sábado, 26 de janeiro de 2013

Moçambique: SEM CASAS DESDE 2007, SUL ISOLADO, MDM ACUSA GOVERNO




Quase 800 famílias vítimas das cheias de 2007 em Manica, Moçambique, ainda sem casa

26 de Janeiro de 2013, 09:04

André Catueira, da agência Lusa

Chimoio, Moçambique, 26 jan (Lusa) -- Cerca de 800 famílias de Manica, centro de Moçambique, vítimas das cheias de 2007 ainda aguardam pela casa que lhes foi prometida pelo Governo local nos dois centros de reassentamento, elevando o risco de regresso a zonas vulneráveis.

Ao todo, 1.484 casas, para igual número de famílias, deviam ter sido construídas, até 2010, após milhares de pessoas terem sido desalojadas pelo transbordo dos caudais dos rios Zambeze (em Tambara) e Lucite (em Sussundenga), mas, três anos depois de vencer o prazo de entrega, apenas 698 casas foram concluídas, indicam dados do Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC) em Manica.

Em Tambara, 900 casas deviam ser erguidas, com uma meta anual de 300 casas em sete bairros de reassentamento, nomeadamente Sabandar, Magamba, Muzunga, Mapanse, Sanduze, Sangazaze e Nhauchenge, mas, até 2012, apenas 395 casas estavam prontas.

Em Sussundenga, era previsto construir 584 casas, das quais só 303 estavam concluídas no ano passado.

"Nos dois centros de reassentamento nos distritos de Sussundenga e Tambara, já foram construídas 698 casas correspondente a 47,9 por cento de realização do plano", disse Ana Comoane, governadora de Manica.

O arranque do projeto, em 2007 ficou marcado pela desistência de alguns empreiteiros encarregados pelas obras, por o Governo não ter honrado os compromissos, devido a uma "gestão ruinosa" dos governos distritais, concluiu uma comissão de inquérito criado para averiguar "o fracasso do projeto".

Contudo, o Governo mudou a estratégia, disponibilizou dinheiro para aquisição de "kits" básicos, que incluem cimento, pregos, barrotes, chapas de zinco e outro material de construção, enquanto as famílias produziriam tijolos de argila e receberiam assistência e acompanhamento das autoridades locais.

"Muitos ainda não têm as casas prometidas. Fizeram tijolos, mas nunca mais chegaram os 'kits' e o dinheiro. Saíram dos centros de acomodação provisória porque as tendas e as cabanas de paus por si construídas já estavam sem condições", contou à Lusa Celésia Sargento, vitima das cheias em Tambara.

Em Tambara, 45 pessoas foram abrangidas, no ano passado, com a campanha de "retirada compulsiva da população", pela insistência em se manterem em zonas ribeirinhas, depois de terem sido anunciadas descargas da Hidroeléctrica da Cahora Bassa (HCB).

Este ano, 20 pessoas já foram forçadas a abandonar as áreas ribeirinhas no norte de Manica, onde persistem em habitar apesar dos riscos de cheias, em troca do benefício natural que obtêm das terras sempre húmidas e cheias de húmus nos leitos dos rios.

"Geralmente, são as mesmas pessoas que todos os anos são retiradas de forma compulsiva nas ilhas e nos leitos dos rios. Perde-se muita cultura, mas há vezes que saem bem e vendem muita produção. Nas zonas reassentadas, as pessoas não tem a mesma liberdade, de viver com animais e pasto aceitável" disse à Lusa Eligio Benedito, um reassentado.

Durante a apresentação do plano de emergência de Manica, Ana Comoane assegurou que das 154.289 pessoas em risco (12.729 das quais já afetadas) durante esta época chuvosa, ainda não houve necessidade de as retirar para os centros de reassentamentos.

"Os centros de reassentamento não tiveram necessidade de acomodar novas famílias, a vida corre normalmente", disse Ana Comoane.

A governante disse terem sido identificados lugares seguros para abrigo, para responder o plano de contingência, sendo que 90 salas de aulas, dois armazéns e dezenas de igrejas estão disponíveis para albergar desalojados.

Por seu turno, o primeiro-ministro, Alberto Vaquina, mostrou-se preocupado com a presença de crianças em zonas baixas, nas regiões com centros de reassentamento, e apelou a se "encontrar melhor linguagem para convencer as pessoas" a trocarem zonas ribeirinhas por altas em tempo chuvoso.

AYAC // VM.

Cheias isolam comunidades no sul de Moçambique

26 de Janeiro de 2013, 14:12

Emanuel Pereira (texto) e António Silva (fotos), Agência Lusa

Xai-Xai, Moçambique 26 jan (Lusa) - Centenas de pessoas mantêm-se isoladas na província de Gaza, sul de Moçambique, procurando proteger-se, em cima de telhados e de copas de árvore, das cheias que afetam, desde quarta-feira, a região.

A bordo de um helicóptero do Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC) com a missão de distribuir alimentos no distrito de Guijá, um dos mais afetados pelas enxurradas, jornalistas da agência da Lusa testemunharam o rasto de destruição provocado pelas cheias, que se estende por centenas de quilómetros.

Por entre o vasto espelho de água que se mistura com o horizonte, surgem, com pouco destaque, inúmeras habitações parcialmente destruídas. Nos seus telhados, e nas árvores em redor, dezenas de pessoas, esperam, há mais de 48 horas, pelas equipas de resgate.

As cheias na bacia do rio Limpopo, provocadas por chuvas e por descargas de água em barragens a montante, destruíram diversas estradas, agravando as dificuldades de acesso às comunidades isoladas.

No terreno, o INGC tem mais de uma dezena de embarcações de resgate e cinco helicópteros, estes últimos a operar desde sexta-feira. Para além do resgate de pessoas, as autoridades moçambicanas estão a utilizar estes meios para distribuir bens alimentares, como feijão, arroz e óleo, procurando evitar uma crise de fome.

Às portas da cidade de Xai Xai, capital da província de Gaza, foi instalado um centro de fornecimento de alimentos por via aérea. Em cada voo, as equipas transportam cerca de meia tonelada de bens. Ao início da tarde de hoje, tinham sido efetuadas, neste local, sete operações de distribuição alimentar.

ENYP // SMA

Movimento Democrático de Moçambique (MDM) acusa Governo de "burocratizar" ajuda a vitimas das cheias

26 de Janeiro de 2013, 14:26

Maputo, 26 jan (Lusa) - O Movimento Democrático de Moçambique (MDM), terceiro maior partido do país, acusou hoje o governo de Maputo de "burocratizar a assistência humanitária" às vítimas das cheias, depois do partido ter enfrentado dificuldades para entregar ajuda em Maputo.

Uma delegação do MDM viu-se obrigada a contrariar uma decisão do Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC) de impedir o partido de doar diretamente bens a 150 famílias vítimas das enxurradas, albergadas numa escola secundária dos arredores da cidade de Maputo.

Num processo testemunhado pela Lusa, um funcionário do INGC em serviço na Escola Secundária Força do Povo, nos arredores da capital, onde estão alojadas as 150 famílias, tentou impedir a entrega direta no local, alegando orientações superiores para que as ajudas sejam dirigidas a postos previamente definidos pela instituição, para posterior distribuição.

Apesar da resistência verbal do funcionário do INGC, a delegação do MDM, dirigida pelo delegado do partido em Maputo, Elísio Freitas, e que incluía o chefe da bancada do partido na Assembleia da Republica, Lutero Simango, procedeu à entrega da doação aos responsáveis dos bairros de origem das famílias alojadas, na presença das vítimas.

Em declarações à Lusa, Elísio Freitas considerou "estranha" a "burocratização da ajuda" às vítimas das calamidades naturais, defendendo que o apoio devia ser facilitado e sem qualquer entrave.

"O INGC sabia que nós vínhamos cá fazer esta doação. Deviam ter-se organizado para receber a ajuda e não estar cá alguém para nos dizer que o apoio deve ir primeiro ao INGC num outro local", afirmou o delegado do MDM em Maputo.

Reagindo à situação, um membro do MDM que acompanhava a delegação disparou: "Não querem que o povo veja que a ajuda vem do MDM".

Na sexta-feira, a Resistência Nacional de Moçambique (RENAMO), principal partido da oposição, acusou o Governo de permitir que os membros da Frente de Libertação de Mocambique (FRELIMO, no poder) assumam protagonismo nos centros de acolhimento das vítimas das cheias, circulando livremente nesses locais com símbolos partidários.

PMA // SMA

1 comentário:

Magus Silva disse...

Estive em Maputo e nom Xai-Xai entre 1970 e 1972, do século anterior, e fiquei impressionado com as vítimas das cheias provocadas pela subida das águas do rio Limpopo.
Constato que as consequências das cheias a que se refere o vosso blogue, foram ainda mais dramáticas.
O que me horrorisa é que os partidos políticos, aproveitem estas desgraças, para trocar acusações e oxalá não seja este o caso.
Quando há negligência reiterada a tratar destes casos, é justo que eles sejam denuncciados.
Estamos em 2013, e é legítima perguntar: como estão as vítimas da catástrove?
Para quem tem algum interesse em saber como vão as coisa neste minúsculo Portugal, posso confirmar que vai quase tudo mal, com muitas vítimas dessas e de outras desgraças.
Um abraço para Moçambique especialmente para Maputo e Xai-Xai.

Mais lidas da semana