domingo, 17 de março de 2013

Cabo Verde: ENTRE PRIMAVERA SOVIÉTICA E VERÃO CRIOULO – QUE DIFERENÇAS?

 

 
Carlos Sá Nogueira – Cabo Verde Direto, opinião
 
O jornal asemanaonline publicou em 13 de Março uma notícia intitulada “Mais um caso de roubo de armas nas FA”. Fala-se, agora, em mais de 300 “armas ligeiras de alto calibre” que estarão nas mãos de “um grande traficante de drogas”
 
Moscovo amanheceu debaixo de uma Primavera quente e a ex-URSS celebrava o dia de Guarda de Fronteiras. Após percorrer 850 quilómetros e atravessar a impenetrável defesa antiaérea soviética, o aviador Mathias Rust aterrissou na Praça Vermelha, em Moscou, no dia 28 de maio de 1987. Destaque em diversos veículos de informação ocidentais, a notícia correu o mundo e causou grande choque na liderança na União Soviética.
 
A guerra fria encontrava-se no seu auge e a derrocada do Bloco de Leste estava preste a acontecer. Títulos como "Um alemão atravessou a Cortina de Ferro", anunciavam as manchetes da imprensa ocidental, causando, naturalmente, grande choque na liderança soviética, de então. Isso só aconteceu porque, segundo especialistas em questões militares, o sistema da defesa antiaérea soviético possuía brechas e podia ser atravessado por pequenos aviões que, se necessário, seriam capazes de levar a bordo munição nuclear ou bombas com substâncias tóxicas, com consequências imprevisíveis para o império soviético.
 
Demissão maciça
 
Na sequência desse escândalo, uma reunião extraordinária do Conselho Político do Comité Central do Partido Comunista da União Soviética foi convocada, de emergência. Da decisão saída dava conta que três marechais e cerca de 300 generais e coronéis responsáveis pela defesa antiaérea foram demitidos, dentre eles o então ministro da Defesa, Serguêi Sokolov, e o comandante da Defesa Antiaérea, Aleksandr Koldunov.
 
Para alguma imprensa ocidental, essa foi a maior campanha de expurgação no alto comando militar da ex-União Soviética sob a batuta de Mikhail Gorbatchov, desde a repressão estalinista de 1937,

Estarão, com certeza, os caros leitores a perguntarem-se: mas para quê, que esta história é lembrada, agora, depois de mais de 25 anos do seu acontecimento e do desmoronamento do Bloco de Leste? Pois, sim senhores! Esta efeméride que ficará, decerto, na História Universal da Aviação Civil convoca-nos, desde logo, a refletir sobre a pseudorrealidade inquebrantável do sistema de segurança no mundo, liderado pelos países como: Rússia, EUA, China, India, Correia do Norte e do Sul, etc. Mas o texto deixa-nos também, grandes pistas para reflexões sobre como agir ética e moralmente, quando os sujeitos com responsabilidade política e governativa, cometem erros crassos como aqueles que o ministro da defesa da URSS, Serguêi Sokolov, os três marechais e os seus cerca de 300 generais cometeram, aquando da aterragem da avioneta monomotor Cessna 172, na noite da primavera, na Praça Vermelha, em pleno centro de Moscovo. Este facto pôs a nu também o mito do indefesso sistema de segurança da ex-URSS.

Ética de Responsabilidade

Outrossim, convida-nos, a olhar para a nossa realidade no capítulo da Segurança Nacional e da tão propalada Ética de Responsabilidade, reiteradamente, evocada pelo Governo de PAICV, por sinal, um partido de inspiração e matriz comunista, à semelhança do PCUS – Partido Comunista da União Soviética, de então, liderado por Mikhail Gorbatchov.

Se a aterragem na Praça Vermelha de uma avioneta, quebrando o sistema de segurança da ex-URSS, conhecida pela “cortina de ferro”, numa altura em que o mundo vivia a guerra fria, um período histórico de disputas estratégicas e conflitos indiretos entre os EUA e a URSS levou a demissão maciça do ministro da Defesa e dos principais responsáveis militares, em Cabo Verde, o País de Rendimento Médio (PRM) e em pleno Estado de Direito Democrático, continuamos, ainda, a assistir casos sui generis.

Senão vejamos: o jornal asemanaonline publicou em 13 de Março uma notícia intitulada “Mais um caso de roubo de armas nas FA”. Fala-se, agora, em mais de 300 “armas ligeiras de alto calibre” que estarão nas mãos de “um grande traficante de drogas”. Este episódio originou, para já, um grande aparato militar, que se encontra no terreno para tentar recuperar essas armas. Sabe-se, entretanto, que este é o segundo caso de roubo de armas nos armazéns da 3ª Região Militar. O último remonta a Julho de 2011.

“Até que ponto estarão relacionados os dois casos”, pergunta que aquele jornal faz cuja resposta os cabo-verdianos gostariam de ouvir, o mais rapidamente possível dos responsáveis que conduzem as investigações. Contudo, uma coisa é certa. É que fontes das FA citadas por esse órgão de informação, “não estranham mais esse desvio de armas do paiol de Fontes de Almeida, dado o ‘controlo ainda precário’ existente nos serviços de logística das nossas FA.

Armas na posse de traficante de droga

Um militar de alta patente, citado por asemanaonline confirma, ainda, que ‘houve extravio de armas, cuja quantidade não posso precisar neste momento. Estamos em franca recuperação destas armas, e tudo indica que boa parte delas está na posse de um traficante de droga que já foi militar e contou, no passado, com a conivência de um familiar de alta patente que ocupou funções de alta responsabilidade nas FA, inclusive ligadas à logística. Portanto, é uma rede antiga que precisa ser desmantelada, sob pena de os nossos quartéis passarem a armar traficantes com recursos do Estado. E com todas as implicações que tal situação pode ter na Segurança Interna de Cabo Verde. São repetidos casos graves a que as FA vão ter que pôr cobro’.

A similitude entre a Primavera Soviética e o caso de roubo de armas nos armazéns militares em Cabo Verde, gravita em torno da questão da segurança interna dos dois países. O caso de aterragem do avião monomotor Cessna 172, na Praça Vermelha, em Moscovo, em Maio de 1987, evidenciou o potencial perigo de ataques ao Império Soviético, numa altura em que a guerra-fria estava no seu auge. Embora nessa época a Rússia não enfrentasse, ainda, as ameaças terroristas. Ainda, assim, esta efeméride levou a demissão do ministro de defesa russo, do comandante da defesa e dos principais responsáveis militares. Tudo, porque o que esteve em causa era, justamente, a ameaça à soberania e à segurança interna da então URSS. Nestes casos, manda o imperativo ético que os responsáveis da governação ajam em consequência.

Curiosamente, essa decisão partiu do Conselho Político do Comitê Central do PCUS, o partido-estado da ex-URSS, país onde se formou vários quadros do PAICV e dos seus satélites (JAAC-CV e OPAD-CV).

Diferenças substanciais

Afinal que diferenças substanciais existem entre a Primavera Soviética e o Verão Crioulo? A diferença está, justamente, no facto de a ex-URSS tinha à frente da liderança do PCUS e do país, um senhor chamado Mikhail Gorbatchov que aproveitou o voo de Rust para se livrar dos altos oficiais que opunham às suas reformas voltadas para a democratização e abertura informativa da sociedade soviética.

Cabo Verde que tem à frente um Governo de esquerda, de matriz comunista, liderado por José Maria Neves que, nas eleições legislativas de 2011, teve como divisa da sua campanha eleitoral: “Mais Cabo Verde” ignora, pura e simplesmente a questão da segurança interna, mantendo em funções o ministro da defesa, o Chefe de Estado Maior das Forças Armadas, o Comandante da 3ª região Militar e os principais responsáveis pela logística militar do País.

Só em Cabo Verde, é que os arsenais de guerra são assaltados e roubados e o ministro de defesa, o CEMFA, o comandante da 3ª Região Militar e os principais responsáveis dos armazéns são mantidos em funções. Sobretudo quando, altas patentes das FA admitem um ‘controlo precário’ que põe, naturalmente, em causa a segurança interna do País. Quando já se sabe, outrossim, que as mais de 300 armas ligeiras de alto calibre estarão na posse de um traficante de droga. É ou não, um falhanço na execução de políticas de segurança interna do Governo do PAICV e de JMN? Não acha, o senhor primeiro-ministro, que esta é a estação onde o ministro de defesa e os seus comparsas devem descer? E a oposição o que é que diz sobre esta matéria? Vai ou não, agendar uma interpelação ao Governo sobre este assunto? Não anda o MpD, um pouco distraído, sobre os grandes acontecimentos do País? Terá ou não, o Senhor Presidente da República, enquanto Comandante Supremo das FA, uma palavra a dizer sobre este caso?

Tenho dito!
 

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