Fernanda Câncio –
Diário de Notícias, opinião
Gaspar fazia
reuniões em off com jornalistas para dizerem em conjunto mal do Executivo
anterior e cantarem loas à austeridade. Passos foi eleito na campanha interna
do partido graças a um punhado de bloggers "especializados em desinformação"
coordenados por Relvas, que também orquestrou a das legislativas; não teve
estado de graça porque mal ganhou compensou todos (menos um?) com sinecuras,
destruindo "a rede".
A primeira
revelação é de André Macedo na sua coluna de ontem no DN, close-up de um
ministro pintado pelos media como "um técnico puro" que afinal se
desvendava em 2011, mal pegou ao serviço, como propagandista politiqueiro. A
segunda efabulação é de um consultor de comunicação entrevistado pela Visão a
propósito de uma alegada tese sobre "a importância da comunicação política
digital na ascensão de Passos" e que assume a existência de campanhas
negras contra o Governo Sócrates, com criação de "perfis falsos" no
Facebook e no Twitter: "Se deixarmos uma informação sobre o caso Freeport
num perfil falso e ele for sendo partilhado, daqui a pouco já estão pessoas
reais a fazer daquilo uma coisa do outro mundo."
Estes dois
vislumbres sobre a génese e a natureza do Governo Passos têm, até pela
credibilidade muito distinta dos emissores, valores diferentes. Do que o André
conta anota--se não que um político quis trazer a si os media - qual o espanto?
-, mas que os jornalistas lhe saltaram para o colo, entusiasmadíssimos com as
"ideias" da troika/Gaspar. Daquilo que o consultor de comunicação
diz, entre infrene autopromoção, falsidades e absurdos (como garantir que em
2009 os blogues políticos tinham 30 mil visitas/dia e que a net foi fundamental
para as vitórias), ressalta a ironia de certificar que os apoiantes do atual
PM, incluindo "jornalistas no ativo" que, aliás, nomeia, fizeram tudo
aquilo que imputavam furiosamente aos do Governo PS. Vai ao ponto de asseverar
que a sua "equipa de voluntários" tomou como modelo de atuação o
blogue Câmara Corporativa, que acusavam (emulando Pacheco Pereira, autor da
teoria) de ser feito e pago a partir do gabinete de Sócrates, "usando
informação privilegiada sobre pessoas": "Não éramos anjinhos,
sabíamos bem ao que íamos", diz, gabando-se de que o seu "grupo"
recebia "filet mignon informativo" do PSD de Passos através de
"um mail fechado".
Mas a ironia não
fica por aqui. Ao mesmo tempo que clama ter participado em campanhas ínvias e
negras para manipular os media e a opinião pública, o entrevistado da Visão
repete a acusação de que o gabinete do anterior PM fornecia "informação
privilegiada sobre pessoas" ao tal blogue, sem que a revista exija dessa
gravíssima alegação qualquer prova ou sequer exemplo. Às tantas, o tipo é
mesmo, como pretende convencer (ou recordar?), muito bom no que faz. Ou temos
de concluir que, como afiança, vivemos num "caldinho jeitoso para isto."
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