Pedro Marques Lopes
– Diário de Notícias, opinião
1. Durão Barroso,
que pôs Portugal nas bocas do mundo quando ensinou George Bush a dizer
correctamente José, decidiu não pressionar o Tribunal Constitucional português.
E não o pressionou dizendo que se o Tribunal chumbasse algumas normas do
Orçamento as consequências para Portugal seriam medidas ainda piores, mais
gravosas.
Como Durão Barroso
é presidente de uma instituição que faz parte dos credores de Portugal, está-se
mesmo a ver que não está a pressionar coisa nenhuma. É assim como dizer
"se não fizeres como te disseram, dou-te uma marretada na cabeça".
Como está bom de ver, isto não é uma ameaça, é uma sugestão.
Ao lado do
presidente da Comissão Europeia estava o primeiro-ministro de Portugal. Como é
evidente, Passos Coelho teve bem a noção de que Durão Barroso não pressionou o
Tribunal Constitucional. Se assim não fosse, o primeiro-ministro teria
imediatamente posto na ordem o presidente da Comissão. Guardião da
independência nacional e defensor da democracia liberal, jamais admitiria que
um representante de uma organização internacional ameaçasse uma instituição
fundamental da nossa democracia. O primeiro-ministro não pactuaria com ataques
às instituições do seu país. Mesmo pensando que as medidas que serão avaliadas
são óptimas e que o Tribunal estaria a prestar um péssimo serviço ao País se as
chumbasse.
É que se assim não
fosse, poderíamos pensar que Durão Barroso e Passos Coelho estavam a levar a
cabo uma inconcebível farsa. Estaria o guloso a pedir para o desejoso. Que
havendo um alinhamento completo de vontades entre os dois, o presidente da
Comissão estaria a ameaçar o Tribunal para reforçar os já habituais ataques do
Governo e do primeiro-ministro. Passos diria mata, Durão Barroso esfola, o povo
português, bem entendido. Ou seja, Passos Coelho não se importaria - e até
combinaria - com o presidente de uma organização estrangeira um ataque a uma
fundamental instituição portuguesa. Não, não poderia ser. Seria demasiado
infame. Seria um acto tão impensável que se assim fosse podíamos duvidar do
patriotismo do primeiro--ministro - e eu penso, francamente, que não é o caso.
Quanto ao outro
senhor, o Durão Barroso, enfim, é o que é, anda lá por fora a tratar da sua
vida.
2.Como é do
conhecimento geral, a culpa de termos tido governos incompetentes, de não
conseguirmos reformar o Estado, de não sermos capazes de fazer reformas
estruturais e até da crise, é da Constituição. Aliás, se o genial plano da
troika, com os inestimáveis aumentos, revisões e melhorias do Governo, não
correr bem existirão dois principais responsáveis: a Constituição e o Tribunal
Constitucional.
O Tribunal
Constitucional, como também é sabido, é composto por um bando de malandros que
teimam em não interpretar a Constituição como deve ser. Os juízes agarram-se a
princípios reaccionários como o da igualdade, da segurança jurídica ou da
confiança, em vez de interpretar o texto à luz das circunstâncias actuais.
Talvez até seja necessário, no caso de voltar a acontecer uma crise destas,
retirar do texto constitucional aqueles detalhes impeditivos do crescimento
económico e da necessária austeridade.
Muito se devem
divertir os que não querem a Constituição mudada, com tanto cretino a dar todas
as desculpas para que ela de facto não mude.
3. Maduro, o venezuelano,
decretou a antecipação do Natal para Novembro. Há umas semanas tinha instituído
a Secretaria de Estado da Felicidade Suprema. Maduro, o português, disse que o
pior para Portugal já tinha passado e que agora é que ia ser. Um secretário de
Estado do seu gabinete, Pedro Lomba, afirmou, e não foi num dos seus célebres
briefings, que a redução de horário de trabalho na função pública é uma medida
"amiga da família". Como também, claro está, será a loucura de
dinheiro, cada vez maior, que os funcionários trazem para casa. A família deve
estar agradecidíssima: não há dinheiro mas há mais amor.
A cada país o seu
maduro.
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