A zona euro e o FMI
decidiram, a 8 de julho, conceder uma nova tranche de ajuda à Grécia, como
contrapartida pelo despedimento de 15 mil funcionários. É a melhor maneira de
perder o apoio dos cidadãos à necessária reforma dos serviços públicos, lamenta
um editorialista.
A reforma profunda
da administração pública é urgente e constitui uma prioridade para o país. A
avaliação das estruturas e dos indivíduos, bem como a mobilidade destes, devem
ser instituídas com caráter permanente, no funcionamento do serviço público. Só
assim poderemos construir um Estado moderno, produtivo e eficaz. Isto diz
respeito a todas as reformas. Porque, se forem feitas em benefício do povo
grego, essas reformas deverão ter uma repercussão positiva. Mas como, em alguns
casos, são feitas de forma desordenada, suscitam a desconfiança do povo que
deveria apoiá-las.
Vejamos o caso do
processo de mudança iniciado na função pública. A principal finalidade, por
exemplo, é o despedimento de 15 mil funcionários. Para não melindrar a opinião
pública, fala-se de avaliação, de mobilidade; em resumo, tudo para atingir um
objetivo já fixado: os despedimentos! Isto é redutor para a instituição, gera
desconfianças e cria um clima político e social negativo, num momento em que é
preciso modernizar.
Obsessões
ideológicas da troika
Tanto mais que o
“procedimento de urgência” foi iniciado, sem que dele resulte qualquer
benefício estrutural. Por conseguinte, na realidade, prejudica-se um
procedimento muito sério, apenas porque a troika continua a fazer pressão com
as suas estranhas obsessões ideológicas. Acontece que um tal procedimento pode
pôr em perigo o funcionamento dos municípios, das escolas, dos hospitais e de
outros serviços públicos. A gestão das reformas a realizar é um fator que conta
para o sucesso dessas mesmas reformas. É difícil fazer reformas, quando quase
toda a gente está contra. Bem se viu a má gestão do encerramento da radiotelevisão
pública. Agora, os membros do Governo tentam, sem o conseguir, reparar os
erros cometidos.
Infelizmente, ao
longo dos últimos três anos e meio, ouvimos o discurso da “reforma” nos mais
variados tons e o facto é que o funcionamento do serviço público vai de mal a
pior e quem paga, bem caro, por isso são os cidadãos. O que os deixa ainda mais
desconfiados...
VISTO DE MADRID
“Uma sequência
perversa”
O acordo sobre o
desbloqueamento de mais €6,8 mil milhões para a Grécia é praticamente uma
“espiral de reincidência”,escreve o jornal El País.
Para este diário espanhol, segue a sequência
Grécia-UE: incumprimentos, novos compromissos e pagamento de ajuda. Este guião
repetido inclui três passos. O primeiro é a troika concluir que houve
incumprimento das condições negociadas com o Governo do país onde se deu a
intervenção. Segue-se o compromisso desse Governo de compensar as tarefas não
concluídas, com outras medidas – cortes, reformas ou as duas coisas – ou com a
alteração do calendário, com o objetivo de facilitar a entrega da ajuda da UE.
[...] Mas não se deve esconder a realidade subjacente a esta sequência
perversa: os países resgatados são submetidos a uma pressão que agrava a sua
tendência para não cumprir (Grécia) e/ou provoca explosões nos governos que
aplicam os cortes (Portugal). Tudo isto se conjuga com uma grave incoerência da
parte daqueles que prestam as ajudas: por um lado, insistem na austeridade
exigida aos resgatados […] e, por outro, concluem, como fez o FMI, que a
austeridade requerida só vem agravar os problemas.
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