Rui Peralta
Israel
Este mês cumpriram-se 30 anos sobre a invasão israelita no Líbano, que iniciou uma guerra de 18 anos, onde morreram cerca de 1500 soldados israelitas e um número incalculável de libaneses e palestinianos. O exército israelita denominou oficialmente esta guerra com o nome pomposo de “Operação Paz na Galileia” e baseou-se numa mentira criada pelo governo israelita, que alegou ter de agir para parar com os lançamentos dos foguetes Katyusha contra a Galileia, a partir de território libanês.
Mas a realidade era outra. Nos 11 meses anteriores á guerra não foi realizado um único disparo na fronteira entre Líbano e Israel. Vigorava um cessar-fogo que foi escrupulosamente cumprido pelos palestinianos, para surpresa geral, pois ninguém acreditava que Yasser Arafat, o líder da OLP na altura, conseguisse impor o acordo de cessar-fogo a todas as facçöes palestinianas. Mas conseguiu, aproveitando toda uma conjuntura que tornou o acordo aceitável, inclusive para os mais radicais (que lambiam as feridas criadas em derrotas sucessivas e necessitavam de um período de tréguas).
Em finais de Maio de1982, Ariel Sharon, então ministro da defesa, reuniu-se com o Secretário de Estado dos USA, Alexander Haig, em Washington. Os israelitas queriam colocar em marcha um processo de desestabilização no Líbano que permitisse instalar no poder os falangistas maronitas, que afastasse os Sírios e os palestinianos do território libanês. Sharon a cobertura norte-americana, mas Alexander Haig transmitiu-lhe que o governo dos USA só poderiam permitir esse plano se existisse uma clara provocação contra Israel a partir do território libanês, ou se o cessar-fogo em vigor fosse quebrado pelos palestinianos e estes realizassem ataques directos a Israel a partir de solo libanês.
Eis que surge a solução Abu Nidal, líder sectário de uma organização que não pertence á OLP e inimigo assumido de Arafat. Os comandos de Abu Nidal levaram a cabo um atentado ao embaixador israelita em Londres e em gesto de represália Sharon mandou bombardear Beirute. Os palestinianos responderam aos bombardeamentos e o cessar-fogo terminou. O plano israelita resultara em pleno e com o aval dos norte-americanos, o primeiro-ministro israelita, Menachem Béguin ordenou que Sharon invadisse o Líbano até 40 km da fonteira, distancia considerada necessária para impedir os Katiusha de chegarem á Galileia. Se sempre existiram rumores de que Abu Nidal colaborava com os serviços secretos israelitas, após essa acçäo, muitos consideraram que isso era um facto. Alguns altos oficiais do exército israelita, como o general Matti Peled, um homem que se opôs a esta operação, estavam convictos que Abu Nidal era efectivamente um infiltrado dos serviços israelitas na resistência palestiniana e o mesmo pensavam largos sectores da OLP.
Ariel Sharon, e a grande parte da elite sionista do Likud da época, defendiam a ideia de um ‘novo médio oriente”. Béguin, o primeiro-ministro, não compartilhava desta visão, mas Sharon, como ministro da defesa tinha meios para a colocar em andamento. Este plano consistia em atacar o Líbano e instalar no poder os falangistas cristãos, expulsar os sírios do Líbano, empurrar os palestinianos para a Jordânia, para que estes, levados pelas circunstâncias, derrubassem a monarquia e instalassem aí um Estado palestiniano. Depois seria estabelecer uma forma de partilha da Cisjordânia com o novo estado palestiniano na Jordânia.
Foi fácil convencer Béguin a iniciar a guerra dizendo-lhe que o único objectivo era empurrar a OLP por 40 km para lá da região fronteiriça do Líbano. Esta acçäo foi o suficiente para instalar o apoio logístico necessário aos falangistas cristãos das Milícias de Bashir Gemayel, que assumiu o poder com o apoio de Israel e das bem armadas Milicias cristãs do Sul do Líbano. Em troca do apoio obtido Gemayel ordenou que as Falanges cristãs realizassem o massacre de Sabra e Chatila, para aterrorizar os palestinianos e forcá-los a abandonar o território libanês. Mas as coisas não duraram muito. Bashir Gemayel foi assassinado pelos sírios e o seu sucessor e irmão era demasiado débil e revelou-se ineficaz na liderança dos falangistas. Os sírios reforçaram o controlo sobre o Líbano e os palestinianos não abandonaram o território. Arafat foi para Túnis, onde obteve importantes vitorias politicas e mais tarde regressou á Palestina.
Nem no plano militar, nem no plano politico, esta operação foi conseguida. Em 1982 nenhuma unidade militar israelita atingiu o seu objectivo. A resistência palestiniana em Sídon foi impressionante e travou o avanço israelita sobre Beirute. Os israelitas só chegaram á parte oriental da cidade de pois de um acordo de cessar-fogo ter sido ignorado (mais uma vez), o que permitiu às unidades israelitas terem contornado as unidades palestinianas que estavam a cumprir o acordo.
De 1949 a 1970 a fronteira entre o Líbano e Israel era uma fronteira tranquila e dizia-se que o Líbano seria o segundo estado árabe a assinar a paz com Israel porque não se atrevia a ser o primeiro. A população do sul do Líbano era maioritariamente xiita e era a mais pobre e oprimida entre as comunidades libanesas. Quando os palestinianos fugidos da Jordânia após os acontecimentos do Setembro Negro em 1970. Estabeleceram-se no sul do Líbano, as relações com os xiitas não foram pacíficas. Quando em 1982 as tropas israelitas entraram no sul do Líbano foram bem recebidas pela comunidade xiita, que pretendia a partida dos palestinianos. Os xiitas pensavam que os israelitas se iriam embora logo que os palestinianos saíssem da região, mas depressa vieram que estavam enganados, quando as fascizantes milícias cristãs do Sul do Líbano se instalaram na região desocupada pelos palestinianos. Forma então forçados a uma guerra de guerrilhas e com o tempo os líderes moderados foram substituídos por líderes mais radicais.
Uma coisa é certa no meio de toda esta história: a invasão israelita do Líbano em 1982 alterou de facto as relações de forças no medio Oriente, aumentou a insegurança para Israel e colocou toda a região numa imensa instabilidade politica. Tal como todas as histórias esta também tem uma moral: Com uma simples mentira inicia-se uma guerra, mas é necessário persistir na verdade para construir a paz.
Ausência
Ao entardecer o calor amena. Suspira por ti o meu ser e a loucura acena. Saudade de um beijo (daqueles que a alma sente) para atenuar o desejo de acariciar teu corpo ausente.
Palestina
A Al Jutut al Falestiniya, a companhia aérea da Palestina, retomou a sua actividade, após sete anos parada. A única linha em actividade é a de Jordânia – Egipto, pois que está proibida de aterrar em solo pátrio. A companhia voa duas vezes por semana entre o pequeno aeroporto de Markha, em Amam e o aeroporto da cidade egípcia de El Arish a 60 km de Gaza, na península do Sinai.
Criada em 1995 a Falestiniya tem apenas duas unidades de voo, um Fokker 50 e um Fokker 48, da Airbus e doadas pela Holanda á Autoridade Nacional Palestiniana (ANP). A Arabia Saudita havia doado um Boeing 727, com capacidade para 158 passageiros, mas a difícil situação económica em que se encontra a companhia, forçou-a a vender. A Falestiniya recorre ainda a mais duas unidades alugadas á companhia. É uma empresa pública, gerida pela ANP e encontra-se proibida pelas autoridades sionistas de operar em solo palestiniano.
Em 1998 foi inaugurado o aeroporto Yasser Arafat, em Gaza, financiado pela UE, mas que foi destruído pouco tempo depois, durante um bombardeamento israelita. A Falestiniya moveu então a sua frota para o aeroporto de EL Arish, no Egipto, mas em 2005 as dificuldades económicas da companhia levaram ao cancelamento dos voos. A situação política do Egipto levou a companhia palestiniana a mudar-se para Jordânia. A Falestiniya paga 1360 euros para aterrar em El Arish e 400 euros em Markha e cada bilhete de ida e volta custa 176 euros. A companhia estuda a possibilidade de voar para a Arabia Saudita e para os Emiratos Árabes Unidos.
Ausência
Esgotado... Se estivesses aqui, outro seria o meu estado, só por estar junto a ti...
Colômbia
O discurso bélico que o presidente Juan Manuel Santos proferiu no passado dia11de Junho na Escola Militar José Maria Córdoba é revelador do desespero em que caiu a oligarquia colombiana, que prefere arrastar o país para o caos da guerra (morrendo matando) a encontrar uma solução negociada que traga a paz ao território da Colômbia. Ao afirmar que a única solução ao conflito social armado é militar e que só a capitulação dos “insurrectos” é a condição de pacificação, o presidente Santos, representante politico e institucional da oligarquia caduca que vende a Colômbia a retalho ao imperialismo yankee, rompe com toda e qualquer possibilidade de consenso. A única paz em que a oligarquia colombiana e os seus patrões de Washington querem para o povo colombiano é a paz podre da capitulação das forças populares e patrióticas. É a grande utopia da oligarquia e da burguesia colombiana: o povo pedindo clemencia ao grande capital que, de forma severa e solene, distribuirá indultos aos pobres que tiveram a arrogância de opor-se aos senhores da terra e do capital, representantes do imperialismo.
Esta elitista, bélica e disparatada visão oligárquica contrasta com a concepçäo popular e patriótica das FARC-EP que desde sempre levantou bem alto o estandarte da via pacifica, democrática e dialogada, para solucionar o conflito que afecta a Colômbia. O regime só se interessa pelos direitos das transnacionais, pelas privatizações, pela flexibilidade laboral sem direitos para os trabalhadores e deixa os desempregados morrerem no desespero da miséria. O esforço do presidente Santos em entregar terras às corporações mineiras e agroindustriais, ignorando os direitos das comunidades da cintura florestal, praticando uma política de genocídio dos povos da floresta e destruição do seu habitat, contrasta enormemente com as suas nulas preocupações com a paz.
Se até hoje, em decénios de luta (meio século) foi impossível chegar a um acordo negociado, não é por falta de vontade da luta popular em falar e concretizar a paz, mas sim pela recusa sistemática das classes dominantes em admitir os direitos democráticos. Este é um regime que tem como modelo o terrorismo de estado, um regime criminoso, com as garras sujas de sangue, formado pelo grande capital e pelos latifundiários, sustentado pelas fortunas provenientes do saque e pelas armas de Washington, que despreza os direitos mais elementares, que mergulha a Colômbia numa espiral de violência e que recusa ouvir as reclamações gritadas nas ruas e nas praças, nos campos e nas florestas, que exigem a paz e a democracia.
Ausência
Saudades do teu querer, da tua pele, do teu beijo, do teu escrever. Peço: mata-me este desejo. Mas nada dizes...És musa silenciosa e nada fazes...Resta-me a fé ociosa.
A globalização da cidadania
Desde a Grande Depressão a economia dos USA é estimulada pelo fabrico de armas e exportação da guerra. Em 2011, para falarmos de um passado recente, os USA fecharam um contracto de venda de armas á Arábia Saudita num valor de 60 mil milhões de USD. Com os Emiratos Árabes Unidos realizaram vendas de armamento no valor de 10 mil milhões de USD e á União Indiana (que tem mais pobres que todos os pobres do continente africano juntos) venderam helicópteros, bombardeiros e caças, no valor de 5 mil milhões de USD. Exporta conflictos que, desde Nagasaki, Coreia, Vietname, Médio Oriente, África e América Latina, custaram milhões de vidas, mas que foram estímulos para a economia do american way of live, o modelo standard que querem aplicar ao resto do mundo.
Hoje sabemos que este modelo, nos USA, concentrou nas mãos de 400 pessoas a mesma riqueza que metade da população norte-americana. Para isso acontecer milhares de cidadãos ficaram sem casa, porque ficaram sem trabalho, mas o governo norte-americano não se preocupou e decidiu ajudar os bancos e o grande capital (os tais do grupo das 400 pessoas do american way of life). A título de exemplo só a American International Group (AIG) recebeu – para se “salvar” – 182 mil milhões de USD.
Na India, onde o governo rende um culto secreto, mas indisfarçado ao american way of live sob a forma de capitalismo brics (mais “progressista” e “patriótico” e assim já não aparece como uma submissão ao capitalismo versão yankee) nos últimos vinte anos de economia capitalista (oops…desculpem. “Economia de mercado livre” ás vezes esqueço-me da linguagem politicamente correcta e academicamente aceite) a India dizia eu, onde actualmente as cem pessoas mais ricas possuem activos que representam 25% do PIB, enquanto mais de 80% dos cidadãos vivem com menos de meio dólar por dia e onde, em 2011, 25 mil cidadãos camponeses suicidaram-se porque estavam endividados e não tinham forma de pagar. Claro que é a India do progresso (que mantem a “tradição” das castas) e que já se considera uma superpotência, com armas nucleares e tudo (nucleares legais, não é como o Irão, que teve o desplante de assumir que poderia ser nuclear). E pelo resto do mundo pulula a desigualdade gerada por este modelo, desde a América Latina (onde uns são maus alunos e indisciplinados, que pensam nos seus cidadãos e outros são bons alunos e meninos limpinhos, deixando os cidadãos na penúria e os meninos com o ranho a escorrer pelo nariz) até á Africa, Europa, Oceânia e arredores.
Claro que o problema está neste modelo que nos querem impor, a nós, os cidadãos. Porque se for posto um fim á propriedade transversal no sector empresarial - os fabricantes de armas não possam ser proprietários de emissoras de televisão, as transnacionais mineiras não possuam jornais, as empresas farmacêuticas não possam controlar largos sectores da saúde, etc. – Se os recursos naturais e a infraestructura social – água, electricidade, saúde e educação – não se possam privatizar e todos possam gozar do direito á habitação, á educação e á saúde e se os filhos dos ricos não herdarem as fortunas dos pais, teremos outro modelo. Não é reformar o velho modelo da desigualdade, fazendo pequenos ajustes. Não, até porque este modelo que nos impuseram, a nós, cidadãos globais, é todo ele feito de reformas e sucessivos ajustes. Não há que reformar. Há que substituir. Sem medo. Retomar a ideia de justiça social e assumir a “blasfémia” de procurar a igualdade. E construir, como cidadãos globais, a globalização da solidariedade….
Fontes
Uri Avnery; La guerra de las mentiras; http://zope.gush-shalom.org/
Nuha Musleh; Las "aerolíneas palestinas" despegan de nuevo tras 7 años; http://www.gara.net
Partido Comunista Colombiano; Las FARC-EP rechazan las declaraciones de Santos como "muestra de desespero"; http://www.pacocol.org
Arundhati Roy; Todos somos "ocupas"; http://www.sinpermiso.info
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