Na tarde do domingo
de Carnaval (10), Bento XVI (foto) tuitou: “Somos todos pecadores”. No dia
seguinte, os católicos foram surpreendidos com o anúncio oficial da renúncia
papal, algo que não acontecia há quase 600 anos (o último papa a renunciar foi
Gregório XII, em 1415). Numa curta mensagem, o alemão Joseph Ratzinger afirmou
ter “examinado repetidamente” sua consciência e chegado à conclusão
de que “suas forças, devido à idade avançada, já não são idôneas para
exercer adequadamente o ministério de São Pedro”. Por pouco não fez uma hastag: #Fui.
A renúncia de Bento
XVI não surpreende. Desde sua ascensão, há quase oito anos, a Igreja Católica
voltou a mergulhar em anacrônico dogmatismo. Em tempos de explosão horizontal
da informação e domínio absoluto das ferramentas digitais, algumas doutrinas religiosas
perecem ante a sociedade contemporânea. Não é uma questão de fé, mas de
premente laicismo nas relações com a “Res Publica”(“Coisa Pública”). Fé
todos podem (e talvez devem) ter, adeptos a religião ou seita que melhor lhe
convir (ou até sem elas). No entanto, essa fé não pode pretender guiar ou
nortear as ações de um Estado.
Mergulhados em
dogmas e tentando resgatar algum poderio nas nações onde ainda tem grande
número de fiéis (como no Brasil e nos países africanos, por exemplo), sob Bento
XVI os católicos assistiram o levante de igrejas protestantes e reformistas e o
Vaticano tornou-se alvo de sucessivas denúncias de corrupção, entre elas a
vultosa acusação de lavagem de dinheiro no Instituto para as Obras de Religião,
mais conhecido como Banco do Vaticano. As autoridades italianas responsáveis
pela investigação estimam que o esquema tenham movimentado 200 milhões de
Euros.
Fartamente
criticado, Bento XVI abriu dois flancos de luta: tentou se aproximar da
juventude digital (chegando a abrir uma conta no Twitter); e proferiu discursos
supostamente diplomáticos com outras religiões e seitas na busca esquizoide de
apoio às orientações de forte conservadorismo de seu pontificado. Paixões e
ardores à parte, Joseph Ratzinger falhou. Muito além das denúncias de
corrupção, fez vista grossa a temas de urgente observação na Igreja, como as
constantes denúncias de abuso sexual por padres (incluindo até pedofilia), o
reconhecimento do sacerdócio feminino, a assunção de direitos humanitários (que
vão muito além do conceito de Direitos Humanos) e a responsabilidade da
religião nas mazelas do continente africano, especialmente no que tange à
Saúde. Provavelmente, sua renúncia esteja situada no reconhecimento desse
malogro na condução da Igreja Católica rumo ao século 21.
Por outro lado, a
renúncia de Bento XVI pode revelar uma nova “estratégia comercial”, digamos
assim, da Igreja Católica. Tão logo anunciada a abdicação papal, especialistas
do Vaticano trataram revelar uma lista com os dez cardeais favoritos à sucessão.
Dentre eles, há destaque para dois religiosos brasileiros: Odilo Scherer,
cardeal arcebispo de São Paulo; e João Braz de Aviz, cardeal-chefe do
Departamento para Congregações Religiosas e ferrenho defensor da aproximação
com a América Latina. Analistas internacionais, ouvidos pela imprensa desde a
tarde de segunda-feira (11), apontam Dom Odilo Scherer como franco-favorito ao
“Trono de Pedro”.
É fato: o Brasil
desponta em importância no cenário mundial em crise; nosso país, neste 2013,
será sede da Jornada Mundial da Juventude; no ano seguinte os olhos do mundo
estarão voltados para a Copa do Mundo em solo brasileiro; e a mira
internacional será mantida até 2016, quando o Rio de Janeiro irá sediar, pela
primeira vez na América Latina, os Jogos Olímpicos. Num momento de tal foco
planetário, a Igreja Católica pode realizar um movimento cirúrgico: consagrar,
pela primeira vez na História, um brasileiro como seu Sumo Pontífice. Vem daí o
favoritismo de Odilo Scherer.
Como as redes
sociais não perdoam quase nada, a vacância do “cargo” de líder supremo dos
católicos já virou motivo de piada e os internautas criaram a hastag“#Inacius
I”, referência burlesca à candidatura ao papado do ufano ex-presidente Lula da
Silva. Já imaginaram o anúncio oficial? “Habemus Papam! Sua Santidade,
Inacius Primeiro e Único!” Senhor, afaste-o (e afaste-nos!) deste cálice.
*Helder Caldeira é
escritor, jornalista político, palestrante e conferencista, autor do livro “A
1ª PRESIDENTA” (Editora Faces, 2011, 240 páginas), primeira obra publicada
no Brasil com a análise da trajetória da presidente Dilma Rousseff, e
comentarista político da REDE RECORD de Mato Grosso, onde apresenta o
quadro“iPOLÍTICA” e os telejornais “JORNAL MÉDIO NORTE” e “JORNAL
PISOM”.
www.heldercaldeira.com.br –
helder@heldercaldeira.com.br
1 comentário:
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