segunda-feira, 12 de novembro de 2012

FOME EM PORTUGAL

 

 
A crise económica e os cortes orçamentais estão a afectar as famílias portuguesas. O secretário de Estado da Educação de Portugal, José Casanova de Almeida, revelou durante uma audição numa comissão parlamentar, que 10.385 alunos de 253 escolas públicas portuguesas apresentam graves carências alimentares.

Metade dessas crianças está a ser apoiada através de um programa governamental de merenda escolar denominado “Pequeno-Almoço na Escola”, mas as associações de pais dizem que as refeições não estão a chegar às escolas.

Os alunos portugueses que têm de tomar a primeira refeição do dia na escola, por falta de condições das suas famílias, já são 5.547 e correspondem, segundo o secretário de Estado, a 51 por cento dos casos reportados pelos professores. As famílias destas crianças também são apoiadas pelo Banco Alimentar contra a Fome, cuja responsável, Isabel Jonet, apoia e aplaudiu publicamente as medidas governamentais que visam o empobrecimento dos portugueses.

Estes números só agora foram revelados, mas já desde 2010 se sabe que 285 mil pessoas em Portugal recebem ajuda do Banco Alimentar contra a Fome e que, dessas, 33 por cento são crianças e 40 por cento idosos. A presidente do Banco Alimentar, Isabel Jonet, informou que 94 mil crianças são assistidas por dia, número que aumenta se forem incluídas as crianças famintas da região da Madeira. A fome nas escolas tem maior incidência nos grandes centros urbanos, como Lisboa e Porto, mas estende-se praticamente a todo a país.

Os idosos com reformas ou pensões abaixo dos 200 euros também fazem parte dos milhões de portugueses que passam fome. Com o Estado Social em desagregação, um milhão de desempregados vê os seus subsídios diminuir drasticamente ou mesmo serem eliminados. Há famílias inteiras sem salários e sem subsídios de desemprego. O Governo PSD-CDS, apoiado pelo Presidente Aníbal Cavaco Silva, viu aprovado na Assembleia da República um Orçamento Geral do Estado que vai lançar na pobreza extrema milhões de portugueses e agravar a situação de fome. Um jornal londrino especializado em economia mudou o nome de Portugal para Pobretugal. Enquanto a situação social se torna insustentável, o primeiro-ministro Passos Coelho e o ministro dos negócios Estrangeiros e líder do CDS, Paulo Portas, impuseram aos portugueses mais um corte de quatro mil milhões de euros que vai afectar sobretudo a Educação, a Saúde e as prestações sociais.

A greve geral marcada para o próximo dia 14 pela central sindical CGTP-IN é uma resposta às “políticas de austeridade” e tem a adesão da associação das micro, pequenas e médias empresas. Pela primeira vez em Portugal uma greve junta trabalhadores e patrões contra o governo.

Banca na falência

O sector da Banca em Portugal está praticamente falido e os banqueiros neste momento dedicam-se apenas à agiotagem. Recebem dinheiro a juros baixos do Banco Central Europeu e emprestam-no depois com taxas de juros muito mais altas. O principal cliente e “parceiro” é o governo de Passos Coelho e Paulo Portas.

As duas grandes empresas de distribuição, cujos proprietários apoiaram o PSD nas últimas eleições, estão a registar brutais quebras nas vendas. Belmiro de Azevedo, que fez campanha pelo PSD, é o mais penalizado. Os banqueiros mais próximos do governo estão a fazer tudo para entrar no negócio das privatizações, cujo “consultor” governamental é António Borges e ao mesmo tempo braço direito do patrão da rede Pingo Doce. Tentam assim fugir da falência.

Escutas telefónicas

A credibilidade da justiça portuguesa continua a ser posta em causa e o país é apontado como estando mergulhado na corrupção generalizada que envolve as mais altas esferas do poder político, das finanças, da comunicação social e até do desporto.

O primeiro-ministro português, Pedro Passos Coelho, foi alvo de escutas telefónicas e o Procurador-Geral, Pinto Monteiro, um dia antes de abandonar o cargo, enviou-as para o Supremo Tribunal de Justiça a fim de serem validadas.

Conversas de Passos Coelho com o banqueiro José Maria Ricciardi, do Banco Espírito Santo, foram validades pelo presidente do Supremo Tribunal de Justiça e vão servir de meio de prova no processo “Monte Branco”, que envolve banqueiros portugueses e suíços (Michel Canals, Nicolas Figueiredo, José Pinto e Ricardo Arcos Castro) e um cambista (Francisco Canas) detidos em Maio pela Polícia Judiciária portuguesa por suspeita de fraude fiscal e branqueamento de capitais. Três estão em prisão preventiva e dois estão em liberdade depois de terem pago uma caução.

O anterior primeiro-ministro, José Sócrates, também foi submetido a uma investigação judicial na sequência de escutas telefónicas no processo “Face Oculta”. Os políticos ligados aos partidos do poder que roubaram milhares de milhões de euros do Banco Português de Negócios (BPN) continuam impunes e têm cumplicidades entre os magistrados. Mas até agora nenhuma figura pública foi para a prisão, nem mesmo os responsáveis das práticas de abusos sexuais sobre crianças realizadas durante largas décadas na Casa Pia de Lisboa. Alguns arguidos estão em prisão domiciliária mas ninguém os controla, pelo que continuam a fazer uma vida normal e alguns mantêm intactos os seus esquemas de corrupção.

O bastonário da Ordem dos Advogados, Marinho Pinto, considerou a ministra da Justiça, Paula Teixeira da Cruz, “uma barata tonta”. A ineficácia da Justiça, a apetência de magistrados para se envolverem na política e a permeabilidade do poder político aos negócios escuros, fizeram de Portugal um paraíso para gangsters internacionais que actuam impunemente no país e têm o apoio dos partidos do “arco do poder”.

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