Verdade (mz) - Editorial
Não há nada mais
obsceno do que ter o destino de uma nação confiado a um grupo de pessoas
vaidosas que, por alguma carga de água, se considera “dono do país”. Não existe
algo mais repugnante e, ao mesmo tempo, revoltante do que um Governo que
sistematicamente demonstra desprezo absoluto por alguns direitos fundamentais
da população moçambicana.
Hoje parece que
ninguém tem dúvidas de que o único sentido de economia que os “donos do país”
conhecem é o de esbanjamento dos bens públicos. E, de forma inescrupulosa,
pregam a doutrina de auto-estima, à semelhança dos fervorosos pregadores
neopentecostais que “vendem” esperança ao já sofrido povo moçambicano.
Na verdade, os
empreendedores evangélicos, que brotam a cada esquina do país qual cogumelos
depois da chuva, têm alguma réstia de sentimento, porque, em troca de dízimos e
ofertas alçadas, prometem curas milagrosas e prosperidade. Porém, não é o caso
dos pregadores da auto-estima. Estes são asquerosos, insensíveis e, em lume
brando, prosseguem, indiferentes ao eleitor, ao povo e à opinião pública.
Alérgicos a
qualquer tipo de crítica e com os sentidos embotados por causa da sua
vaidadezinha política e pessoal, pregam a auto-estima nos comícios e nos
massificados almoços regados com vinho e uísque pagos com suor, lágrimas e
sangue do povo que se auto-flagela na expectativa de milagres e de um suposto
futuro melhor, enquanto o país continua a andar aos papéis e à volta do próprio
umbigo.
Os pregadores de
auto-estima não são capazes de sair dos seus covis para ver a pobreza que anda
paredes meias com a opulência na qual estão mergulhados. E, como se não
bastasse, não têm a humildade suficiente para admitir que são a causa da
desgrenhada miséria que asfixia milhões de moçambicanos.
Diga-se, de
passagem, que só saem dos seus covis para emitir esgares através dos meios de
comunicação social à sua disposição e pregando, aos quatro ventos, a
auto-estima para adormecer/anestesiar a população. Só saem do covil para
mostrar o sorriso de contentamento pela descoberta de mais recursos naturais no
país.
É fácil falar de
auto-estima quando se vê o país do alto, a bordo de uma aeronave. É simples
falar de auto-estima quando se vive num palácio a respirar conforto. É fácil
falar de auto-estima quando não se vive em condições de extrema pobreza e no
meio do esgoto.
É mais simples
quando se tem o que comer ao mata-bicho, almoço e jantar. É mais simples ainda
quando se pode escolher entre um bife à portuguesa e camarão tigre grelhado. É
fácil falar de auto-estima quando não se é forçado apinhar-se – qual gado –
numa carrinha de caixa aberta para chegar ao local de trabalho.
É fácil quando não
se tem um parente a definhar no chão do corredor de uma unidade sanitária,
aguardando cuidados médicos. É, em suma, muito fácil falar de auto-estima
quando se tem participações em tudo o que é empreendimento no país.
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