Fernando Santos –
Jornal de Notícias, opinião
Qual o ponto de
contacto entre o esquema bandoleiro na Guiné-Bissau que permitiu o embarque
ilegal num avião da TAP de 74 cidadãos sírios (?) com destino a Lisboa e o
despacho publicado esta semana no "Diário da República" de Portugal a
permitir a regularização de dívidas à Segurança Social com notas vivinhas?
Pois, aparentemente
nenhum. Simplesmente, como diria o outro, neste mundo anda tudo ligado....
O lamentável
episódio protagonizado na Guiné-Bissau é apenas o último de uma série vasta de
crimes praticados naquela ex-colónia, hoje um Estado falhado e plataforma do
tráfico mundial de estupefacientes. De golpe de Estado em golpe de Estado, o
povo da Guiné-Bissau sofre as consequências nefastas dos atos de bandos
criminosos, alguns deles instalados nos centros de Poder e integrantes da lista
de narcoterroristas que os Estados Unidos querem juntar ao já detido ex-chefe
do Estado-Maior da Armada, um tal Na Tchuto.
O recente incidente
é, pois, apenas mais um. A sensibilidade diplomática entre as autoridades dos
ex--colonizado e colonizador é uma legítima preocupação. De nada vale é manter
hipocrisias. A Guiné-Bissau é um caso perdido de respeitabilidade internacional
e não se vê muito bem como os barões da droga, mancomunados com militares hoje
instalados no Poder, deixarão de exercer a sua influência. Para infelicidade do
povo. Haja, enfim, esperança em melhores dias...
O combate ao vale
tudo da Guiné--Bissau entronca então - nas devidas proporções - na gula
governamental portuguesa de proceder ao encaixe de dinheiro, sem cuidar de
saber a sua origem.
Exagero?
Nem por isso.
O afã de obter
receita tem dado, nos últimos tempos, para tudo. Multiplicam-se os perdões
fiscais - como os estabelecidos pelos Regimes de Regularização Tributária de
que se valeram alguns milionários para voltarem a recolocar no país os seus
milhões instalados em paraísos fiscais. E as etapas da compensação do crime
parece não terem fim....
A mais recente
decisão é de bradar aos céus. Para caçar uns milhões em dívida à Segurança
Social antes do final do ano, o Governo autorizou algo que estava vedado acima
dos 150 euros: pagamento em notas de qualquer quantia em atraso! Isto é: para
engordar os cofres do Estado escancaram-se as portas até ao dinheiro sujo.
Assim como assim,
nada nem ninguém pode garantir a inexistência de regularização de dívidas à
Segurança Social pela via de canais ilícitos, neles incluindo o narcotráfico a
partir de várias partes do Mundo,... incluindo a Guiné-Bissau!
É de loucos!
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