sábado, 8 de junho de 2013

Portugal: PASSOS QUER MAIS SEIS ANOS. POIS…

 

Henrique Monteiro – Expresso, opinião
 
O primeiro-ministro disse, e o Expresso destacou para notícia principal, que o "normal" é recandidatar-se a primeiro-ministro. Como Passos não admite eleições antecipadas, presume-se que quer completar os dois anos de mandato que ainda lhe faltam e depois cumprir mais quatro.
 
Pode ser "normal", como diz. Mas não nestes tempos. Passos não ganha umas eleições nem no prédio dele. As pessoas estão zangadas, estão fartas. Coisa diferente é saber se podia ter sido de outro modo, ou se toda a culpa é de Passos (apesar nos inúmeros tiros nos pés que deu e das piruetas sucessivas com que nos brindou). Mas lá que ele não é eleito, disso podem estar certos.
 
Há dois anos o atual líder do PSD foi escolhido com base num engano: o de que a crise era apenas portuguesa. Como o seu antecessor destruiu boa parte da economia, parecia que assim era. Mas não era. Depois disso, Passos ainda trabalhou estes anos com a convicção de que a crise se resolve em Portugal. Só muito recentemente o Governo começou a dar sinais de ter entendido que tem de haver uma cooperação de toda a Europa para superar a situação em que nos encontramos.
 
Nos próximos dois anos, talvez Passos, o Governo e a generalidade da nossa classe política compreenda que nem a Europa nos salva (incluindo aqueles críticos do Governo que só gritam "crescimento!" como se o dito crescimento nascesse nas árvores). Porque cada país da Europa enfrenta a sua crise específica e precisa salvar-se a si próprio. Cada vez mais, estará cada um por si, pois não creio que até lá consigam (ou sequer aprendam) fazer novas instituições. Em 2015 (se não for antes), quando chegarmos às eleições legislativas, será preciso muita sorte para que Portugal não caia nos braços de um vendedor de ilusões fáceis (claro que Passos também o poderia ser, mas já ninguém acreditará nele), de um palhaço ou de um radical.
 
E nos anos subsequentes - de 2015 a 2019 - o calvário vai continuar. O desemprego vai manter-se elevado, as nossas exportações para a Europa não vão ter o fulgor de que necessitariam, a nossa dívida terá um valor incomportável e a nossa produção continuará baixa e os países emergentes continuarão a tratar o Velho Continente ainda assim com maior delicadeza do que aquela que o Velho Continente lhes dispensou no passado.
 
Vão ser anos terríveis. Pode ser que encontremos gás ou petróleo - talvez para estoirarmos em inutilidades noutro ciclo de prosperidade. Mas ninguém vai aguentar seis anos no poder. Se Passos chegar a 2015, a sua resistência já será digna de nota.
 

Sem comentários:

Mais lidas da semana