quarta-feira, 22 de agosto de 2012

MEMÓRIA DA ESCRAVATURA E DA SUA ABOLIÇÃO

 

Martinho Júnior, Luanda
 
1 – À medida que nossos antepassados sofreram na carne e nos ossos as agruras da escravatura, no berço do capitalismo enquanto “comércio triangular”, evidente se tornou que não gostaram, lutaram e por isso o Haiti se impôs a Napoleão.
 
A revolta dos escravos em São Domingo, inspirando-se e inspirando a revolução francesa, é de facto um património histórico para toda a humanidade, por que deveria ter sido efectivamente assim que se tornaria possível a “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”!
 
Sublinha-o Eduardo Galeano em “Haiti, país ocupado” (http://www.brecha.com.uy/inicio/item/9182-haiti-pais-ocupado):
 
… “Haití es un país invisible.
 
Sólo cobró fama cuando el terremoto del año 2010 mató más de 200 mil haitianos.
 
La tragedia hizo que el país ocupara, fugazmente, el primer plano de los medios de comunicación.
 
Haití no se conoce por el talento de sus artistas, magos de la chatarra capaces de convertir la basura en hermosura, ni por sus hazañas históricas en la guerra contra la esclavitud y la opresión colonial.
 
Vale la pena repetirlo una vez más, para que los sordos escuchen: Haití fue el país fundador de la independencia de América y el primero que derrotó a la esclavitud en el mundo.
 
Merece mucho más que la notoriedad nacida de sus desgracias”…
 
Quando soaram as trombetas, o império nascente tremeu e travestiu-se até de pirata, a fórmula mágica para neutralizar a energia liberta das refregas e só com uma exclusiva explicação: a todo o transe havia que continuar o saque…
 
2 – À medida que no fascismo e colonialismo, propiciado pela geometria variável da lógica capitalista, os colonizados experimentaram, por que viveram, a opressão, não gostaram e por isso lutaram para banir de suas vidas esse “sistema” tão manifestamente pródigo para a tão retrógrada quanto fundamentalista “civilização cristã ocidental”.
 
Dessa luta, só possível após a IIª Guerra Mundial, fermentaram as independências da Ásia e de África, arrancadas a ferro e fogo 150 anos depois das bandeiras das independências da América.
 
Dizia Jean Paul Sartre no Prefácio ao livro de Frantz Fanon, “Os condenados da Terra” (http://kamugere.wordpress.com/2011/07/05/prefacio-de-os-condenados-da-terra-por-jean-paul-sartre/):
 
“Não faz muito tempo a terra tinha dois bilhões de habitantes, isto é, quinhentos milhões de homens e um bilhão e quinhentos milhões de indígenas.
 
Os primeiros dispunham do Verbo, os outros pediam-no emprestado.
 
Entre aqueles e estes, régulos vendidos, feudatários e uma falsa burguesia pré-fabricada serviam de intermediários.
 
Às colônias a verdade se mostrava nua; as metrópoles queriam-na vestida: era preciso que o indígena as amasse. Como às mães, por assim dizer. A elite européia tentou engendrar um indigenato de elite; selecionava adolescentes, gravava-lhes na testa, com ferro em brasa, os princípios da cultura ocidental, metia-lhes na boca mordaças sonoras, expressões bombásticas e pastosas que grudavam nos dentes; depois de breve estada na metrópole, recambiava-os, adulterados.
 
Essas contrafacções vivas não tinham mais nada a dizer a seus irmãos; faziam eco; de Paris, de Londres, de Amsterdã lançávamos palavras: “Partenon! Fraternidade!”, e, num ponto qualquer da África, da Ásia, lábios se abriam: “… tenon!…nidade!” Era a idade de outro.
 
Isto acabou.
 
As bocas passaram a abrir-se sozinhas; as vozes amarelas e negras falavam ainda do nosso humanismo, mas para censurar a nossa desumanidade. Escutávamos sem desagrado essas corteses manifestações de amargura.
 
De início houve um espanto orgulhoso: Quê! Eles falam por eles mesmos! Vejam só que fizemos deles! Não duvidávamos que aceitassem o nosso ideal porquanto nos acusavam de não sermos fiéis a ele; por esta vez a Europa acreditou em sua missão: havia helenizado os asiáticos e criado esta espécie nova: os negros greco-latinos.
 
Ajuntávamos, só para nós, astutos: deixemos que se esgoelem, isso os alivia; cão que ladra não morde”…
 
… Morderam… e para que por via dos bancos se continuasse a dar a mais secreta das oportunidades para o saque e a pirataria, foi possível a abertura do caminho para expedientes mais refinados e requintados: chegaram por fim as “democracias representativas”, com a “incontornável” pacotilha – 1 homem = 1 voto!...
 
 

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