Martinho Júnior,
Luanda
O discurso de
Barack Hussein Obama na inauguração do seu IIº Mandato poderá trazer muita
auto-satisfação a nível do "norte americano médio", poderá trazer
muita expectativa àqueles que perfilham a lógica capitalista tal qual ela tem
sido assumida pelos Estados Unidos da América ao longo de toda a sua existência
desde que se tornou independente...
É um discurso
nacionalista “quanto baste” que foi elaborado com “conta, peso e medida” para “consumo”
interno, correspondendo às indicações de voto do eleitorado norte americano,
que perante Obama, “auto-satisfazendo-se”, poderá dizer que foi para ouvir este
tipo de discursos que votaram nele!
Está longe de ser
na verdadeira acepção da palavra um discurso que discorra sobre como a
“liberdade” foi construída e está a ser assumida e sentida “por inteiro” nos
Estados Unidos da América, em função da história, das assimetrias e dos
desequilíbrios consentidos uns, não consentidos outros (estes na maior parte
dos casos)!
Que custo em
contradições que por vezes se tornaram antagónicas, em sangue, em suor e em
lágrimas não teve de suportar o povo norte americano, em particular as
comunidades índias autóctones, os descendentes dos escravos, os descendentes
latino-americanos, por que as contradições internas não foram resolvidas com
responsabilidade social, com solidariedade, com efectiva justiça social?
Que facturas ainda
os norte americanos e os que sofrem os efeitos da hegemonia norte americana não
terão de pagar por causa dessa “liberdade” tão convidativamente liberal e
sobretudo tão lucrativa para os 1% e tão devastadora para os outros 99%?
O que não estão a
sofrer países como o Haiti, a quem a liberdade tanto deve, por causa da “liberdade”
da hegemonia norte americana?
Toda a
solidariedade para com o Haiti não seria suficiente para contrabalançar a
herança de liberdade que a Revolução haitiana historicamente proporcionou e no
entanto a recuperação do país e do sua sociedade está longe de ter sido
conseguida!
Quanto o
subdesenvolvimento existente em África é provocado por causa dos conceitos tão
intrinsecamente egoístas e falhos de solidariedade, conceitos que se prendem
aos “modelos” da “liberdade” professada e processada historicamente também nos
Estados Unidos e sobretudo a partir deles após a IIª Guerra Mundial?!
Estamos a avaliar
quanto, com o exemplo do Mali, a “liberdade” de Obama se expande e se manifesta
em África!
Para aqueles que no
mundo estão sedentos de solidariedade e têm historicamente sido vítimas
constantes de opressão, de manipulação e de ingerência que fluem desde os
primórdios do capitalismo, este discurso não comporta credibilidade: é um
discurso venenoso, que não emite sinais para uma esperança global que comporte
a esperança daqueles que tendo sido relegados para patamares de
subdesenvolvimento que não se coadunam com a dignidade humana e o respeito que
o planeta exige, são carentes de amor, de dignidade, de humanismo e de justiça!
A responsabilidade
dos Estados Unidos enquanto nação mais poderosa da Terra, não pode ser apenas
avaliada com expressivos discursos a valorizar “intra muros”, pois a
responsabilidade face aos processos de globalização que tiveram a sua
contribuição distende-se e, mesmo que a hegemonia se manifeste no espaço,
sente-se quantas vezes de maneira inimaginável.
Essa
responsabilidade incorre com a responsabilidade de outros que não foram
mobilizados para que houvesse maior equilíbrio e justiça, ou foram deliberadamente
hostilizados!
Quantas elites
nacionais não têm sido apanhadas nessa teia, em nome da “liberdade” e da “democracia”?
A aventura da “liberdade”
e da “democracia” quanto tem custado ao Iraque, ao Afeganistão, à Líbia, à
Síria, à Palestina…
Isso tem ocorrido
em especial com as nações mais frágeis, aquelas que não conseguiram ainda
superar o elevado grau de subdesenvolvimento de seus povos, que estão
precariamente dependentes e estão à mercê dos monstros que têm vindo a ser
desencadeados e das transformações climáticas causadas particularmente pelos
poderosos com os Estados Unidos à cabeça (ainda não assinou o Protocolo de
Kioto!...).
As instituições
económicas, financeiras e políticas internacionais, a título de exemplo,
reflectem as enormes distorções decorrentes da emergência duma hegemonia
unipolar que pode ser muito patriótica, que está plena de “liberdade” (os que
lhe fazem frente passam sacrifícios incalculáveis) que falha por que é
arrogante, quantas vezes criminosa e eticamente não se assume ao nível das
manifestas necessidades em prol desta casa comum que é a Terra!
A lógica com
sentido de vida exige que o mundo enquanto nossa casa comum tenha um outro
nível de atenções, de solidariedade e de integração, cada vez menos a “liberdade”
dos Estados Unidos tratarem o mundo como mais uma “última fronteira”, à imagem
e semelhança do que fizeram no seu próprio território no século XIX!
Carece-se duma
lógica que se manifeste em relação efectiva aos direitos humanos mais
fundamentais: acesso à água, casa condigna, escola, saúde, alimentação,
trabalho... e os Estados Unidos parece que tardam em compreendê-lo, preso que
está o seu poder vinculado a conceitos e modelos duma “liberdade” que não tem
em conta o desencadear das contradições humanas e ambientais, a dialéctica de
que se nutre a própria vida!
Os Estados Unidos
têm assumido a hegemonia instituindo perversidade, provocando todo o tipo de
tensões, de conflitos, de guerras, de assimetrias, de desequilíbrios e de disfunções,
ao invés de orientar o seu enorme potencial para que se multipliquem os
benefícios para todos os habitantes da Terra e se respeite, efectivamente se
respeite, o planeta!
Quando dão um
pequeno passo no sentido dum maior equilíbrio, os interesses dos 1%
sobrepõem-se e açambarcam as conquistas a seu favor, transformando-os em “lucro”…
O planeta, tal como
a humanidade, dá sinal de exaustão sem que hajam melhores alternativas ao
exercício do poder daqueles que, em função do lucro, da ambição desmedida, do
egoísmo e da inconsciência, causam perturbações em cadeia, por vezes
repercutindo numa ordem geométrica!
No discurso de
Obama não foi expressa uma única vez a palavra solidariedade, nem a palavra
integração, mas quantas vezes foi pronunciada a palavra “liberdade”, sem ter em
conta o seu preço inclusive a nível da própria história interna dos Estados
Unidos e das suas acções, continente por continente, década após década!
Por causa da
sobrevalorização dos seus próprios conceitos de “liberdade” um dia os Estados
Unidos lançaram bombas atómicas sobre cidades japonesas e constituiu-se como a
única potência que utilizou a arma nuclear sobre enormes concentrações urbanas,
ferindo e matando milhares e milhares de inocentes!
Obama continua a
senda dessa desmedida “liberdade” falha de solidariedade, de integração e ávida
de globalização neo liberal, pelo que seus programas de educação, de saúde e de
crescimento, ao não se desprenderem da lógica capitalista que é fundamento
desse enredo, indiciam claramente as dificuldades de alguma vez se ter na
devida conta a lógica com sentido de vida de que estão tão carentes largos
sectores da sociedade norte americana, a humanidade e o planeta!
A cosmética de
princípios nada tem a ver com os princípios, por que o lucro, o poder
económico, o poder financeiro, o poder político impedem a assumpção ética
desses mesmos princípios!
É assim que se
constrói o império!
Foto: Pompa e
circunstância com discursos que constituem uma autêntica alienação da realidade
(foto retirada de “O prémio Nobel da morte” – http://resistir.info/eua/nobel_da_morte.html).
A consultar:
- Killing Hope – http://en.wikipedia.org/wiki/Killing_Hope;
http://www.thirdworldtraveler.com/Blum/KillingHope_page.html
- Sand Creek – http://en.wikipedia.org/wiki/Sand_Creek_massacre;
http://www.globalsecurity.org/intell/systems/creek-sand.htm
- EEUU está fundado
sobre el genocídio y los escravos – http://www.cubadebate.cu/noticias/2012/01/22/michael-moore-eeuu-esta-fundado-sobre-el-genocidio-y-los-esclavos/
- Occupy Wall
Street – http://en.wikipedia.org/wiki/Occupy_Wall_Street;
http://www.guardian.co.uk/world/occupy-wall-street
- Democracy Now – http://www.democracynow.org/
- El sistema de
sufrimiento que Estados Unidos impone a los pueblos del mundo (1965-2014) – Há
muerto tanta gente… - http://www.rebelion.org/noticia.php?id=162221
- The secret wars
of CIA – http://www.informationclearinghouse.info/article4068.htm
- A ascensão do
estado policial e a ausência de posição em massa – http://resistir.info/petras/petras_25jul12.html
- Uma terrível
normalidade: os massacres e as aberrações da História – http://operamundi.uol.com.br/conteudo/opiniao/26931/uma+terrivel+normalidade+os+massacres+e+as+aberracoes+da+historia.shtml
- À sombra de
Hiroshima – http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=20667&editoria_id=6
- Estados Unidos
autores de crimes atómicos – http://tudoparaminhacuba.wordpress.com/2013/01/05/estados-unidos-autor-de-crimes-atomicos-aiea-bombanuclear-ira-energiaatomica-estadosunidos/
- O prémio Nobel da
morte – http://resistir.info/eua/nobel_da_morte.html
- The
Destabilization of Africa – http://rense.com/general10/destabilization.htm
- America’s secret
wars in Africa – http://www.globalresearch.ca/americas-secret-war-in-africa/5307958
- Dirty Wars: el
infierno de las guerras de Obama – http://www.rebelion.org/noticia.php?id=162821&titular="dirty-wars":-el-infierno-de-las-guerras-de-obama-
- Desigualdades
para todos – http://operamundi.uol.com.br/conteudo/noticias/26765/desigualdade+para+todos+documentario+expoe+abismo+social+nos+eua.shtml
- Armas de fuego en
EEUU – un cancer cultural – http://www.rebelion.org/noticia.php?id=163457
- Un documento
“escalofriante” sobre los asesinatos extrajudiciales – http://www.rebelion.org/noticia.php?id=163455
- Globalizing
torture – http://www.opensocietyfoundations.org/sites/default/files/globalizing-torture-20120205.pdf
- Casa Branca
ganhou processo para manter em segredo o assassinato de cidadãos
norte-americanos por drones – http://www.odiario.info/?p=2764
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