sexta-feira, 2 de agosto de 2013

VENCER O BLOQUEIO

 

Martinho Júnior, Luanda
 
1 – Se não fossem os ideais e as profundas convicções socialistas, seria muito difícil àqueles que deram a sua contribuição directa na luta do movimento de libertação em África vencer o fascismo-colonialismo, o “apartheid” e algumas das suas sequelas, apesar do capitalismo neo liberal e das “portas escancaradas” que tal lógica tem vindo a obrigar!
 
Se não fossem os ideais e as profundas convicções socialistas, teria sido muito mais difícil aos aliados vencerem os nazis e os fascistas do Eixo na IIª Guerra Mundial!
 
Se não fossem os ideais e as profundas convicções socialistas, seria impossível a Cuba ultrapassar o período especial e atenuar as repercussões do bloqueio criminoso que, contra o povo cubano tem sido imposto pelo império!
 
Se não fossem os ideais e as profundas convicções socialistas, seria impossível a Cuba dar resposta incondicional às situações mais traumáticas vividas pela humanidade, como os terramotos que eclodiram no Haiti e no Paquistão, ou os furacões que têm assolado as Caraíbas, os Estados Unidos (New Orleans) e a América Central, ou a assistência às crianças de Chernobyl!
 
Se não fossem os ideais e as profundas convicções socialistas, seria impossível aos trabalhadores e desempregados compulsivos da Europa começar a formular a resistência às afrontas das crises impostas pelo capital e pela ganância especulativa dos bancos!
 
Se não fossem os ideais e as profundas convicções socialistas, seria impossível à América enveredar pela trilha da sua IIª independência duzentos anos depois do içar das bandeiras, aquela independência que resulta de vitórias cada vez mais consequentes sobre o neo colonialismo centenário imposto a partir do império e como seu prolongamento!
 
Se não fossem os ideais e as profundas convicções socialistas, seria impossível ao mundo estabelecer o contraste entre as acções construtivas e decisivas em prol da paz, perante o disseminar das tensões, conflitos e guerras impostas pelo império!
 
Se não fossem os ideais e as profundas convicções socialistas, seria muito mais difícil dar combate à fome e à pobreza, resultantes dos desequilíbrios globais impostos pela lógica capitalista!
 
2 – Vem tudo isso a propósito duma polémica corrente no Brasil, acerca da assinatura dum acordo entre o estado federal brasileiro com o estado cubano, com vista a que médicos cubanos, num total de 6.000, sejam envolvidos em campanhas que visam alterar a situação de assistência médica e fito-sanitária em alguns dos estados federados do Brasil, onde o “deficit” de condições apropriadas para o exercício do sistema de saúde, bem como de médicos e outros especialistas em medicina, é gritante (em especial os estados do interior como Roraima, Amazonas, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Acre e Goiás).
 
Os obstáculos estão a surgir por parte de entidades do estado de Rio Grande do Sul, um dos estados onde presumíveis sensibilidades progressistas mais se têm evidenciado na vida pública do Brasil, mas também um dos estados que apesar de tudo garante uma cobertura médica e fito-sanitária acima da média do país:
 
“A discussão sobre a interiorização da medicina no Brasil vem de longa data. Historicamente, sempre houve concentração tanto de escolas médicas como de profissionais nos grandes centros urbanos, e não raro as comunidades mais longínquas, principalmente na zona rural, acabam ficando sem a presença do médico.

Agora, um novo capítulo se soma a essa realidade. Para minimizar o déficit desses profissionais nas regiões mais carentes do País, o governo federal poderá trazer seis mil médicos cubanos para atuar no Brasil. A informação foi divulgada ontem pelo ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, após reunião com o chanceler de Cuba, Bruno Rodríguez.
 
No Rio Grande do Sul, as entidades ligadas à área não receberam o projeto com o mesmo entusiasmo. O presidente do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers), Paulo de Argollo Mendes, classifica o acordo como demagógico e ideológico. É um plano que desconhece e ignora a realidade do País, uma vez que não há falta de médicos no Brasil. O que se precisa é dar a esses profissionais condições dignas para trabalhar junto ao Sistema Único de Saúde (SUS). Infelizmente, o sistema paga pouco e os recursos para exercer o trabalho são pífios, afirma.
 
Em relação à interiorização da saúde pública pretendida entre os dois países, Argollo é enfático. A constituição de um plano de carreira é muito importante. As boas ofertas de pequenos municípios fracassam porque não se sustentam ao longo do tempo, e os profissionais acabam optando por se transferir para a periferia das grandes cidades, analisa.
 
O Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul (Cremers) compartilha dessa avaliação. O presidente Rogério Wolf de Aguiar lembra que o Conselho Federal de Medicina (CFM) divulgou, em fevereiro, um estudo defendendo que esse fluxo nos grandes centros não será resolvido com a interiorização dos cursos de Medicina. Há mais de 380 mil médicos em atividade no Brasil, e mais de 15 mil se graduando a cada ano. Os problemas nas regiões mais afastadas são o despreparo das equipes e a falta de leitos e de veículos hospitalares, além da ausência de um plano de carreira de Estado que busque fixar os profissionais nesses municípios. Se essas carências não forem resolvidas, passaremos a ter apenas a figura isolada do médico no meio do Sertão, diz Aguiar. Ele também ressalta a importância da revalidação de diplomas de graduação expedidos por estabelecimentos estrangeiros de Ensino Superior. Se realmente for autorizado esse projeto sem a revalidação do diploma, o governo estará passando por cima da legislação e, também, demonstrando descaso com a qualificação no atendimento, destaca Aguiar”.
 
3 – Sem deixar de considerar a observação do Dr. Paulo Argollo Mendes quando afirma a necessidade de melhorar o Sistema Único de Saúde (SUS), uma questão inquestionável que é prioritária para o Brasil, não se deve deixar de se considerar outrossim que o Brasil terá para tal dificuldades em fazê-lo no imediato e mesmo a médio prazo, dada a dimensão do território, para além de outras questões objectivas e subjectivas.
 
O argumento do Dr. Paulo Argollo Mendes não leva em suficiente consideração, por exemplo, essa dimensão do território, as assimetrias evidentes entre os estados do litoral e os do interior, as características ambientais e fito-sanitárias de uns e de outros, bem como as dificuldades que existem em atenuar os efeitos duma medicina indexada aos módulos que respondem à lógica capitalista, em especial a partir do momento em que os programas de saúde para todos são privilegiados.
 
O Brasil, por exemplo, indicia ter dificuldades em adaptar programas de prevenção, quando eles são tão necessários, inclusive em enormes áreas urbanas e sub-urbanas das metrópoles cosmopolitas do litoral.
 
4 – O recurso a 6.000 médicos pouco significarão para o cômputo de médicos existentes em Cuba e a sua saída pouco significará também, em termos de romper o bloqueio a que Cuba está sujeita: o prestígio internacional que a saúde, a educação e a investigação cubanas já gozam, garantem que as correntes da preciosa ajuda cubana mediante acordos bi ou multi laterais com qualquer um dos países do Terceiro Mundo, tendem a aumentar…
 
O que me parece evidente é o bloqueio mental do Dr. Paulo Argollo Mendes e daqueles que seguem sua tão “douta” quão limitativa argumentação!
 
Ao acusar as autoridades federais de se moverem em função de razões demagógicas ou ideológicas, chegando a esquecer que dois dos seus filhos foram um dia formados em Cuba, esquece (e isso é o mais importante) que em vastas áreas do Brasil há ainda tantos milhões de seres humanos que vegetam em situações traumáticas de pobreza, desamparo e marginalidade, situações em relação às quais os médicos brasileiros se desabituaram de actuar por manifesta falta de recursos salariais, mas os médicos cubanos se habituaram a lidar, desde a primeira assistência internacionalista à Argélia, na década de sessenta do século passado, ainda que possam haver parcos recursos disponíveis no seu próprio país de origem!
 
É contra argumentos deliberadamente limitativos como o do Dr. Paulo Argollo Mendes que têm havido tantas manifestações no Brasil, precisamente numa altura em que as aspirações por melhor saúde e educação são tão legítimas.
 
A questão do reforço para a saúde pública do Brasil com a chegada de seis mil especialistas cubanos numa altura que o Sistema Único de Saúde (SUS) tem de ser muito melhor adequado às necessidades do imenso país, não é uma questão de concorrência, não é uma questão inibidora para as medidas a pôr em prática no quadro desse mesmo SUS, muito menos uma questão de obrigatoriedade na defesa dos parâmetros deontológicos brasileiros!
 
Além do mais, a legitimidade e a premência de desbloquear Cuba das medidas criminosas dos Estados Unidos, não merece eticamente um argumento que reflecte um bloqueio mental ao nível do manifestado pelo Dr. Paulo Argollo Mendes, ou de outro qualquer bloqueio mental, qualquer que ele seja, de quem quer que seja!
 
A superioridade moral dos princípios e das profundas convicções socialistas são feitas com transparência, com verdade, com solidariedade, com internacionalismo, com paz e com uma enorme sensibilidade humana e respeito devido ao planeta, algo com que o Brasil tem muito que ver no que diz respeito ao que foi até hoje conseguido, mas ainda tem muito muito mais a ver com o que há a resgatar para obter os melhores resultados em benefício, sem excepção, de todos os brasileiros!
 
Não é com as capacidades disponíveis na lógica capitalista neo liberal que o Brasil o irá conseguir!
 
 
A consultar:
- Mais médicos cubanos atenderão vítimas do terremoto no Paquistão – http://noticias.uol.com.br/ultnot/efe/2005/11/06/ult1807u23176.jhtm
- New York Times destaca esfuerzo de Cuba en la lucha contra el cólera en Haiti – http://www.cubadebate.cu/noticias/2011/11/08/new-york-times-destaca-esfuerzo-de-cuba-en-la-lucha-contra-el-colera-en-haiti/
- Médicos de Cuba no Haiti: a solidariedade silenciada – http://www.adital.com.br/site/noticia_imp.asp?cod=45049&lang=PT
- Brasil assina acordos com Cuba e Haiti para pesquisa de remédios contra o câncer – http://paginaglobal.blogspot.com/2012/02/brasil-assina-acordos-com-cuba-e-haiti.html
- Crianças de Chernobyl continuam chegando às praias cubanas – http://www.tierramerica.info/nota.php?lang=port&idnews=3142
- Crianças de Chernobyl são tratadas em Cuba – http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2002/020213_cubaml.shtml
- Governo planeja trazer seis mil médicos de Cuba – http://www.interjornal.com.br/noticia.kmf?canal=111&cod=20425092
 

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