terça-feira, 13 de agosto de 2013

Guiana Francesa: UMA LUTA QUE NÃO É DIVULGADA

 


Mário Augusto Jakobskind / Brecha, São Paulo – Opera Mundi
 
Na Guiana Francesa, foi criado comitê de solidariedade pela independência do conclave colonial da América do Sul
 
Enquanto a voz rouca das ruas tem provocado reuniões e mais reuniões dos representantes do povo, que parecem ainda perplexos com os acontecimentos, o mundo seguia girando com fatos silenciados pela mídia de mercado, que continua tentando incutir o medo na população na cobertura das manifestações.

Não por acaso também os meios de comunicação de mercado procuram incutir na população a ideia segundo a qual o financiamento público de campanha eleitoral é inviável e que serão retiradas verbas da saúde e educação para tal fim.

Não é por aí, porque se o Estado estiver disposto a acatar a voz rouca das ruas, pode perfeitamente dispor de verbas para tornar as campanhas eleitorais sem maiores influências do poder econômico. E não é por acaso também que no mundo político vozes contrárias se fazem ouvir, uma delas, no Estado do Rio de Janeiro, a do Senador Francisco Dornelles. Podem imaginar o motivo da contrariedade do referido político conservador.

Enquanto isso, na nossa vizinhança, mais precisamente na Guiana Francesa, foi criado um Comitê Internacional de Solidariedade pela independência do enclave colonial na América do Sul.

Assinam o manifesto de criação figuras expressivas do continente como Martin Almada, Prêmio Nobel da Paz Alternativo de 2002, a jornalista argentina Stella Calloni, entre outros. Eles explicam que “é necessário nos organizarmos para trabalhar pela total libertação de nossa Pátria Grande que é em primeiro lugar a América do Sul, e em termos mais gerais a América Latina e o Caribe”.

O manifesto assinala ainda que “enquanto grande parte da nossa Pátria Grande hoje está mobilizada na luta por sua segunda e definitiva independência, em algum ponto do caminho temos que retroceder 200 anos e voltar a lutar pela primeira independência, como fizeram Bolívar, Sucre, San Martín, Belgrano, Artigas, e tantos mais”.

Lembram ainda os subscritores do manifesto que “embora pareça mentira, o imperialismo mantém, entre suas varias faces, a do colonialismo direto. E na América do Sul o mantém com as Malvinas como colonia britânica e com a Guiana como colonia francesa”.
 
Nos últimos tempos, para justificar o domínio colonial não se pode esquecer que os britânicos, depois de invadirem as ilhas há exatamente 180 anos, expulsaram a população argentina e implantaram nessas terras uma população trazida de 12 mil quilômetros de distância.

Tais fatos precisam ser divulgados e impedir a persistência da arrogância colonial, não raramente com o apoio de setores cooptados pelas benesses do capital internacional ou mesmo por aqueles mentalmente colonizados.

No caso da Guiana Francesa, sob dominação há mais de quatro séculos, onde os europeus integram a classe privilegiada em detrimento de outras populações vindas forçadas da África e Ásia, ainda por cima lá funciona a base espacial de Kourou, onde são lançados foguetes que colocam em órbita os satélites dos projetos Arianne e Vega, da União Europeia e a Soyuz, da Rússia.

E isso para não falar das riquezas naturais da Guiana Francesa como o ouro, a bauxita, petróleo, reservas de água doce e a biodivesidade.

Sob total e absoluto silêncio da mídia de mercado, o poder colonial francês persegue os lutadores pela independência da Guiana, os líderes de movimentos sociais e sobretudo os militantes do Movimento de Descolonização e Emancipação Social (MDES).

Como se tudo isso não bastasse, os colonialistas franceses favorecem a ida de guianenses para a metrópole para exercerem empregos de segunda categoria, bem como trazem europeus para trabalharem em torno da base espacial com salários altos, enquanto a maioria da população vive em condições precárias.

Neste tempo em que se denunciam violações dos direitos humanos em várias partes do mundo, inclusive servindo de pretexto para intervenções criminosas de países ocidentais – a própria França recentemente em Mali – é preciso tornar público que no enclave colonial que faz fronteira com o Brasil muitos guianenses são vítimas de prisão e torturas.

Tais fatos remetem também à famigerada “Escola Francesa”, aquela que, com base nos crimes de lesa humanidade cometidas pelos serviços de segurança contra o povo argelino em sua luta de libertação nacional, instruiu as ditaduras brasileira e argentina a aplicarem métodos repressivos.

Diante de tais fatos, não se pode deixar de apoiar o manifesto pela independência da Guiana Francesa e exortar também as autoridades brasileiras a se manifestarem sobre os acontecimentos na área vizinha.

E ainda exortar algum editor internacional a não mais silenciar sobre os fatos que estão acontecendo na Guiana Francesa.

(*) Correspondente no Brasil do semanário uruguaio Brecha. Foi colaborador do Pasquim, repórter da Folha de São Paulo e editor internacional da Tribuna da Imprensa. Integra o Conselho Editorial do seminário Brasil de Fato. É autor, entre outros livros, de América que não está na mídia, Dossiê Tim Lopes - Fantástico/IBOPE
 

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