domingo, 29 de julho de 2012

ENQUANTO ISSO, NO SPA DA ESPANHA…




Flávio Aguiar, Berlim – Opera Mundi

A turbulência da econômica não vale para todos, já que executivos tiveram um aumento de 5% em seus rendimentos; ao povo nas ruas, cassetetes

A turbulência catastrófica na economia europeia não vale para todos os lugares e espaços. Nas empresas espanholas, em 2011, os executivos tiveram um aumento de 5%, em média, enquanto a polícia baixava o cassetete nas ruas para reduzir o salário dos trabalhadores em pelo menos 7% (ou mais, conforme a categoria) e cortar o apoio aos desempregados.

Neste começo de semana, novas descargas gigantescas de adrenalina espalharam o pânico pelas bolsas da Europa e do mundo. Os bônus espanhóis atingiram a marca dos 7,5% ao ano para serem renovados. Aqui na Alemanha houve um abalo sísmico: a agência Moody’s, o espectro das economias, dos devedores e, em certa medida, também dos credores menos acreditados, trocou a perspectiva do sinal de + que vinha depois da classificação AAA do país pelo de -. O que significa isso?

Em primeiro lugar, que a Moody’s entrou em ressonância com os dados de uma outra agência, a Markit, que avalia a circulação de finanças, serviços, bens e mercadorias dos setores privados nos países. Pois bem o índice da Markit, relativo à Alemanha, caiu, em relação ao mês passado, de 48,1 para 47,3 neste mês. Ou seja, a circulação caiu – e pelo terceiro mês consecutivo.

De novo: o que significa tudo isso? Significa que a inundação – ou a seca – recessiva bateu às portas da Alemanha, prevista para por o pé na porta pelo final do ano. O mesmo – a troca do sinalzinho – aconteceu com a Holanda e Luxemburgo – outras cerejas do abatumado bolo europeu. Na França a situação oscila. Houve um crescimento geral do índice Markit, de 47,3 em junho para 48 em julho. Mas o setor das manufaturas caiu de 45,5 para 43,6.

Mais uma vez: o que significa isso? Significa que, certamente, haverá mais cassetetes nas ruas de Madri nos próximos meses, senão anos; haverá mais pressão e chantagem para que a Grécia oprima mais seus trabalhadores e pensionistas. Haverá também mais ardor nas acusações de que a culpa por tudo cabe ao desregramento do estado do bem estar social, que queima reservas distribuindo benesses descabidas por seus aposentados, e favorecendo salários absurdos que tiram a competitividade dos países que não aplicaram a guilhotina ortodoxa sobre investimentos sociais e proventos do trabalho.

Mas essa turbulência catastrófica não vale para todos os lugares e espaços.

Vejam só um exemplo cabal e edificante, em nota do International Herald Tribune de 23/07, cujo título diz: “As Madrid reels, Spanish executives prosper”, “Enquanto Madri derrapa, os executivos espanhóis prosperam”, de Fiona Maharg-Bravo.

O diretor-executivo da Telefónica (César Alierta) ganhou 10,2 milhões de euros em 2011, em salário-base, abonos, outros benefícios e pensões. Em comparação: os mesmos postos da Telecom na França e na Alemanha foram remunerados com 1,6 e 3,9 milhões, respectivamente, o que, convenhamos, já não é uma bagatela.

Ao lado, no setor bancário em crise, o problemático BBVA sofreu uma queda de 50% no valor de suas ações entre 2007 e 2011. Em compensação, o ressarcimento de sua direção executiva subiu 26% no mesmo período. Já o Santander reservou 158 milhões de euros em dezembro de 2011 para financiar as pensões de seus três “top executives”.

Nas empresas espanholas, levando em conta todos os setores, durante 2011 os diretores executivos tiveram um aumento de 5%, em média, enquanto a polícia baixava o cassetete nas ruas para reduzir o salário dos trabalhadores em pelo menos 7% (ou mais, conforme a categoria) e cortar o apoio aos desempregados.

Pela última vez (neste artigo): o que significa tudo isso?

Com a palavra as leitoras e os leitores.

*Flávio Aguiar é correspondente internacional da Carta Maior em Berlim.

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