sexta-feira, 12 de outubro de 2012

GOVERNO NÃO SERVE, MAS CONTINUA A ARRASAR PORTUGAL IGNORANDO ALTERNATIVAS

 


“É bastante difícil” arranjar quem queira ir para o Governo numa altura destas – Bagão Félix
 
Lisboa, 12 out (Lusa) – O antigo ministro das Finanças Bagão Félix defende uma remodelação, mas confessa que na atual conjuntura é bastante difícil arranjar quem queira ir para o Governo, admitindo, ainda assim, que exista quem, por dever patriótico, o aceite.
 
Numa conjuntura como a atual acha que haverá quem queira ir para o Governo? “É bastante difícil, mas há pessoas que têm sentido patriótico…”, responde Bagão Félix, em entrevista à Lusa.
 
O antigo governante assegura, no entanto, que “é importante uma remodelação”, que deve ser feita a dois níveis: uma remodelação da orgânica do Governo e de alguns ministros.
 
“Foi um erro” a criação de mega ministérios “que juntam coisas completamente diferentes e até conflituantes”, sublinha Bagão Félix, que se diz “favorável a mais ministros e muito menos secretários de Estado para obrigar os governos a falar e a despachar diretamente com o aparelho do Estado, com as direções-gerais, que hoje são completamente postas fora do circuito, são marginalizadas”.
 
Já quanto às pessoas, o conselheiro de Estado diz que não se pronuncia, mas lembra que “uma boa chicotada psicológica era importante” e que a remodelação tem de ser rápida.
 
“A haver remodelação deve ser o mais rápido possível sob pena de perder efeito”.
 
Em relação às divisões entre PSD e CDS, Bagão Félix diz que o Governo não tem alternativa: tem de resolver essas divergências.
 
“O país precisa de tudo menos de uma crise política. Em particular o primeiro-ministro e o ministro dos Negócios Estrangeiros têm o dever patriótico de não gerar uma situação de instabilidade política, embora com muitas contradições relativamente ao que prometeram e em relação ao que sempre foram as suas políticas, em particular o CDS”.
 
Bagão Félix diz que as pessoas estão cansadas da mentira política e cita o Chanceler Bismarck para relembrar que “há três formas importantes de mentir: antes das eleições, durante a guerra e depois da caça”.
 
Para o antigo ministro, “o que é mais revelador, é que sucessivamente os programas e as intenções com que os partidos, regra geral, se apresentam ao eleitoral, e estou a referir-me aos que têm possibilidades de governar, depois são sempre contraditados pela prática. Não é um, são todos, sucessivamente, e isso destrói a base mínima de confiança que é necessário ter”.
 
Bagão Félix critica ainda uma outra evidência. “Um partido quando está na oposição tem sempre uma argumentação contrária daquela que tem quando está no Governo”, lembrando o caso do Partido Socialista.
 
“O PS hoje fala de palavras interessantíssimas como crescimento ou outras palavras romanticamente interessantes, mas se estivesse no Governo, provavelmente não seria igual, mas não teria grande possibilidade de fazer de maneira diferente”. Ou seja, conclui o antigo governante, “há que encontrar aqui um ponto de equilíbrio, recuperar alguma confiança do eleitorado, mas para isso os políticos também precisam de ter mundividência, precisam de perceber não apenas aquilo que se ensina nas universidades, mas também aquilo que é vivido na rua, na casa das pessoas, no trabalho, para compreender a realidade concreta do país que se governa”.
 
Perante o facto de o líder do CDS ter escrito recentemente aos militantes a dizer que estava contra um aumento de impostos, Bagão Félix lembra que também o primeiro-ministro, já depois de serem conhecidos os aumentos de impostos previstos para 2013, disse que era contra a subida de impostos.
 
“Um disse antes e outro depois. É, de facto, uma situação de dessintonia muito desconfortável. Não é uma crítica, mas percebo o desconforto em que esses líderes, em particular o do CDS, estará neste momento”.
 
E não se sentirão os contribuintes gozados? “As pessoas terão alguma dificuldade em perceber”, admite Bagão Félix.
 
VC. // MBA
 
Subida dos impostos para 2013 é “um sismo fiscal” com “efeitos destruidores” – Bagão Félix
 
Lisboa, 12 out (Lusa) – As medidas de austeridade anunciadas para o Orçamento do Estado para 2013 (OE2013) correspondem a um sismo fiscal de magnitude oito com efeitos destruidores sobre a economia, diz António Bagão Félix.
 
O pacote fiscal que está previsto, e tendo em conta a escala de Richter, de 1 a 10, “estará na escala sete, oito ou seja, com efeitos destruidores muito grandes, sobretudo na economia” diz em entrevista à Lusa o atual Conselheiro de Estado e antigo ministro nos governos de coligação PSD/CDS liderados por Durão Barroso e Santana Lopes.
 
Bagão Félix lembra que as medidas anunciadas, designadamente a redução dos escalões do IRS, e consequente aumento do imposto, e a criação da sobretaxa do IRS, “não são alternativas à questão da Taxa Social Única (TSU)”.
 
Isto porque a TSU “não era uma medida de consolidação orçamental. Era uma medida anunciada como favorecendo a capacidade competitiva das empresas” a que acresceria o pacote fiscal agora em cima da mesa.
 
Ou seja, “as duas em conjunto eram absolutamente devastadoras. Passaríamos da escala de oito, para uma escala de 10, que é uma escala devastadora”.
 
“O Governo por vezes dá-nos a sensação de que uma pessoa que ganhe, por exemplo 1.500 euros é fiscalmente rica. Os portugueses estão a ficar socialmente cada vez mais pobres, mas fiscalmente são considerados cada vez mais ricos”, lamenta o economista.
 
O antigo ministro mostra-se ainda crítico em relação à opção do Governo em insistir em mais medidas de austeridade do lado da receita e lembra tudo o que tem sido a execução orçamental de 2012.
 
“Parece-me absolutamente errado insistir no erro”, diz.
 
“O OE2012 é uma grande lição, que aliás vem nos livros, para se perceber que não se consegue fazer consolidação orçamental do lado fiscal em ambiente de recessão aumentando as taxas porque a receita fiscal é menor”, explica Bagão Félix.
 
Segundo o economista, “entrámos num ciclo relativamente vicioso. E não podemos resolver os problemas agravando as suas causas”.
 
Bagão Félix interroga-se mesmo: “Se se constata isso parece-me absolutamente errado insistir no erro. Então em 2013 vamos voltar a aumentar as taxas, então agora de uma maneira devastadora, para tentar aumentar a receita fiscal. Além de não se ir aumentar a receita fiscal vai o país manter-se em situação de contração económica, de recessão e de um arranque muito mais difícil do lado da economia e do investimento”.
 
O antigo ministro das Finanças reconhece que em matéria fiscal há um esforço a fazer, mas esse esforço é do lado do combate à fraude e evasão.
 
“Estou de acordo com um imposto sobre as transações financeiras, até sou favorável a um imposto sobre mais-valias urbanísticas, são importantes do ponto de vista simbólico, mas o grande desafio do alargamento da base tributária é a luta contra a evasão e a fraude fiscal”.
 
O economista lembra que “o país tem 25% de economia paralela. Se conseguisse tributar, não diria 25%, mas metade”, não se precisaria “de nenhum desses aumentos de impostos brutais”.
 
Por outro lado, tal como está inscrito na Conta Geral do Estado de 2010, “estão por cobrar de impostos e contribuições para a Segurança Social cerca de 16 mil milhões de euros e que 5.000 milhões prescreveram” números que levam o antigo ministro a concluir que “este é o principal desafio fiscal. Não é fazer incidir mais sobre os mesmos, mas alargar a base tributável dos que não pagam. Não pode haver benefício de infrator”.
 
O antigo ministro lamenta que em Portugal se paguem impostos “porque se ganha, porque se poupa, porque se investe, porque se habita, porque se casa e até porque se morre”, concluindo que esta situação “é impossível” e “insustentável para a economia porque a economia vive dos recursos disponíveis e estes são fundamentais para o investimento”.
 
“Não há reforma na estrutura produtiva sem investimento. A verdadeira reforma da economia é a reforma do sistema produtivo e falar sobre reforma do sistema produtivo sem dar condições para investimento é uma pura fantasia, pura ilusão”, conclui o economista.
 
VC. // MBA
 
*O título nos Compactos de Notícias são de autoria PG
 
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