JSD - Lusa
Cidade da Praia, 19
mai (Lusa) - O cabo-verdiano deve juntar-se ao português como língua oficial de
Cabo Verde, devendo, para tal, serem aceleradas as discussões em redor do tema,
concluíram hoje os participantes num fórum parlamentar sobre o bilinguismo no
arquipélago.
Projeto há longos
anos em discussão, a oficialização do crioulo de Cabo Verde como língua
nacional do arquipélago, ao lado do português, não tem avançado, face às
diferentes variantes de uma língua que, apesar de ter base gramatical, ainda é
alvo de fortes divergências entre os falantes das nove ilhas habitadas no país.
No fórum,
intitulado "Por Um Bilinguismo Social Efetivo: A Oficialização da Língua
Cabo-Verdiana", que decorreu na Cidade da Praia, a justificação na base da
oficialização está a imperatividade de os cidadãos cabo-verdianos terem o dever
de conhecer as línguas oficiais e o direito de usá-las.
"O bilinguismo
desafia os poderes públicos para políticas linguísticas inovadoras",
apelaram os participantes, que defenderam que o Estado deve promover a
construção progressiva do bilinguismo social efetivo das duas línguas em Cabo
Verde.
Nesse sentido,
concluíram, deverão ser accionados todos os mecanismos que envolvam a sociedade
civil na elaboração das propostas técnicas, bem como promover um programa
sistemático de investigação da língua cabo-verdiana, com descrição de todas as
suas variedades, na perspectiva do seu desenvolvimento lexical e estilístico.
Ao intervir no
fórum, o presidente da Assembleia Nacional (AN) cabo-verdiana, Basílio Mosso
Ramos, admitiu que a oficialização do cabo-verdiano "não é uma tarefa
fácil", mas defendeu, porém, ter chegado a hora da sua materialização.
"Se a nossa
sociedade já é maioritariamente bilingue, e é verdade que estamos condenados a
ser bilingues, devemos envidar todos os esforços para a construção de um
bilinguismo efetivo", acrescentou Basílio Ramos, assegurando que a língua
portuguesa manteria as funções que já vem desempenhando, agora a par da língua
materna.
Por seu lado, o
ministro da Cultura cabo-verdiano, Mário Lúcio Sousa, admitiu que a falta de
consenso nacional tem impedido a oficialização do cabo-verdiano.
"Tendo em
conta as diferentes variantes, a uniformização da escrita tem sido um dos
fatores da falta de consenso. Mas essas questões poderão tratar-se mais tarde.
Hoje, não há bolsas de resistência, há uma compreensão do que se quer, que é
oficializar o património linguístico e não uma escrita ou uma variante",
frisou.
"A questão da
língua está na sociedade civil. O Parlamento deve alterar a Constituição.
Quando o Parlamento, as instituições nacionais e o Governo decidirem de comum
acordo, podem marcar uma revisão constitucional para a oficialização do
crioulo", concluiu.
O cabo-verdiano já
tem alfabeto, instituído oficialmente em janeiro de 2009, dez anos após a
introdução do ALUPEC (Alfabeto Unificado para a Escrita do Crioulo), embora
pouca influência tenha na escrita, e funciona como um sistema gráfico nacional,
composto por 24 letras e quatro dígrafos.
As letras são A B D
E F G H I J K L M N Ñ O P R S T U V X Y Z, enquanto os dígrafos são: J LH NH
TX.
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