Fernando Santos –
Jornal de Notícias, opinião
Patrocinado por
António José Seguro, o Partido Socialista constituiu um Laboratório de Ideias e
de Propostas para Portugal (LIPP). Já público mas ainda não notório o projeto
envolve cerca de cinco mil cabeças, entre socialistas e independentes, a
queimarem as pestanas na busca de remédios para Portugal.
Desde a sua
constituição até agora o referido Laboratório ainda não apresentou um só
desiderato quantificado mas, enfim, haja calma. Tirar coelhos da cartola é mais
de mágicos e não encaixa na postura e no tom hermenêutico das generalizações de
António José Seguro.
Os tempos estão
difíceis para todos - e a busca de alternativas ao buraco no qual está o país
metido não é coisa pouca. Mesmo uma segmentação de áreas em análise pelas cinco
mil cabeças tem o seu quê de dificuldade e a busca de consensos para a defesa
de uma linha comum não é tarefa rápida. Além de todas e quaisquer equações
correrem o risco de desautorização sempre e quando não soem a música celestial
para os eleitores...
As últimas horas
foram eloquentes sobre a forma atrapalhada como o Partido Socialista gere os
seus comportamentos. Álvaro Beleza, o coordenador dos socialistas para a área
da Saúde, cometeu a "proeza" de defender em entrevista ao JN a
extinção da ADSE para pôr fim a um sistema diferenciador dos portugueses. O que
o homem foi dizer, logo agora, quando está ao rubro o debate sobre um corte de
quatro mil milhões nos custos sociais do Estado e os socialistas agitam o
espantalho de eleições legislativas antecipadas! A franqueza (ou ingenuidade?)
de Álvaro Beleza valeu-lhe um valente puxão de orelhas e os portugueses ficaram
a saber que o senhor, afinal, é coordenador de si próprio!
Esta
desinteligência estratégica no Partido Socialista em versão Seguro não lhe
augura nada de bom. A falta de sinceridade ou de assunção de responsabilidades
e propostas muito menos.
O Partido
Socialista, como o fez ao JN, bem pode esgrimir a tese segundo a qual só abre
espaço a "um debate [sobre a Reforma do Estado] que se pretende sério, com
base em estudos aprofundados e credíveis, com vasta participação de responsáveis
e especialistas - e sobre essas questões há um debate a fazer". Terá é
muita dificuldade em mostrar-se credível ao ficar apenas pela ideia de que
"no momento adequado, o PS dará a conhecer o resultado do trabalho que
está a desenvolver". Pede-se-lhe bem mais. E rápido.
O país está farto
de esperar. E tem memória. E falta de paciência para chico-espertismos.
O país ainda
aguarda, por exemplo, pela proposta de alteração da lei eleitoral - com redução
de número de deputados - anunciada e prometida para até ao final de 2012 por
António José Seguro num jantar a 5 de outubro, em Alenquer. Será que não
resistiu às críticas da oposição interna ou está nos tubos de ensaios do
Laboratório de Ideias?
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