quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Jornalistas alertam: crise na comunicação social pode refletir-se na democracia

 

TSF

No dia em que os trabalhadores da Agência Lusa iniciam uma greve de quatro dias, na véspera da paralisação dos jornalistas do Público, e com a incerteza que reina na RTP, um grupo de jornalistas resolveu juntar as canetas numa carta aberta: "Pelo jornalismo, pela democracia". Uma das assinantes, a veterana Diana Andringa partilhou na TSF as preocupações que levaram a este alerta.
 
«A crise que abala a maioria dos órgãos de informação em Portugal pode parecer aos mais desprevenidos uma mera questão laboral ou mesmo empresarial. Trata-se, contudo, de um problema mais largo e mais profundo, e que, ao afectar um sector estratégico, se reflecte de forma negativa e preocupante na organização da sociedade democrática (...)», começa assim o alerta de várias dezenas de profissionais e também alguns universitários.
 
Adelino Gomes, Óscar Mascarenhas e Diana Andringa são três dos veteranos que partilham esta inquietação. Em declarações à TSF, Diana Andringa revelou qual é a mensagem essencial que querem partilhar com leitores, ouvintes e espetadores.
 
«Sem jornalismo não há democracia. E na atual situação que vivemos, em que é preciso que os cidadãos estejam profundamente bem informados do que se passa, o jornalismo é mais indispensável do que nunca. [Mas] nesta mesma altura está a ser vítima de um ataque imenso a vários níveis: as redações tem estado a ser despovoadas; a memória das redações tem estado a ser afastada; e, a precariedade instala-se nos jornalistas», afirmou.
 
Por isso, acrescentou Diana Andringa, «é preciso que as populações percebam que os problemas dos jornalistas nunca são meramente problemas laborais, são problemas de liberdade de imprensa».
 
A crise afeta todos os sectores mas, na opinião de Diana Andringa, os gestores desta área talvez não tenham acautelado os efeitos dos cortes nas redações.
 
Questionada sobre se acredita que esta carta seja bem acolhida pelos destinatários, quando muitos portugueses estão preocupados em pagar as despesas essenciais, Diana Andringa chamou a atenção para a importância dos media no apoio aos cidadãos.
 
 
OS JORNALISTAS CHEGARAM A “ISTO” POR RESPONSABILIDADE DA CLASSE - opinião PG
 
No jornalismo tem impererado e impera o salve-se quem puder. Novos e antigos sabem muito bem isso. Diana Andringa e Adelino Gomes sabem-no bem, são parte do acomodar de há décadas. Algumas vezes souberam dizer não mas por outras quiseram ou consideraram (e consideram?) calar-se perante enormes atropelos. Os jornalistas mais antigos – alguns signatários do documento em causa – têm muitas responsabilidades na falta de democracia que existe.
 
Não é de agora que a democracia no pendor importantissimo do jornalismo está mais em risco mas sim desde 26 de Abril de 1974. Duas figuras importantissimas desse jornalismo, Andringa e Adelino, sabem-no muito bem. As suas consciências bradam nos seus egos. Afinal, por vezes, fizeram o que não deviam em prejuizo da democracia real: aquiesceram por razões pessoais, familiares, de carreira, etc… Que é como quem diz: por razões económicas, principalmente. Isto apesar de um e outra, Adelino e Andringa, serem uns grandes profissionais e ativistas ferverosos da defesa da democracia. Mas, de uma democracia tão bacoca que veio redundar naquilo que hoje temos, ou seja, a ditocracia. Como eles, também a maioria assim o fez, argumentando que o jornalismo era outra "coisa" e não o que agora, justamente, defendem.
 
Os signatários do documento que aqui ligamos em PDF gritam agora “Aqui D’el Rei". Ainda bem que o fazem. De admirar seria que ao menos agora não o fizessem. Pergunte-se porque não o fizeram há duas décadas, pelo menos… Ou até antes. O problema que eles nesse tempo sentiram é aquele que os jornalistas jovens da atualidade sentem e se perguntam: “defendo o jornalismo, a democracia real, de facto, e depois como sustento a minha família e os meus vícios?” Esse foi o problema antes, esse é o problema agora. Agora muito mais gravoso para os mais jovens.
 
Exatamente porque é muito mais gravoso (abençoado documento e iniciativa que podem ver em PDF) é que a geração mais jovem de jornalistas (escribas de produto branco) deve ser alertada. Não por causa da profissão que poderão deixar de poder exercer mas sim por - enquanto cidadãos - se verem privados da liberdade, da democracia. Mas tal facto é antigo e se agora estamos a perder a democracia muitos terão nisso a responsabilidade a nivel de jornalistas. Cito os que melhor conheço e admiro: Diana Andringa e Adelino Gomes. Como eles tantos outros que nisso têm responsabilidades e que, parece, só agora “acordaram”. De certeza que mais vale tarde que nunca. E na realidade os vendidos, os que não prestam, estão na parte do Nunca. Os do documento só vêm ligeiramente atrasados (enfim, distrairam-se). Deseja-se que a tempo.
 
Contudo não esqueçamos: os jornalistas chegaram a “isto” por sua inteira responsabilidade. Ao abandalharem-se baixaram as defesas devidas à profissão e à democracia. Quando eles erram podemos ficar a perder todos, porque sem eles muito menos se consegue a nível de liberdade, de direitos, de justiça e de democracia. Quer dizer: eles não podem olhar só para os seus umbigos e dos seus próximos sem olharem para os nossos. Compete-nos a todos nós sabermos isso e também saber reconhecê-los, protegê-los, defendê-los, apoia-los em defesa de tudo que existe de melhor para a humanidade: estarmos devidamente informados, esclarecidos, o mais possivel e sem sofismas. (redação AV-PG)
 

Sem comentários:

Mais lidas da semana