Eduardo Oliveira
Silva - Jornal i, opinião - editorial
Durante o dia de
hoje devem definir-se aspectos concretos do plano do governo para os cortes
estruturais e também os que estão devem substituir--se às medidas vetadas pelo
Tribunal Constitucional. É, porém, de esperar que os aspectos concretos das
duas matérias continuem no segredo da veneranda presidência do conselho.
A primeira das matérias tem de ser vertida para o Documento de Estratégia
Orçamental, que se estende deste ano até 2017. Hoje é a data-limite para se
conhecerem os termos genéricos do documento. É nele que estão inseridos os
célebres 4 mil milhões de cortes estruturais. O segundo é, pura e simplesmente,
o Orçamento Rectificativo, que tem de ser apresentado este mês e pressupõe
medidas imediatas.
Admitindo que os assuntos sejam mesmo despachados hoje sem mais dramas, cenas e
ranger de dentes; esperando que impere um bom senso que permita que as medidas
não sejam um desmentido cabal ao relançamento anunciado há dias por Santos
Pereira, há ainda uma coisa muito importante a esclarecer: afinal o que quer
Vítor Gaspar?
Apesar do discurso feito ontem por Passos Coelho e das palavras falsamente
consensuais de Gaspar noutra intervenção, as mais recentes posições concretas
do número dois do governo apontam de forma óbvia para um cenário de provocação pura
e simples ao número dois da coligação. Ou seja, Gaspar afronta Portas. E para
quê? A resposta é evidente: Gaspar quer que Passos o substitua.
Maquiavélico? Certamente que não. Sair por iniciativa de Passos é a solução que
lhe resta para, mais tarde, poder dizer que que não teve culpa nenhuma e que
não o deixaram acabar o trabalho. Mesmo que não o grite pelos telhados e
parangonas da comunicação, é isso que dirá na rádio alcatifa dos areópagos do
poder onde cresceu e se desenvolveu, cá e fora do país. Um dia até pode ser
considerado um quase génio a quem tiraram o tapete, como arvoraram Silva Lopes
e Braga de Macedo, que, por manifesta ignorância, chegam a ser comparados com
Ernâni Lopes.
Sair por vontade própria (como deveria, para fazer face aos seus erros e
resultados económicos e financeiros) seria para Gaspar o reconhecimento de um
fracasso pessoal, total e absoluto, a que também ficariam inequivocamente
ligadas as instâncias que comandam a troika, nomeadamente o BCE, o FMI e a
União Europeia.
Vítor Gaspar não é um técnico puro, nem nunca foi. É fundamentalmente um
político com uma especialidade debaixo do braço ou um técnico que virou
político. Mexe-se em ambientes em que a competência técnica não é um valor
transcendente, mas apenas uma percentagem da quota para o lugar.
Quem acredita que Strauss- Kahn ou Lagarde eram os melhores para o FMI, quando
lá estão por ser franceses e por terem apoios de lóbis? Quem pensa que Barroso
era o político mais sábio da Europa? Para não citar mais exemplos numa lista
inesgotável, basta evocar mais um e também português: Vítor Constâncio. Falar
de competência para justificar a sua posição é pura e simplesmente hilariante.
Os exemplos podiam ser multiplicados numa escala inesgotável. Vítor Gaspar não
é excepção. Por mais que não queira, é um político, mais um…
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