quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Portugal: Mário Soares defende que governo está “moribundo” e deve demitir-se

 

Sónia Cerdeira – i online
 
Ex-Presidente da República admite a possibilidade de Cavaco Silva nomear outro governo sem recurso a eleições antecipadas.
 
O ex-Presidente da República e conselheiro de Estado, Mário Soares, defende que o governo “deve demitir-se” e admite a possibilidade de Cavaco Silva nomear outro governo sem recurso a eleições antecipadas. “Se o governo não se sente moribundo é porque não tem sensibilidade. Se o governo tivesse sensibilidade talvez se demitisse, mas como não tem sensibilidade não se demite por enquanto. Mas devia demitir-se, como já devia ter demitido o senhor Miguel Relvas e não demitiu”, defendeu.
 
Questionado sobre a possibilidade de ser nomeado um novo governo sem recorrer a eleições, Soares respondeu que é um cenário possível “e depende do Presidente da República”. A forma como foi resolvida a última crise política em Itália é dada como exemplo: “Como caiu [o ex-primeiro-ministro de Itália] Sílvio Berlusconi? A pergunta que deve ser feita é quem é o nosso [Giorgio] Napolitano”, disse Soares, numa referência ao Presidente italiano que indigitou Mario Monti para formar um “governo técnico”.
 
Soares não é o primeiro a defender um novo governo sem recorrer a eleições. Numa entrevista ao i, esta segunda-feira, o ex-dirigente do PSD António Capucho admitia que, se o governo continuar sem base de apoio, pode fazer sentido um governo de salvação nacional. “Já foi demonstrado noutros países que foi uma solução que, no limite, pode e deve ser utilizada”.
 
O ex-conselheiro de Estado defende que o governo deve tentar até ao limite obter a abstenção do PS para o Orçamento do Estado – o que já foi rejeitado por António José Seguro (ver texto ao lado) – e manter o apoio da UGT. “Se o conseguir, muito bem, tem toda a legitimidade para governar, agora se isso não acontecer o Presidente da República deve tomar medidas. A última das medidas é a dissolução. A medida intermédia é, no quadro desta Assembleia, convocar um governo de salvação nacional”, disse o social-democrata.
 
Ontem, o ex-líder do PSD, Rui Machete, considerava prematuro falar num governo de salvação nacional, mas admitiu que isso é “sempre possível de acontecer”. Também o vice-presidente da bancada do PS, Basílio Horta, afirmava que o governo “ainda tem maioria no parlamento”, mas “o tempo pode vir a dar razão a António Capucho”.
 
Confrontado com a gravidade de um cenário de crise política, quando o país está sob assistência financeira, Soares respondeu com outra pergunta: “Mas se o país ficar assim, acham que Portugal fica bem?”. “A crise está instalada. Querem maior crise do que o país a gritar ‘vão-se embora’ e a chamar ‘gatunos’ aos membros do governo? Foi o que aconteceu no sábado”, acrescentou.
 
A opinião do ex-chefe de Estado é, no entanto, contrária à do líder do PS. António José Seguro já disse que o governo deve cumprir a legislatura até ao fim e defendeu que o PS só deve ir para o poder depois de eleições.
 
Apesar de ter tecido elogios a Pedro Passos Coelho no início da sua liderança, Mário Soares tem sido nos últimos tempos uma das vozes mais críticas ao governo. “Estamos num momento de crise e está a tentar-se destruir uma parte daquilo que foi feito desde o 25 de Abril de 1974 até agora. Tudo aquilo que é social está a ir abaixo e é por isso que o governo está numa situação de crise e que os portugueses se manifestaram sábado passado de uma maneira tão espontânea e tão clara”, defendeu.
 
Soares não vai ser o único a contestar o próximo OE no Conselho de Estado de sexta-feira. O clima de tensão política e a contestação às novas medidas de austeridade levaram Cavaco a convocar os seus conselheiros que, na sua maioria, já se manifestaram contra as mexidas na taxa social única. O ministro das Finanças, Vítor Gaspar, também foi convocado a estar presente na reunião, em Belém, para explicar a proposta do governo. Com Lusa
 

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