terça-feira, 17 de setembro de 2013

POR ORA, CHANCE DE DILMA IR AOS EUA EM OUTUBRO É ZERO

 


Se Obama não está com pressa em dar explicações sobre a espionagem contra o Brasil, Dilma, muito menos. Ele que aguarde sentado o discurso que a presidenta fará na Assembleia da ONU, em 24 de setembro. É o que disseram fontes ligadas à política externa do país ouvidas pela Carta Maior.
 
Carta Maior
 
Brasília – A presidenta Dilma Rousseff disse a interlocutores, segundo fontes ligadas à política externa do país ouvidas pela Carta Maior, que não há razão para ela ir aos Estados Unidos em outubro, uma vez que Barack Obama não parece disposto a oferecer respostas condizentes e decentes sobre a espionagem praticada contra ela, a Petrobrás e o Brasil. Se Obama não está com pressa, Dilma, muito menos. Ele que aguarde sentado o discurso que a presidenta fará na Assembleia da ONU, na semana que vem (24 de setembro).

O ministro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo, conversou semana passada com a conselheira de Segurança Nacional da Casa Branca, Suzan Rice, do governo dos Estados Unidos. Tentou, em vão, construir uma saída honrosa para o episódio que contribuísse para o que Obama chamou de "condições políticas" para a visita de Dilma realizar-se.

Figueiredo explicou a Rice as condições brasileiras, diplomaticamente chamadas de "expectativas": o pedido de desculpas, uma declaração de que tais práticas não serão toleradas, de agora em diante, e um processo de investigação com o objetivo de esclarecer o que ocorreu, em todas as frentes.

Ainda nesta segunda-feira (16), o ministro deve dar detalhes à presidenta do que ouviu nos Estados Unidos, do que se pode esperar e do que se deve fazer diante do impasse.

"Espionamos sim, e daí? É para isso que somos pagos"


Se a ideia do governo dos Estados Unidos era convencer Dilma a visitar a Casa Branca em outubro, conseguiram a façanha de piorar o que já estava ruim.

Até agora, as declarações do presidente Obama e de outras autoridades do governo dos Estados Unidos sobre o assunto só conseguiram irritar ainda mais a presidenta.

O diretor de Inteligência Nacional, James R. Clapper, divulgou uma nota, de fato, bastante esclarecedora sobre as "Alegações de espionagem econômica" (no dia 9 de setembro). Disse ele que "não é segredo que a Comunidade de Inteligência coleta informações sobre assuntos econômicos e financeiros e sobre financiamento ao terrorismo". A entidade "Comunidade de Inteligência" está em maiúsculas no original, tal sua importância, certamente.

Traduzindo o que disse Clapper: "Espionamos sim, e daí? É pra isso que somos pagos".

Esqueceu-se de dizer que a declaração põe em maus lençóis o vice-presidente, Joe Biden, e o secretário de Estado, John Kerry, que juraram de pé junto que as atividades denunciadas por Snowden eram exclusivamente contra o terrorismo, e não de cunho econômico. Kerry teve a cara de pau de dizer que o Brasil foi "protegido" pela espionagem.

Na sequência, para dar uma mãozinha na boa relação, a porta-voz do Conselho de Segurança Nacional (NSC), Caitlin Hayden, fez um informe da citada reunião da assessora de Segurança Nacional, Susan Rice, com o ministro das Relações Exteriores do Brasil. O comunicado (de 13/9) diz o seguinte:

"O presidente procura garantir que nossas atividades sejam compatíveis com nossos interesses nacionais mais amplos, inclusive nossas relações com parceiros importantes". A nota ainda reproduz que algumas suspeitas "levantam questões legítimas de nossos amigos e aliados sobre como essas capacidades são empregadas", reproduzindo frase similar à dita por Obama durante a reunião do G-20, em S. Petersburgo, na Rússia (em 6/9).

Se a espionagem visa "interesses nacionais mais amplos", oficialmente, acabou de vez a desculpa do terrorismo.

Como o assunto subiu (e muito) de patamar, é improvável que ele seja tratado pela nova embaixadora dos Estados Unidos no Brasil, Liliana Ayalde. A resposta dos Estados Unidos, se vier algo além dessas manifestações pavorosas, deve vir do circuito Obama-Biden-Kerry e Thomas Shannon, ex-embaixador no Brasil e que saiu pela porta dos fundos. Onde está Shannon hoje? Ao lado de Kerry, como assessor do Departamento de Estado.

Dilma não está com a mínima pressa para dar satisfação a Obama

Dilma aguarda o pedido de desculpas e a lista de providências a serem tomadas por Obama. O que a presidenta quer ouvir é mais do que a conversa de que o Brasil é um parceiro importante. Quer, preto no branco, uma declaração dos Estados Unidos de que não há razões que justifiquem espionagem contra o Brasil, seja contra seus dirigentes democraticamente eleitos, seja contra seus cidadãos. Isso é considerado o mínimo.

A estratégia até agora foi emitir sinais contundentes de que o interesse de Dilma em ir se encontrar com Obama, em outubro, é zero se não houver uma reprovação das práticas de espionagem. O governo brasileiro espera que isso funcione não apenas publicamente, mas internamente ao governo dos Estados Unidos, como uma ordem do presidente à sua "Comunidade de Inteligência" para cessar a atividade contra o Brasil.

Ao mostrar que não titubearia em cancelar a viagem, o Brasil esperava forçar uma resposta mais substancial dos americanos. Até o momento, nada. No G-20, Obama achou que poderia fazer uso de sua tradicional técnica retórica sobre assuntos complicados, com a qual fala coisas que soam bem ao ouvido, mas que depois de cinco minutos ninguém sabe dizer qual foi a decisão tomada – justamente por que não vem decisão alguma junto. Só "embromation", como diria Joel Santana.

A não ser que haja uma reviravolta do próprio Obama, a viagem será cancelada. Hoje, a presidenta trabalha essa hipótese como a mais provável. No meio diplomático, se avalia que, pelo andar da carruagem, não virão nem mais, nem melhores explicações; nem desculpas, muito menos providências por parte de Obama.

Dia "D" é o 24 de setembro


Informações atribuídas ao porta-voz da Presidência, Thomas Traumann, são de que a posição brasileira pode ser dada ainda nesta segunda-feira. Figueiredo vai tentar convencê-la a aguardar até a semana que vem, na reunião da ONU, para dar uma resposta definitiva. A ideia do Itamaraty seria Dilma segurar sua resposta, diante da impassividade de Obama, até o 24 de setembro, quando discursará na ONU.

A presidenta deve fazer um discurso duro contra a espionagem, pedindo a mobilização de todos os países do sistema ONU para uma nova governança internacional da internet, que proteja cidadãos e garanta a liberdade de expressão, coibindo práticas que violem a soberania dos Estados nacionais. Esse momento tem sido visto como o definitivo ("deadline") para uma decisão sobre a malfadada viagem de outubro.

Dilma deve, em seguida de sua volta de Nova York, anunciar publicamente não apenas sua posição parcial sobre o tema da viagem (caso haja algum contato com Obama e alguma nova promessa do presidente). Deve também deixar claras suas diretrizes para uma política de defesa e segurança da informação. Entre as questões que devem compor a política estão a construção de um satélite do governo brasileiro, que está sendo construído e estará a cargo da Agência Espacial Brasileira (AEB); o novo marco civil da internet, que Dilma espera ver votado logo, tanto que colocou o projeto sob regime de urgência; e algumas soluções que devem vir do grupo de trabalho coordenado hoje pelo Ministério da Defesa.

Um fator novo

A "viagem problema" tem agora um fator novo, ao qual Dilma tem dado grande atenção: Glenn Greenwald. O jornalista, radicado no Brasil, está fazendo revelações a conta-gotas, como uma novela, com base em dados repassados por Edward Snowden.

Sem um anteparo forte, como a garantia de Obama de que providências serão tomadas e que tais constrangimentos não irão se repetir, Dilma corre o risco de ser pega de surpresa, nos Estados Unidos, com alguma nova revelação chocante, como foram as duas anteriores.

Na prática, os diplomatas gostariam de ter elementos suficientes para convencer a presidente a manter o compromisso nos EUA. Mas, para isso, eles deveriam ser capazes de mostrar que tais problemas dizem respeito ao passado e que não irão mais se repetir.

Pelo jeito, o assunto faz parte não só do passado, mas do presente e do futuro das relações entre Brasil e Estados Unidos.
 

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