To Vima, Atenas - Presseurop – foto AFP - 5 setembro 2012
O aumento da violência exercida pelo partido Aurora Dourada é alimentado pela crise de identidade de um povo afetado pela crise económica e pela falta de coragem de uma classe política deslegitimada. É hora de lhe opor um verdadeiro combate ideológico, adverte um politólogo grego.
O surgimento recente de uma atividade organizada e perigosa da extrema-direita (sejamos mais precisos: uma atividade pró-nazi) é um dado novo no espaço público. As causas desta ocorrência pró-nazi são atribuídas à profunda crise económica, o que é, em certa medida, correto. Mas, se olharmos mais de perto para essas manifestações de extrema-direita – seja a violência dos seus atos, seja o consenso de uma sociedade passiva que parece apreciar esse comportamento violento –, somos forçados a colocar perguntas mais profundas sobre as causas do fenómeno. Um fenómeno que, a este nível, não existe atualmente em mais nenhum país europeu, já que, lá fora, os principais partidos de extrema-direita se revezam a negar a sua herança fascista. O Aurora Dourada não se inclui nessa categoria.
Antes de mais, o surgimento da violência pró-nazi deve-se à sua própria natureza. Para o Aurora Dourada, a "abordagem dinâmica" daqueles que considera inimigos não resulta de um caráter acidental da sua natureza ou da sua prática: está-lhes registado nos genes. Daí que seja pelo menos ingénuo acreditar que se possa progressivamente integrar os membros desta organização no sistema político democrático. De facto, estas práticas sociais violentas "legítimas" têm sido exploradas, divulgadas e propagadas por toda a parte, nos últimos anos.
Complexidade de fatores
Esta cultura de violência é o produto de um cruzamento frutuoso: por um lado, o fosso que se cavou, desde o regresso da democracia, há 38 anos, entre a sociedade e o seu símbolo popular (crise da representação política, desrespeito das regras sociais, perda de legitimidade do Estado); por outro, a atual demagogia dos "desafios" de âmbito internacional e das ameaças externas (nomeadamente, a imigração).
Este modelo, enquanto permitiu prosperar e dar algum prestígio, conseguiu controlar a vontade política dos indivíduos; hoje, em condições de declínio social, “avaliza” a sua desvinculação.
Assim, a compreensão da violência pró-nazi – e, mais geralmente, a sua visão do mundo –, não se pode esgotar numa simplista declaração de boa-vontade. Nem nas manifestações rituais de denúncia. Essas práticas, por mais necessárias que sejam, não respondem à complexidade dos fatores que geram e desenvolvem este tipo de violência. A perceção da ideologia pró-nazi requer consciência política por parte do Estado, da classe política e das instituições, que perderam o seu valor e que tiveram a possibilidade de responder aos problemas políticos e sociais.
Uma frente difícil do combate à extrema-direita
Para começar, a lei deve impor-se quando é contornada. O Estado tem de ter capacidade de, em nome do seu poder político, intervir e regular os fluxos migratórios, dentro do possível e democraticamente. Na prática, isso significa a elaboração e aplicação de uma verdadeira política nacional de imigração. Neste contexto, assume especial importância tanto a revelação dos rostos de ódio do pró-nazismo como o empenho das instituições no seu combate.
No entanto, essa orientação política será rapidamente confrontada com os seus limites, se não for acompanhada por uma luta ideológica contra a provocação pró-nazi. Essa é talvez a mais difícil frente do combate contra a extrema-direita. Em grande parte, porque o programa dessa extrema-direita reúne as ideias básicas de uma cultura antiliberal e antipolítica ocidental. Em suma, defende que somos uma nação ameaçada por todos os lados, que temos o dever de resistir à "nova ordem mundial", que a globalização é uma encenação cujo objetivo é a hegemonia global do "sionismo", que as elites nos traíram, etc.
Num contexto de crise económica, em que a mobilidade diminuiu, o ódio ao estrangeiro, o mundo conspirativo em que opera, a mistura de anticapitalismo e antiplutocracia, são muitas vezes acompanhados por explosões desenfreadas de egoísmos mesquinhos, que tendem a assumir um caráter de resistência generalizada.
A crise produz “insegurança cultural”
As causas deste fenómeno fazem-se também sentir noutros países europeus. Investigações científicas em curso sobre o assunto levantaram a seguinte hipótese de trabalho: os fatores que conduzem a atitudes políticas e sociais extremas, a começar pelo voto antissistémico de extrema-direita, não se limitam aos aspetos financeiros da crise, antes à sua interseção com variáveis culturais, tais como o medo da imigração, a transformação dos estilos de vida e o desaparecimento das fronteiras nacionais.
O resultado é a produção de um sentimento de "insegurança cultural" entre os sujeitos que vivem ou se sentem ameaçados pela crise. São eles que procuram uma nova forma de grandeza na sua identidade cultural, em resposta às ameaças. O caso grego parece ilustrar perfeitamente esta crise de identidade.
Sem comentários:
Enviar um comentário