Deutsche Welle
Secretário de
Estado americano visita Brasil pela primeira vez em momento delicado da relação
entre os dois países e tenta aliviar tensão antes da viagem que Dilma fará aos
EUA para se reunir com Obama.
O chanceler Antonio
Patriota recebe nesta terça-feira (13/08) em Brasília o secretário de Estado
americano, John Kerry, que faz sua primeira viagem à América do Sul no cargo. A
visita acontece num momento delicado da relação entre os dois países, arranhada
nas últimas semanas pela controvérsia em torno do caso Edward Snowden e do
megaesquema de espionagem dos EUA.
Temas comerciais
também estarão em pauta, assim como outras questões bilaterais sensíveis. Mas,
de acordo com fontes oficiais, os dois ministros devem centrar as conversas no
tema espionagem a brasileiros, que poderia gerar mal-estar durante a visita da
presidente Dilma Rousseff a Washington em 23 de outubro. Ela será recebida pelo
presidente Barack Obama com honrarias militares e um jantar de gala.
“Não há somente
este ponto crítico. Existem outros pontos que estão há muito tempo na pauta dos
dois países e que não tiveram o devido encaminhamento até agora. Como exemplo,
existe a liberalização da exigência de vistos”, diz Virgílio Arraes, professor
de História Contemporânea da UnB. “A questão do monitoramento de dados no
Brasil é mais um conflito que se soma, mas não é o único ponto de tensão entre
os dois países.”
As denúncias de que
Agência de Segurança Nacional americana (NSA, em inglês) teria espionado em
larga escala e-mails e telefonemas de cidadãos e instituições brasileiros
geraram uma forte reação do governo Dilma, que pediu explicações à Casa Branca
e, junto com seus parceiros do Mercosul, levou o caso às Nações Unidas.
Em 20 de julho, o
vice-presidente dos EUA, Joe Biden, ligou para Dilma, a quem prometeu dar
“informações complementares” sobre o incidente e lamentou a “repercussão
negativa” da revelação de espionagem.
Por causa das
acusações feitas pelo ex-técnico da CIA, o Congresso brasileiro iniciou uma
investigação e ouviu na semana passada o jornalista Glenn Greenwald, colunista
do jornal britânico The Guardian e a quem Snowden entregou vários documentos
com informações sigilosas sobre as ações da NSA.
Greenwald disse que
os EUA usam os dados eletrônicos e telefônicos interceptados não só para
combater o terrorismo, mas também para obter vantagens comerciais e
industriais, como na área de energia e petróleo e, desta forma, ganhar mais
poder através da obtenção de dados sobre negociações econômicas, estratégicas
políticas e competitividade de empresas.
Vistos também em
pauta
As denúncias de
espionagem abalaram a agenda positiva entre os dois países e alguns assuntos
são considerados travados, como o fim da obrigação de visto dos EUA para
viajantes brasileiros, que poderia ser anunciado durante a visita de Dilma a
Obama em outubro.
O Chile, por
exemplo, já foi incluído no programa de isenção de vistos ao aceitar
compartilhar base de dados de segurança com os americanos. “No caso do Brasil,
isso também não afetaria a soberania do país, já que outros países seguem esse
protocolo, que inclusive contempla a reciprocidade”, afirma Arraes.
Antes de chegar a
Brasília, o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, passou nesta
segunda-feira pela Colômbia. Entre os assuntos em pauta com o presidente Juan
Manuel Santos e a chanceler María Ángela Holguín, temas de interesse bilateral,
as negociações de paz com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc)
e a Aliança do Pacífico.
Os EUA têm o
interesse de participar como observador do bloco econômico, que foi lançado em
junho de 2012 por Chile, Peru, Colômbia e México – países que somam 206 milhões
de habitantes e um Produto Interno Bruto (PIB) de mais de 2 trilhões de
dólares, o que representa cerca de 35% de toda a riqueza da América Latina e
mais de 55% das exportações da região.
Brasil e Colômbia
são os mesmos países que receberam a visita do vice-presidente americano, Joe
Biden, em sua viagem à América do Sul no final de maio deste ano. Em seu
segundo mandato, Obama pretende se reaproximar de países da América Latina para
reforçar os laços políticos e econômicos.
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