De
Standaard, Bruxelas – Presseurop – imagem Lichuan
O discurso anual
sobre o estado da União Europeia, que o presidente da Comissão, José Manuel
Durão Barroso, realiza em 11 de setembro, suscita pouco interesse nos europeus.
Um paradoxo interessante, observa o politólogo holandês Hendik Vos, porque a
Europa nunca ocupou tanto espaço nas suas vidas.
Há décadas que os
Presidentes norte-americanos se acostumaram a apresentar o Estado da Nação no início de cada ano. Num
discurso mobilizador perante o Congresso, expõem os projetos e os desafios para
os meses seguintes. A cada duas ou três frases, o público levanta-se para o
aclamar. Ainda nunca assistimos a uma “onda”, mas não tarda aí. Dezenas de
milhões de norte-americanos seguem o discurso, que é transmitido em direto por
quase todos os canais de televisão. Os observadores passam, depois, dias e dias
a dissecar cada palavra, cada letra, cada vírgula. Os jornais imprimem páginas
suplementares.
Hoje, José Manuel
Durão Barroso, presidente da Comissão Europeia, pronuncia igualmente o seu Estado da União. Desde 2010 que se dirige ao
Parlamento Europeu, no início de cada ano político. O discurso será transmitido
ao vivo na TV por cabo, mas resta saber se vai ter audiência para além dos
lares de idosos e hospitais. Barroso faz o discurso de manhã, e não no horário
nobre, como sucede nos Estados Unidos. E podemos prever o espaço que a maioria
dos jornais vai dar ao artigo de cobertura do acontecimento: no melhor dos
casos, uma pequena coluna na secção de política internacional.
Se Barack Obama
decidir atacar a Síria, fá-lo, sem mais. Herman van Rompuy, presidente do
Conselho Europeu, não tem esse poder, a começar porque não tem tropas. Mas
noutros domínios, a influência de Bruxelas sobre os vinte e oito membros é
maior do que a de Washington sobre os cinquenta Estados dos EUA.
Nos últimos anos,
devido à crise do euro, a influência da Europa sobre os Estados-membros
aumentou. Os debates sobre o orçamento nacional ficam agora totalmente
eclipsados pelo que a Europa permite ou impede. O Governo poderá nomear, com
grande teatralidade, um novo diretor dos caminhos de ferro, mas o quadro em que
tem de trabalhar é determinado por um conjunto de disposições europeias sobre o
transporte ferroviário. O funcionamento do mercado, seja dos correios ou da
energia, é fixado pela legislação europeia. O preço das chamadas de telemóvel é
decidido pelas instâncias europeias. Milhares de outros aspetos são
regulamentados pela Europa, da definição do chocolate até como reparar os olhos
de um ursinho de pelúcia.
A margem vai-se
reduzindo
Atualmente, todos
andam agitados, na Holanda, com a perspetiva das eleições flamengas e federais
de 25 de maio de 2014. Mas não se ouve praticamente falar das eleições
europeias, que estão agendadas para o mesmo dia. Sob muitos aspetos, os Estados
Unidos da Europa são mais eficientes do que os Estados Unidos da América. No
entanto, por qualquer motivo, não queremos saber disso. O porquê e como ainda
nos interessam menos.
Claro que, em
algumas áreas, a política nacional ainda tem alguma margem de manobra. Mas
essas áreas são cada vez menos numerosas e a margem vai-se reduzindo. A Europa
estabelece orientações e, em geral, o Parlamento Europeu dá um contributo
importante. Aliás, quando se trata de legislação, tem até a última palavra. O
mesmo parlamento em breve passará a eleger o presidente da Comissão Europeia e
a dar também o seu parecer sobre cada um dos comissários.
Quando se solta o
verniz da pasta dos Assuntos Europeus, apercebemo-nos rapidamente das opções
ideológicas e de fundo a fazer: a relação do crescimento e contenção de custos
com o interesse da diversidade cultural, dos temas sociais e liberalização,
entre agricultura e desenvolvimento.
A política europeia
pode imiscuir-se em tudo e a composição do Parlamento Europeu tem consequências
decisivas. É menos fascinante do que a questão de saber se, em breve, vamos
aplicar regulamentos europeus a uma federação ou confederação.
A Europa instala-se
nas profundezas das grandes decisões políticas e nas pequenas de decisões
diárias, mas conseguimos a proeza de lhe prestar muito pouca atenção. A Europa
permanece no ângulo morto.
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