do capital e do seu “mercado”, uma lógica ao serviço das elites forjadas no lucro, na especulação, nas tensões, nos desequilíbrios, nas assimetrias e nas guerras, as elites que contribuem para o fomento do subdesenvolvimento e nada motivadas para a sustentabilidade do “desenvolvimento verde”, completamente livre dos venenos com origem humana estimulados desde a Revolução Industrial.

A água não é “fonte de vida”, a água é a vida e uma planificação geo estratégica integrada e sustentada terá de estar alerta para com a lógica capitalista que é tão do agrado das elites correntes forjadas no presente modelo de globalização capitalista e neo liberal! (“How green economy depends on water” – http://www.unwater.org/downloads/Report_Prepcom2_Side_Event_Water_GreenEconomy.pdf).

A sustentabilidade só poderá assumir-se quando todos estão dispostos a mobilizar todo o espectro social em torno dum bem comum vital, a começar desde logo na abertura aos conhecimentos relacionados com o ambiente, o clima, a água, as florestas, com a multiplicidade de ciências que estudam a natureza e o homem, visando a planificação geo estratégica que garanta um mundo que possa realmente ser vivido pelas futuras gerações pelo menos ao nível do que hoje ainda acontece.

Uma visão redutora, em função dos interesses e do egoísmo das elites, nunca será planificação geo estratégica integrada e sustentada, nem dará acesso ao “desenvolvimento verde”, pelo que essa planificação só poderá ser feita fora do quadro propiciado pela lógica capitalista, um quadro fundamentado no inventário cientificado dos recursos, pois o conhecimento reside no homem e só o homem poderá melhor (ou pior) decidir sobre ele.

O esforço de investigação e conhecimento é vanguarda do resgate que deve orientar África na luta contra o subdesenvolvimento (“Water Report on Water Resources Management for Rio+20” – http://www.unwater.org/rio2012/report/index.html), pelo que o inventário e conhecimento sobre os recursos, torna-se a chave para o futuro.

A planificação geo estratégica integrada e sustentada, rumo ao “desenvolvimento verde”, é o primeiro grande passo na luta contra o subdesenvolvimento crônico e isso deve mobilizar a inteligência dos povos e por fim de todas as sociedades (“A water toolbox or Best practice guide of actions” – http://www.unwater.org/downloads/water_toolbox_for_rio20.pdf).

5 ) Para a região SADC, que abrange o vasto sul do continente africano, bem como Madagáscar e outros pequenos arquipélagos do Índico Sul, a integração começa finalmente a ser a maior preocupação geo estratégica (“SADC lança estratégica visão a longo prazo” – http://jornaldeangola.sapo.ao/20/0/sadc_lanca_estrategia_visao_de_longo_prazo), e por isso está sobre a mesa a possibilidade do debate sobre o que é sustentabilidade no âmbito do “desenvolvimento verde”, que quanto a mim, é um dos maiores desafios para a África Austral.

Para uma planificação geo estratégica integrada e sustentada, é fundamental à SADC realizar um estudo continuado de todos os seus recursos físico-geográficos e desde logo sobre as questões que se relacionam, directa e indirectamente com a água e as florestas.

Desse modo deve-se acabar com as tendências elitistas que influem na aquisição do conhecimento, na gestão dos recursos, nos segredos guardados durante séculos por causa da ambição de domínio com carácter de feudal, bem como na investigação e estudo do encadeado dos fenómenos.

Esse comportamento tem sido de certo modo mantido pelas elites sul africanas desde que Cecil John Rhodes implementou o plano imperialista inspirado nos conhecimentos científicos e tecnológicos conformes, entre outras, à Universidade de Oxford.

Apesar do fim institucional do “apartheid”, a emergência sul africana ainda não teve capacidades para ultrapassar essa “chancela” que advém desde as origens da União Sul Africana: ainda que o conhecimento esteja a ser disseminado a outros sectores da sociedade, não está ultrapassado o complexo motivado pelo elitismo económico e financeiro!

O plano “do Cabo ao Cairo”, bem como a presença mais recente (mas já com mais de 50 anos) na Antárctida, (a África do Sul é o único país africano presente no continente gelado), obrigam ao inventário de recursos, tal como à investigação multi-sectorial de todos eles, a começar pelo que é vital, a água, mas a África do Sul, melhor as suas elites, as que fazem parte da sua inteligência, indiciam em pleno século XXI, que pretendem utilizar esses conhecimentos em função da tendência anglo-saxónica de domínio a muito longo prazo, uma questão sócio-cultural abrangente, incompatível com as urgentes soluções que se torna necessário encontrar para muitas questões que se prendem com a “nossa casa comum”!

A África do Sul é um país africano onde se realizou a Revolução Industrial, onde ocorre também a Revolução Tecnológica de “última geração”, sobretudo por que desde o final do século XIX teve elites ambiciosas que cientificaram os conhecimentos que ciosamente continuam a guardar, escondendo de outros, por que precisamente pretendem manter o domínio que daí advém, sobre os estados, as sociedades e os povos dentro da África do Sul e desde logo em toda a vasta região austral do continente.

Alterar a assimetria do conhecimento tão evidente na África Austral é outro dos pormenores implícitos no primeiro passo que se deve dar no quadro da SADC, se realmente se quiser implementar uma geo estratégia integrada e sustentada com base nos recursos existentes, assumindo uma atitude muito crítica em relação às actuais assimetrias próprias do capitalismo!

Há um abismo de conhecimentos adquiridos e acumulados entre as universidades sul africanas que se assumiram influenciadas pelas elites formadas a partir da Revolução Industrial e, por exemplo, as pouco expressivas elites do Congo.

Esse fenómeno terá de ser ultrapassado também por via da extensão da investigação científica a todos os componentes da SADC e muito particularmente integrando as universidades e institutos superiores de investigação daqueles países onde correm as bacias tropicais dos grandes rios como o Congo, o Zambeze, o Okawango…

A emergência da África do Sul, que é a última componente dos BRICS, sê-lo-á quando o conhecimento for efectivamente uma causa solidária para toda a SADC e não uma forma de continuada manipulação das elites.

6 ) Neste momento a planificação geo estratégica na SADC é irrisória nas suas ambições: limita-se a um pouco mais que o “Programa Regional de Desenvolvimento de Infra-estruturas da SADC”, precisamente por que se continua a perseguir uma via de planificação indexada à lógica capitalista em vigor, o que convém às poderosas elites sul africanas, uma parte delas integrando o poderoso “lobby dos minerais” que a influenciam e às potências sustentáculo da hegemonia!

O Botswana é um “produto acabado” dessa “extensão” e o peso da De Beers, via Debswana é a coluna vertebral dos programas elitistas, explorando a velha trilha da “British South Africa Company”, adaptada ao século XXI.

A orientação para os Parques Transfronteiriços da Paz, é uma aplicação inteligente dessa “extensão”, onde o conhecimento científico e da investigação, é um quase monopólio do sistema formado pelas Universidades e Institutos de Investigação sul africanos.

7 ) A SADC possui água em abundância, apesar da existência de desertos como o Kalahári e o Namibe, mas muito pouco se inventaria e se investiga com a inteligência autóctone, por exemplo sobre as bacias mais decisivas de África (a do Congo e a do Zambeze), o que acaba também por não beneficiar a África do Sul nos seus relacionamentos a norte

A água de África está nos oceanos, nos rios e nos lagos interiores, estabelecendo-se entre todas as regiões geográficas inter-influências, que constituem um ambiente complexo, original, único, no espaço SADC:

- A água de dois oceanos, o Índico Sul e o Atlântico Sul;

- A água no interior, em bacias hidrográficas extensas e em lagos de grandes dimensões.

Garantir o estudo sobre a região, por exemplo, da origem da corrente fria de Benguela, é um assunto que interessa a toda a SADC, mas só a África do Sul o faz de forma sistemática, desde a sua presença entre os pioneiros da Antárctida!

Estabelecerem-se Parques Naturais em regiões onde há interesses elitistas com base na “plataforma” que é o Botswana, esquecendo-se da necessidade de, desde logo, se garantir a protecção ambiental, o estudo e a investigação das nascentes dos grandes rios africanos e dos seus principais afluentes, para depois se alargar esse esforço aos fluxos intermédios desses rios e por fim aos expedientes transfronteiriços ora privilegiados.

Inverteram-se as prioridades para uma planificação geo estratégica integrada e sustentada a longo prazo, por causa da influência e dos interesses da elite sul africana, incluindo aquela que detém o conhecimento!

Desde já a aceitação pacífica desse critério é aceitar que as geo estratégicas sejam promovidas precisamente ao contrário, em função dos estímulos sugeridos a partir do elitismo cultivado desde o século XIX na África do Sul!

É sobre esses recursos que as inteligências de todos os povos que compõem a SADC devem despertar, mobilizando as suas Universidades e Institutos Superiores, mobilizando meios e recursos, a fim de chegar à planificação geo estratégica integrada e sustentada que garante o “desenvolvimento verde”, a fórmula compatível com o sentido de vida, ao contrário dos caminhos que têm sido estimulados pelos processos de que se serve a hegemonia gerada pelo capitalismo desde os tempos de Cecil John Rhodes!

A integração na SADC só será efectivamente um facto garantido a partir do momento que com conhecimento solidário a inteligência seja promovida por todos os componentes e a mobilização dos povos seja feita em completa consonância com o respeito devido à Mãe Terra!

Relacionado:

Mais algumas pistas para abordagem:
- Keeping track of our changing environment – from Rio to Rio+20 – 1992 – 2012 – http://www.unep.org/geo/pdfs/keeping_track.pdf

2 comentários:

Anónimo disse...

A cimeira da hipocrisia global
por Fausto Arruda
Na segunda quinzena de junho, chefes de Estado do mundo inteiro estarão no Rio de Janeiro para um convescote [1] que tem tudo para ser mais uma atividade diversionista para encobrir os reais e mais candentes problemas que a humanidade enfrenta nos dias atuais.

Fome, peste e guerra

http://resistir.info/climatologia/hipocrisia_global.html

Anónimo disse...

A cimeira da hipocrisia global
por Fausto Arruda
Na segunda quinzena de junho, chefes de Estado do mundo inteiro estarão no Rio de Janeiro para um convescote [1] que tem tudo para ser mais uma atividade diversionista para encobrir os reais e mais candentes problemas que a humanidade enfrenta nos dias atuais.

Fome, peste e guerra

http://resistir.info/climatologia/hipocrisia_global.html

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