segunda-feira, 24 de junho de 2013

A COBARDIA POLÍTICA DE CAVACO, parte II



Henrique Raposo – Expresso, opinião

Depois do caso apalhaçado, Cavaco Silva resolveu criar outro caso inexplicável. Em Elvas, um cidadão chamado Carlos Costal dirigiu umas palavrinhas amargas ao Presidente. Os impropérios, ao que parece, foram captados por dois polícias à paisana, que, de imediato, agarraram o senhor. Como se esta humilhação não fosse suficiente, Carlos Costal foi ainda forçado a pagar 1300 euros de multa. Ora, mais uma vez, o paizinho da nação perdeu a chance de revelar grandeza. O Presidente devia ter chamado os polícias para lhes dizer "pá, era mesmo necessário?" e, de seguida, devia ter desistido da queixa. Mas não desistiu. Este tipo de cobardia política não se perdoa.

Ilibar o Sr. Costal era a única saída airosa que o Sôr Presidente tinha à disposição. Para quê lançar o peso do Estado sobre alguém que mandou umas bocas ao Presidente? Para quê? Mais: se uma farpa de um cidadão vale 1300 euros de multa, as acções musculadas da CGTP deviam valer o quê? Chibatadas numa garagem escura de Belém? Por outras palavras, este caso é um absurdo e revela, mais uma vez, a cobardia política de um indivíduo mergulhado numa imensa vaidade pessoal.  Cavaco Silva não tolera qualquer beliscão no seu estatuto, um estatuto que julga sagrado.

Nesse sentido, este caso é sintoma de um mal maior: a distância entre a camarilha que nos governa e a realidade. E aqui existem duas subespécies de distância. Uns não sabem mesmo o que fazer perante a dura realidade que eles próprios criaram. Outros, como Cavaco, até sabem aquilo que é preciso fazer, mas recusam defender certas medidas porque não querem ser associados ao fim de uma época. Em ambos os casos, a conclusão é a mesma: o poder em Portugal está paralisado. As pessoas estão nos cargos, mas não têm poder para alterar a realidade. Este e outros casos (os processos de Sócrates contra jornalistas, por exemplo) revelam precisamente um poder desorientado perante a realidade e focado numa mera encenação de poder. Processar jornalistas e cidadãos é coisa de gente fraca.

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