terça-feira, 21 de janeiro de 2014

MENOS EUROPA, PIOR EUROPA

 

António Perez Metelo – Dinheiro Vivo, opinião
 
Desde que a economia de casino da grande banca nos EUA ( e seus parceiros na UE) lançou o mundo na maior e mais funda recessão dos últimos 80 anos, abriram-se duas vias de resposta à crise económica e financeira dos dois lados do Atlântico. Os EUA, com o prestígio soberano da sua divisa à escala global, empreenderam um forte programa de estímulo monetário que, passados cinco anos, dá frutos já sensíveis: o emprego sobe, o desemprego desce (está, agora, nos 6,7%) e o PIB cresce a um ritmo anualizado, no 3.º trimestre de 2013, de 4,4%. Até a reforma da saúde da Administração Obama acaba de vencer a obstrução sistemática da direita republicana, através do acordo orçamental agora conseguido no Congresso. A via keynesiana de centro-esquerda ficará na História como tendo constituído a resposta dos EUA à Grande Recessão 2008/2011.
 
Por oposição, na UE, sem Tesouro unificado, sem financiamento monetário direto à economia, com a crescente oposição política dos seus membros superavitários para canalizar verbas de apoio aos sobreendividados, a via foi a da queda forçada da despesa global, sobretudo através de cortes profundos nas despesas públicas. A austeridade fez descer os custos de trabalho por unidade produzida, precarizou ainda mais as relações laborais, cortou politicas sociais de redestribuição de rendimentos, aumentou a carga fiscal e parafiscal.
 
Agora, a economia nos países sobreendividados começa a sair do espartilho do crédito escasso e caro, esperando-se um tímido crescimento económico na UE, em 2014. Mas o desemprego mantém-se acima dos 12% na zona euro - e, nos países mais atingidos pela crise, este desgraça estende-se a impensáveis 15% a 25% dos seus ativos.
 
Como não há mal que sempre dure, abriu a temporada das congratulações à via empreendida na UE: na entrega do Prémio Carlos V a Durão Barroso repetiram-se os discurso de autosatisfação. Mas não nos enganemos: desta crise emerge uma Comissão Europeia menorizada pelo Diretório de facto da Alemanha com seus aliados próximos, e uma Europa mais desigual, com o tecido social desgarrado, refém de posições politicas eurocéticas em crescimento. Ou seja, aos olhos dos cidadãos, menos Europa e pior Europa.
 
Redator principal - Escreve à sexta-feira
 

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