Martinho Júnior,
Luanda
1 – Se não fossem
os ideais e as profundas convicções socialistas, seria muito difícil àqueles
que deram a sua contribuição directa na luta do movimento de libertação em
África vencer o fascismo-colonialismo, o “apartheid” e algumas das suas
sequelas, apesar do capitalismo neo liberal e das “portas escancaradas” que tal
lógica tem vindo a obrigar!
Se não fossem os
ideais e as profundas convicções socialistas, teria sido muito mais difícil aos
aliados vencerem os nazis e os fascistas do Eixo na IIª Guerra Mundial!
Se não fossem os
ideais e as profundas convicções socialistas, seria impossível a Cuba
ultrapassar o período especial e atenuar as repercussões do bloqueio criminoso
que, contra o povo cubano tem sido imposto pelo império!
Se não fossem os
ideais e as profundas convicções socialistas, seria impossível a Cuba dar
resposta incondicional às situações mais traumáticas vividas pela humanidade,
como os terramotos que eclodiram no Haiti e no Paquistão, ou os furacões que
têm assolado as Caraíbas, os Estados Unidos (New Orleans) e a América Central,
ou a assistência às crianças de Chernobyl!
Se não fossem os
ideais e as profundas convicções socialistas, seria impossível aos
trabalhadores e desempregados compulsivos da Europa começar a formular a
resistência às afrontas das crises impostas pelo capital e pela ganância
especulativa dos bancos!
Se não fossem os
ideais e as profundas convicções socialistas, seria impossível à América
enveredar pela trilha da sua IIª independência duzentos anos depois do içar das
bandeiras, aquela independência que resulta de vitórias cada vez mais
consequentes sobre o neo colonialismo centenário imposto a partir do império e
como seu prolongamento!
Se não fossem os
ideais e as profundas convicções socialistas, seria impossível ao mundo
estabelecer o contraste entre as acções construtivas e decisivas em prol da
paz, perante o disseminar das tensões, conflitos e guerras impostas pelo
império!
Se não fossem os
ideais e as profundas convicções socialistas, seria muito mais difícil dar
combate à fome e à pobreza, resultantes dos desequilíbrios globais impostos
pela lógica capitalista!
2 – Vem tudo isso a
propósito duma polémica corrente no Brasil, acerca da assinatura dum acordo
entre o estado federal brasileiro com o estado cubano, com vista a que médicos
cubanos, num total de 6.000, sejam envolvidos em campanhas que visam alterar a
situação de assistência médica e fito-sanitária em alguns dos estados federados
do Brasil, onde o “deficit” de condições apropriadas para o exercício do
sistema de saúde, bem como de médicos e outros especialistas em medicina, é
gritante (em especial os estados do interior como Roraima, Amazonas, Mato
Grosso, Mato Grosso do Sul, Acre e Goiás).
Os obstáculos estão
a surgir por parte de entidades do estado de Rio Grande do Sul, um dos estados
onde presumíveis sensibilidades progressistas mais se têm evidenciado na vida
pública do Brasil, mas também um dos estados que apesar de tudo garante uma
cobertura médica e fito-sanitária acima da média do país:
“A discussão sobre
a interiorização da medicina no Brasil vem de longa data. Historicamente,
sempre houve concentração tanto de escolas médicas como de profissionais nos
grandes centros urbanos, e não raro as comunidades mais longínquas,
principalmente na zona rural, acabam ficando sem a presença do médico.
Agora, um novo capítulo se soma a essa realidade. Para minimizar o déficit desses profissionais nas regiões mais carentes do País, o governo federal poderá trazer seis mil médicos cubanos para atuar no Brasil. A informação foi divulgada ontem pelo ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, após reunião com o chanceler de Cuba, Bruno Rodríguez.
Agora, um novo capítulo se soma a essa realidade. Para minimizar o déficit desses profissionais nas regiões mais carentes do País, o governo federal poderá trazer seis mil médicos cubanos para atuar no Brasil. A informação foi divulgada ontem pelo ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, após reunião com o chanceler de Cuba, Bruno Rodríguez.
No Rio Grande do
Sul, as entidades ligadas à área não receberam o projeto com o mesmo
entusiasmo. O presidente do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers),
Paulo de Argollo Mendes, classifica o acordo como demagógico e ideológico. É um
plano que desconhece e ignora a realidade do País, uma vez que não há falta de
médicos no Brasil. O que se precisa é dar a esses profissionais condições
dignas para trabalhar junto ao Sistema Único de Saúde (SUS). Infelizmente, o
sistema paga pouco e os recursos para exercer o trabalho são pífios, afirma.
Em relação à
interiorização da saúde pública pretendida entre os dois países, Argollo é
enfático. A constituição de um plano de carreira é muito importante. As boas
ofertas de pequenos municípios fracassam porque não se sustentam ao longo do
tempo, e os profissionais acabam optando por se transferir para a periferia das
grandes cidades, analisa.
O Conselho Regional
de Medicina do Rio Grande do Sul (Cremers) compartilha dessa avaliação. O
presidente Rogério Wolf de Aguiar lembra que o Conselho Federal de Medicina
(CFM) divulgou, em fevereiro, um estudo defendendo que esse fluxo nos grandes
centros não será resolvido com a interiorização dos cursos de Medicina. Há mais
de 380 mil médicos em atividade no Brasil, e mais de 15 mil se graduando a cada
ano. Os problemas nas regiões mais afastadas são o despreparo das equipes e a
falta de leitos e de veículos hospitalares, além da ausência de um plano de
carreira de Estado que busque fixar os profissionais nesses municípios. Se
essas carências não forem resolvidas, passaremos a ter apenas a figura isolada
do médico no meio do Sertão, diz Aguiar. Ele também ressalta a importância da
revalidação de diplomas de graduação expedidos por estabelecimentos
estrangeiros de Ensino Superior. Se realmente for autorizado esse projeto sem a
revalidação do diploma, o governo estará passando por cima da legislação e,
também, demonstrando descaso com a qualificação no atendimento, destaca Aguiar”.
3 – Sem deixar de
considerar a observação do Dr. Paulo Argollo Mendes quando afirma a necessidade
de melhorar o Sistema Único de Saúde (SUS), uma questão inquestionável que é
prioritária para o Brasil, não se deve deixar de se considerar outrossim que o
Brasil terá para tal dificuldades em fazê-lo no imediato e mesmo a médio prazo,
dada a dimensão do território, para além de outras questões objectivas e
subjectivas.
O argumento do Dr.
Paulo Argollo Mendes não leva em suficiente consideração, por exemplo, essa
dimensão do território, as assimetrias evidentes entre os estados do litoral e
os do interior, as características ambientais e fito-sanitárias de uns e de
outros, bem como as dificuldades que existem em atenuar os efeitos duma
medicina indexada aos módulos que respondem à lógica capitalista, em especial a
partir do momento em que os programas de saúde para todos são privilegiados.
O Brasil, por
exemplo, indicia ter dificuldades em adaptar programas de prevenção, quando
eles são tão necessários, inclusive em enormes áreas urbanas e sub-urbanas das
metrópoles cosmopolitas do litoral.
4 – O recurso a
6.000 médicos pouco significarão para o cômputo de médicos existentes em Cuba e
a sua saída pouco significará também, em termos de romper o bloqueio a que Cuba
está sujeita: o prestígio internacional que a saúde, a educação e a
investigação cubanas já gozam, garantem que as correntes da preciosa ajuda
cubana mediante acordos bi ou multi laterais com qualquer um dos países do
Terceiro Mundo, tendem a aumentar…
O que me parece
evidente é o bloqueio mental do Dr. Paulo Argollo Mendes e daqueles que seguem
sua tão “douta” quão limitativa argumentação!
Ao acusar as
autoridades federais de se moverem em função de razões demagógicas ou
ideológicas, chegando a esquecer que dois dos seus filhos foram um dia formados
em Cuba, esquece (e isso é o mais importante) que em vastas áreas do Brasil há
ainda tantos milhões de seres humanos que vegetam em situações traumáticas de
pobreza, desamparo e marginalidade, situações em relação às quais os médicos
brasileiros se desabituaram de actuar por manifesta falta de recursos
salariais, mas os médicos cubanos se habituaram a lidar, desde a primeira
assistência internacionalista à Argélia, na década de sessenta do século
passado, ainda que possam haver parcos recursos disponíveis no seu próprio país
de origem!
É contra argumentos
deliberadamente limitativos como o do Dr. Paulo Argollo Mendes que têm havido
tantas manifestações no Brasil, precisamente numa altura em que as aspirações
por melhor saúde e educação são tão legítimas.
A questão do
reforço para a saúde pública do Brasil com a chegada de seis mil especialistas
cubanos numa altura que o Sistema Único de Saúde (SUS) tem de ser muito melhor
adequado às necessidades do imenso país, não é uma questão de concorrência, não
é uma questão inibidora para as medidas a pôr em prática no quadro desse mesmo
SUS, muito menos uma questão de obrigatoriedade na defesa dos parâmetros
deontológicos brasileiros!
Além do mais, a
legitimidade e a premência de desbloquear Cuba das medidas criminosas dos
Estados Unidos, não merece eticamente um argumento que reflecte um bloqueio
mental ao nível do manifestado pelo Dr. Paulo Argollo Mendes, ou de outro
qualquer bloqueio mental, qualquer que ele seja, de quem quer que seja!
A superioridade
moral dos princípios e das profundas convicções socialistas são feitas com
transparência, com verdade, com solidariedade, com internacionalismo, com paz e
com uma enorme sensibilidade humana e respeito devido ao planeta, algo com que
o Brasil tem muito que ver no que diz respeito ao que foi até hoje conseguido,
mas ainda tem muito muito mais a ver com o que há a resgatar para obter os
melhores resultados em benefício, sem excepção, de todos os brasileiros!
Não é com as
capacidades disponíveis na lógica capitalista neo liberal que o Brasil o irá
conseguir!
Gravura: Médico que duvida
de estrangeiros tem filhos “importados” de Cuba – http://convencao2009.blogspot.com/2013/07/medico-que-duvida-de-estrangeiros-tem.html?utm_source=feedburner&utm_medium=email&utm_campaign=Feed%3A+blogspot%2FyqJas+%28Solid%C3%A1rios%29
A consultar:
- 50 verdades que
Yoani Sanchez ocultará – http://www.globalresearch.ca/cuba-50-verdades-que-yoani-sanchez-ocultara/5325061
- Mais médicos
cubanos atenderão vítimas do terremoto no Paquistão – http://noticias.uol.com.br/ultnot/efe/2005/11/06/ult1807u23176.jhtm
- Médicos cubanos
no Haiti deixam o mundo envergonhado – http://operamundi.uol.com.br/conteudo/noticias/8490/medicos+cubanos+no+haiti+deixam+o+mundo+envergonhado.shtml
- New York Times
destaca esfuerzo de Cuba en la lucha contra el cólera en Haiti – http://www.cubadebate.cu/noticias/2011/11/08/new-york-times-destaca-esfuerzo-de-cuba-en-la-lucha-contra-el-colera-en-haiti/
- Médicos de Cuba
no Haiti: a solidariedade silenciada – http://www.adital.com.br/site/noticia_imp.asp?cod=45049&lang=PT
- Brasil assina
acordos com Cuba e Haiti para pesquisa de remédios contra o câncer – http://paginaglobal.blogspot.com/2012/02/brasil-assina-acordos-com-cuba-e-haiti.html
- Partenariat
Brésil-Cuba contre le choléra - http://www.haitilibre.com/article-1823-haiti-epidemie-partenariat-bresil-cuba-contre-le-cholera.html
- Crianças de
Chernobyl continuam chegando às praias cubanas – http://www.tierramerica.info/nota.php?lang=port&idnews=3142
- Crianças de
Chernobyl são tratadas em Cuba – http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2002/020213_cubaml.shtml
- Governo e povo
ucranianos reconhecem atendimento cubano a crianças de Chernobyl – http://www.diarioliberdade.org/mundo/sa%C3%BAde/1658-governo-e-povo-ucranianos-reconhecem-atendimento-cubano-a-criancas-de-chernobyl.html
- Governo planeja
trazer seis mil médicos de Cuba – http://www.interjornal.com.br/noticia.kmf?canal=111&cod=20425092
- A questão da
vinda de médicos cubanos para o Brasil – http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/a-questao-da-vinda-dos-medicos-cubanos-para-o-brasil
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