Pedro Marques Lopes
– Diário de Notícias, opinião
1 - Alguém com quem
trabalhei dizia que quando uma reunião era muito longa, das duas uma: ou
ninguém se entendia ou ninguém sabia o que fazer. Esse empresário e gestor
também gostava de lembrar que um chefe que num quarto de hora não percebia que
não se ia decidir nada ou que antes da reunião não sabia já o seu desenlace não
servia para liderar coisa nenhuma.
Em poucas
dimensões, a comparação entre gerir empresas privadas e o Estado faz sentido, e
mal andam políticos e gestores quando confundem as duas realidades na maioria
dos métodos e sobretudo nos objectivos, mas foi impossível não recordar as
palavras desse meu antigo chefe enquanto via a conferência de imprensa do
Governo na passada quinta-feira.
O actual Governo já
nos habituou a cenas não muito ortodoxas, digamos assim, mas depois duma
reunião de onze horas convocar os jornalistas para, no fundo, dizer que não
havia nada a dizer é, no mínimo, patético. Não nos disseram onde vão ser feitos
os cortes, nem em que rubricas, nem como vão ser taxados os subsídios de
desemprego e doença e também ninguém percebeu bem o novo possível imposto às
PPP. Não fosse o ministro Marques Guedes ter lido as directivas comunitárias e
a capacidade do ministro Maduro para repetir a palavra consenso e nada tinha
saído daquela risível conferência.
Como se presume que
os ministros não estiveram a falar de futebol, uma de duas coisas pode ter
acontecido: ou não se entenderam e o primeiro-ministro não foi capaz de lhes
impor uma determinada linha, ou ninguém no Governo faz a mais pequena ideia do
que fazer. Tendo sido o próprio Passos Coelho a anunciar que depois desse
Conselho de Ministros iam ser anunciadas as medidas concretas e que com esse
anúncio ia até ser suspenso o despacho que dava todo o poder nos gastos dos
ministérios a Gaspar (entretanto o dito despacho continua a vigorar), tudo
levava a crer que já estava tudo pensado. Mas, como é habitual neste Governo,
nada estava feito, nada estava estudado.
Não, o Governo não
sabe o que fazer. O que não surpreende. Andam há meses para explicar como vão
fazer o corte de 4000 milhões, que fará agora quando têm de acrescentar mais
1300. No final será como de costume: uma coisa feita em cima do joelho sem
reflexão ou critério com um valor no fundo da coluna para agradar a burocrata
troikiano.
Bom, pode ser que a
um qualquer ministro reste um pingo de bom senso e tenha explicado o óbvio: o
corte de 5500 milhões pode ser feito claro está, mas com ele vai o País. Vai a
nossa coesão social, as desigualdades atingiriam níveis inimagináveis, o
desemprego dispararia , a nossa saúde pública não teria o mínimo de qualidade e
a nossa educação pública seria apenas uma caricatura. Mas não, mesmo que isso
tivesse acontecido, lá estaria o primeiro-ministro para destratar tal herege.
O facto é que o
Governo com o fim da quimera dos 4,5% e com a constatação do criminoso falhanço
da receita troikiana não sabe, pura e simplesmente, o que fazer. Tentou ir
buscar o passado para se desculpar, mas desculpas não servem para governar um
país.
Agora o Governo tem
um novo discurso: o consenso. Aliás, o ministro Maduro, na conferência de
imprensa, repetiu e voltou a repetir a palavra. Esqueceu-se foi de explicar de
que consenso estava a falar. Consenso sobre o quê? Em relação a que políticas?
O responsável pela comunicação do Governo passou a mensagem, o coordenador
político é que se esqueceu de lhe dar conteúdo.
De que consenso se
fala quando grande parte do PSD, do PS, de todos os parceiros sociais sem
excepção, da esquerda à direita, dizem que o caminho que o Governo e a troika
querem continuar a prosseguir não é o defendido por eles?
O consenso na boca
do Governo não passa duma palavra vazia de significado. Pior, o consenso que o
Governo quer é em redor de políticas e medidas que já se provaram erradas e que
estão a destruir o País. Consensos para o suicídio, não obrigado.
2-O CDS está a ser
alvo de bullying político. A falta de respeito é tanta que o primeiro-ministro
até no Parlamento trata mal o líder parlamentar do CDS.
Pode João Almeida
falar, Diogo Feio gritar, Pires de Lima pedir remodelações, Portas faltar a
tomadas de posse, que para o primeiro-ministro é música. Não ouve o CDS nem lhe
dá a confiança de lhe dizer o que quer que seja.
Passos Coelho sabe
que Portas sabe que está amarrado ao Governo e está a fazê-lo pagar o episódio
da TSU, desconsiderações passadas e outras mais recentes. Portas teve a
oportunidade de sair do Governo (e ele sabia, e sabe, que o caminho estava
errado) e conservar capital político, agora é tarde. Vai ser humilhado até ao
fim por Passos Coelho e depois vai sofrer uma hecatombe eleitoral. Há horas
infelizes.
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