A organização não
governamental angolana enviou uma carta aberta à Presidente brasileira sobre a
alegada venda de “bombas com efeito redobrado de gás lacrimogéneo para serem
utilizadas em repressão contra manifestações.”
A OMUNGA endereçou
uma carta aberta à Presidente brasileira, Dilma Rousseff, sobre a alegada venda
a Angola de “bombas com efeito redobrado de gás lacrimogéneo para serem
utilizadas em repressão contra manifestações.”
A preocupação da
organização não governamental angolana reside no facto de tais engenhos, apesar
de proibidos internacionalmente, poderem ter sido utilizados nas recentes
manifestações contra o regime do Presidente angolano, José Eduardo dos Santos.
A suposta compra
por parte do regime angolano de bombas com efeito redobrado de gás lacrimogéneo
foi noticiada por diversos órgãos de comunicação social brasileiros, entre os
quais o jornal Folha de São Paulo que citou uma fonte judiciária brasileira.
Segundo denúncias,
as autoridades angolanas também teriam testado o referido gás lacrimogéneo, de
forma criminosa e silenciosa, em estabelecimentos escolares de várias regiões
de Angola, que há cerca de dois anos provocaram uma onda de desmaios de mais de
800 estudantes, na sua maioria adolescentes.
Cumplicidade
brasileira?
Trata-se de uma
situação que pode colocar o Brasil numa posição de cumplicidade com o regime
angolano, “perante um grave e hediondo crime contra civis”, alega o coordenador
da OMUNGA, José Patrocínio.
Por “questões de
ética”, o Brasil deve ser o primeiro interessado em “tentar perceber se na
realidade houve ou não o uso em Angola do material em testagem nos civis”,
considera o responsável pela organização não governamental angolana ligada à
defesa dos direitos humanos.
"Se isso for
verdade, não deve ser apenas o Governo de Angola a sentar-se no banco dos réus.
Se isso for verdade, o Estado brasileiro também deverá ir para o banco dos réus
por cumplicidade”, defende Patrocínio.
"Venda de
armamento a um país irmão”
Na carta aberta, a
ONG exige à Presidente do Brasil, Dilma Rousseff, um esclarecimento público
sobre a alegada venda de armamento a Angola, de forma a evitar qualquer
especulação.
“O que nós
esperamos é que a Presidente Dilma assuma se isso é verdade ou mentira, e
depois tome medidas em relação a isso”, afirma José Patrocínio.
Entretanto, caso
exista de facto um contrato, a OMUNGA solicita o cancelamento imediato desse
acordo e a restituição imediata ao Brasil do material que possa já ter sido
entregue a Angola ou “o acompanhamento da sua destruição”, sublinha o
responsável.
“O Brasil assume,
em discurso, ter uma relação histórica com os países africanos, nomeadamente
com Angola, e portanto espero que a Presidente do Brasil e o Presidente de
Angola percebam que esta relação Brasil-Angola não se deve estabelecer apenas
em alianças políticas e económicas”, apela ainda José Patrocínio.
“Se este tipo de
armamento é proibido por lei de ser usado no Brasil, não me parece lógico que o
próprio Brasil venda armamento desse a um país irmão”, conclui.
Deutsche Welle - Autoria:
Nelson Sul D´Angola (Benguela) – Edição: Madalena Sampaio/António Rocha
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