Nicolau Santos –
Expresso, opinião
O dr. Portas não
gostava de ser o número três do Governo e não gostou que o dr. Passos nomeasse
a dra. Maria Luís para ministra das Finanças. Bateu com a porta e disse que a
sua demissão era irrevogável. Mas o Presidente da República disse que o Governo
só continuava se o dr. Portas ficasse. O dr. Portas disse que então o que era
irrevogável deixava de ser mas só desde que fosse ele a negociar com a troika,
que passasse a mandar em toda a área económica do Governo e que passasse a
vice-primeiro-ministro. O dr. Passos fez-lhe a vontade: nomeou-o
vice-primeiro-ministro, deu-lhe as pastas económicas e disse-lhe para negociar
com a troika. É claro que não se percebe o que, a partir de agora, fará a dra.
Maria Luís, que esteve seis meses a ser preparada pelo dr. Gaspar para negociar
com a troika e manter a política financeira do dr. Gaspar. Vai ela obedecer ao
dr. Passos, ao dr. Portas ou à troika? Vai ela mudar a política financeira?
Qualquer pessoa entende que isso não interessa nada. O que importa é que o dr.
Pires de Lima, que é muito amigo do dr. Portas, vai para a Economia,
desalojando o dr. Álvaro Santos Pereira, que regressa ao Canadá. Mas o dr.
Álvaro também defendia maior protagonismo da Economia face às Finanças, no que
está de acordo com o dr. Portas e o dr. Pires de Lima. Mas o dr. Portas quer
fazer outra política económica e prefere o dr. Pires de Lima ao dr. Álvaro.
Entretanto, o dr. Passos, que fez o governo mais pequeno da história de
Portugal, vai partir os megaministérios, que no arranque governativo ele achou
que era uma excelente ideia mas que, agora, dois anos depois e uma grave crise
política em cima, já não parece tão interessante. E assim a dra. Cristas fica
com menos ministério e o dr. Moreira da Silva, amigo do dr. Passos, ganha o
ministério do Ambiente e também rouba a Energia à Economia. O Trabalho volta
para a Segurança Social e quem ganha é o dr. Mota Soares, que é do partido do
Dr. Portas. O dr. Brito vem recambiado da embaixada de Portugal em Washington
para os Negócios Estrangeiros, ao que se supõe por ordem direta do dr. Barroso.
Resumindo e
concluindo, o dr. Passos manda na dra. Maria Luís, mas a dra. Maria Luís vai
mandar pouco. O dr. Portas manda na Economia, mas não manda na dra. Maria Luís.
Também não manda no Ambiente e Energia. O dr. Barroso manda no dr. Brito. E a
troika não sabe em quem vai mandar. Desconfio, aliás, que estas mudanças todas
foram mesmo para baralhar a troika. Talvez assim seja possível fazer a mesma
política sem parecer que estamos a fazer a mesma política e tudo isto acabe
bem, apesar de até agora estar a correr muito mal.
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