terça-feira, 4 de setembro de 2012

Brasil: O OCASO DO TUCANATO

 

Helder CaldeiraDebates Culturais
 
Uma década depois da ascensão do PT ao governo federal, protagonizando os maiores escândalos de corrupção da história, em nome de uma tergiversa política de coalizão supostamente necessária à espécie de presidencialismo que se pratica no Brasil, a oposição tucana não conseguiu aprender lições básicas e assiste o derretimento do espólio político-eleitoral deixado por grandes caciques do passado, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e os ex-governadores Mário Covas e André Franco Montoro.
 
O tombo mais emblemático para o PSDB vem se desenhando em São Paulo, reduto defendido com unhas e bicos pelo tucanato. A se confirmarem as projeções das atuais pesquisas de opinião, a prefeitura da capital paulista deve passar às mãos do jornalista Celso Russomanno, candidato pelo pesqueiro Partido Republicano Brasileiro (PRB). Faltando apenas um mês para as eleições, Russomanno já está isolado na liderança em todas as pesquisas e com vasto espaço de crescimento, seguido pelo ex-ministro da Educação, Fernando Haddad, cujo apadrinhamento lulo-petista lhe garante a soma expressiva de pontos percentuais.
 
Enquanto isso, o autoproclamado franco-favorito José Serra vê seu passaporte político ser carimbado com a alcunha de “Ex”: ex-deputado federal, ex-senador, ex-ministro, ex-prefeito, ex-governador e ex-candidato “biderrotado” à Presidência da República. Ao que tudo indica, somará ao currículo o título de ex-candidato a Prefeitura de São Paulo. Nessa toada, não lhe restará nem a vereança em 2016. Triste fim para um tucano que teve seus anos de relevância nacional, mas errou a mão nos tons de prepotência, arrogância e imposições quase pueris em termos políticos.
 
A ingerência de José Serra sobre o colegiado socialdemocrata nas últimas eleições que participou foi o principal responsável pelo degredo do partido nas urnas, bem como das agremiações coligadas. Talvez seja o ato final de uma “cacicagem” que não tem mais espaço no cenário político contemporâneo. A única exceção ainda vigente (mas com seus dias contados!) vem do ex-presidente Lula da Silva, que impõe à cúpula partidária petista os nomes que ele quer, sedimentado em anacrônico e residual populismo esquizoide e pseudopoderismo classista-sindical, remontando suas origens políticas. Em plena era digital e de explosão da informação horizontal, essas vertentes tendem à morte.
 
Serra, em sua pior faceta, faz lembrar “O Frangote Vaidoso”, uma fábula do escritor russo Leon Tolstói: “Dois frangotes brigavam num monte de esterco. Um era mais forte, venceu e arrastou o outro pra fora dali. As galinhas se reuniram em volta do frangote vencedor e começaram a aplaudir. Ele, vaidoso, quis que o quintal vizinho soubesse da sua força e da sua glória. Voou até o topo do celeiro, bateu asas e cacarejou bem alto: ‘Olhem pra mim, todos vocês! Sou um frangote vitorioso! Não há no mundo um frangote mais forte do que eu!’ O frangote ainda não havia terminado o discurso de vaidade quando uma águia veio e o matou com as garras, arrastando-o para o ninho.”
 
O ocaso do tucanato não é uma exclusividade paulistana. Está se repetindo, em maior ou menor escala, nas principais cidades brasileiras no processo eleitoral de 2012. O PSDB ainda não conseguiu entrar no século 21 e, por isso, derrete. Desconsiderou a urgência de um reposicionamento estratégico, de um novo foco de ideias, do investimento programático e morre paulatinamente. Como um suicida, continua apostando em nomes e não em projetos. Por cacicagem, esses nomes são sempre os mesmos. Caras iguais, discursos iguais. Essa matemática não cola mais, nem mesmo nos redutos peessedebistas reconhecidamente consolidados.
 
Aliás, esse foi um dos erros emblemáticos da atual campanha liquefeita de José Serra: confundir o “Efeito-Memória”, quando o partido estima que o eleitorado votará no candidato porque já o conhece de outras paragens, e o “Voto Consolidado”, quando o pleiteante já larga com um número certo de eleitores, uma espécie de fidelidade política. Apostaram que a memória seria imediatamente consolidada nas urnas e estão dando com os burros n’água. Serra acumula uma rejeição histórica, Russomanno cresce avassaladoramente e o apadrinhado Haddad começa a resgatar e reunir o “petezão” paulista, espalhado desde o escândalo do Mensalão. Se bobear, o PSDB não chega ao segundo turno em São Paulo.
 
Espanta a capacidade degenerativa das agremiações políticas que não se adequam aos novos tempos do mundo. Vivem pra isso, trabalham diuturnamente, contratam marqueteiros a peso de diamante e continuam cometendo os mesmos erros, as mesmas arrogâncias, quase um coronelismo carlista repaginado. Repetir sistematicamente os mesmos erros tem uma classificação óbvia: burrice!
 
O PSDB foi tolo em 2002 ao supor que venceria fácil Lula da Silva; tapou buraco em 2006; repetiu a tolice em 2010 ao subestimar Dilma Rousseff e o poder de transferência de votos lulistas; e agora consegue repetir a proeza de cair no mesmo buraco e entrar numa campanha com o carão de “já ganhou!”, desconsiderando as possibilidades de crescimento dos demais candidatos e seu próprio e gigantesco índice de rejeição em solo paulistano. Vale reiterar: se realmente perder as eleições em São Paulo, José Serra pode desistir, se aposentar. Ou tentar a vereança em 2016. Talvez consiga. Talvez! Um triste ocaso para um ex-experiente tucano.
 
*Helder Caldeira é escritor, jornalista político, palestrante e conferencista, autor do livro “A 1ª PRESIDENTA” (Editora Faces, 2011, 240 páginas), primeira obra publicada no Brasil com a análise da trajetória da presidente Dilma Rousseff, e comentarista político da REDE RECORD de Mato Grosso, onde apresenta o quadro “iPOLÍTICA” e os telejornais “JORNAL MÉDIO NORTE” e “JORNAL PISOM”.
 

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