quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

HABEMUS INACIUS I





Na tarde do domingo de Carnaval (10), Bento XVI (foto) tuitou: “Somos todos pecadores”. No dia seguinte, os católicos foram surpreendidos com o anúncio oficial da renúncia papal, algo que não acontecia há quase 600 anos (o último papa a renunciar foi Gregório XII, em 1415). Numa curta mensagem, o alemão Joseph Ratzinger afirmou ter “examinado repetidamente” sua consciência e chegado à conclusão de que “suas forças, devido à idade avançada, já não são idôneas para exercer adequadamente o ministério de São Pedro”. Por pouco não fez uma hastag: #Fui.

A renúncia de Bento XVI não surpreende. Desde sua ascensão, há quase oito anos, a Igreja Católica voltou a mergulhar em anacrônico dogmatismo. Em tempos de explosão horizontal da informação e domínio absoluto das ferramentas digitais, algumas doutrinas religiosas perecem ante a sociedade contemporânea. Não é uma questão de fé, mas de premente laicismo nas relações com a “Res Publica”(“Coisa Pública”). Fé todos podem (e talvez devem) ter, adeptos a religião ou seita que melhor lhe convir (ou até sem elas). No entanto, essa fé não pode pretender guiar ou nortear as ações de um Estado.

Mergulhados em dogmas e tentando resgatar algum poderio nas nações onde ainda tem grande número de fiéis (como no Brasil e nos países africanos, por exemplo), sob Bento XVI os católicos assistiram o levante de igrejas protestantes e reformistas e o Vaticano tornou-se alvo de sucessivas denúncias de corrupção, entre elas a vultosa acusação de lavagem de dinheiro no Instituto para as Obras de Religião, mais conhecido como Banco do Vaticano. As autoridades italianas responsáveis pela investigação estimam que o esquema tenham movimentado 200 milhões de Euros.

Fartamente criticado, Bento XVI abriu dois flancos de luta: tentou se aproximar da juventude digital (chegando a abrir uma conta no Twitter); e proferiu discursos supostamente diplomáticos com outras religiões e seitas na busca esquizoide de apoio às orientações de forte conservadorismo de seu pontificado. Paixões e ardores à parte, Joseph Ratzinger falhou. Muito além das denúncias de corrupção, fez vista grossa a temas de urgente observação na Igreja, como as constantes denúncias de abuso sexual por padres (incluindo até pedofilia), o reconhecimento do sacerdócio feminino, a assunção de direitos humanitários (que vão muito além do conceito de Direitos Humanos) e a responsabilidade da religião nas mazelas do continente africano, especialmente no que tange à Saúde. Provavelmente, sua renúncia esteja situada no reconhecimento desse malogro na condução da Igreja Católica rumo ao século 21.

Por outro lado, a renúncia de Bento XVI pode revelar uma nova “estratégia comercial”, digamos assim, da Igreja Católica. Tão logo anunciada a abdicação papal, especialistas do Vaticano trataram revelar uma lista com os dez cardeais favoritos à sucessão. Dentre eles, há destaque para dois religiosos brasileiros: Odilo Scherer, cardeal arcebispo de São Paulo; e João Braz de Aviz, cardeal-chefe do Departamento para Congregações Religiosas e ferrenho defensor da aproximação com a América Latina. Analistas internacionais, ouvidos pela imprensa desde a tarde de segunda-feira (11), apontam Dom Odilo Scherer como franco-favorito ao “Trono de Pedro”.

É fato: o Brasil desponta em importância no cenário mundial em crise; nosso país, neste 2013, será sede da Jornada Mundial da Juventude; no ano seguinte os olhos do mundo estarão voltados para a Copa do Mundo em solo brasileiro; e a mira internacional será mantida até 2016, quando o Rio de Janeiro irá sediar, pela primeira vez na América Latina, os Jogos Olímpicos. Num momento de tal foco planetário, a Igreja Católica pode realizar um movimento cirúrgico: consagrar, pela primeira vez na História, um brasileiro como seu Sumo Pontífice. Vem daí o favoritismo de Odilo Scherer.

Como as redes sociais não perdoam quase nada, a vacância do “cargo” de líder supremo dos católicos já virou motivo de piada e os internautas criaram a hastag“#Inacius I”, referência burlesca à candidatura ao papado do ufano ex-presidente Lula da Silva. Já imaginaram o anúncio oficial? “Habemus Papam! Sua Santidade, Inacius Primeiro e Único!” Senhor, afaste-o (e afaste-nos!) deste cálice.

*Helder Caldeira é escritor, jornalista político, palestrante e conferencista, autor do livro “A 1ª PRESIDENTA” (Editora Faces, 2011, 240 páginas), primeira obra publicada no Brasil com a análise da trajetória da presidente Dilma Rousseff, e comentarista político da REDE RECORD de Mato Grosso, onde apresenta o quadro“iPOLÍTICA” e os telejornais “JORNAL MÉDIO NORTE” e “JORNAL PISOM”.

www.heldercaldeira.com.br – helder@heldercaldeira.com.br

1 comentário:

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