Domingos
Cazuza – Novo Jornal (ao)
A Frente Nacional
de Libertação de Angola (FNLA) exige participar em qualquer comissão que se
constitua para a elaboração da história moderna de Angola, afirmou Fernando
Pedro Gomes, secretário para os assuntos jurídicos e constitucionais desta
formação política.
Pedro Gomes repetiu
as acusações de que o partido no poder tem vindo a deturpar a verdadeira
história do início da luta armada, acusando também o MPLA de falsificar a data
de formação do partido.
Segundo aquele
dirigente da FNLA, "não há nenhuma mão" do MPLA no início da luta
armada, a 4 de Fevereiro de 1961.
"Os
bajuladores na Rádio Nacional e na Televisão, muitos a falar sem eira nem
beira, esqueceram-se de que o MPLA tinha acabado de nascer em 1960, sobre
pressão sofrida pelos seus dirigentes na segunda conferência de Túnis, em
Dezembro de 1960", lembrou Pedro Gomes, acentuando que na data em que a
luta armada foi iniciada "o MPLA não estava em condições, nem organizacionais,
nem estruturais para levar a cabo uma acção política de relevo no interior de
Angola".
O dirigente da FNLA
acrescentou que o MPLA nasceu na Guiné Conacry, sem raízes no interior de
Angola.
"Os relatos da
PIDE são claros sobre esta matéria. Portanto, quem quiser falsificar a história
tem de procurar outra história", continuou o político, adiantando que,
para além de falsificar o seu envolvimento no 4 de Fevereiro, o MPLA falsifica
também a data da sua formação para poder reivindicar a sua participação no
início da luta armada.
O também professor
universitário esclareceu que um dos dirigentes históricos do MPLA, Mário Pinto
de Andrade, tinha reconhecido, antes de morrer, que o MPLA não esteve
relacionado com o 4 de Fevereiro e que, ao contrário do propagandeado, o MPLA
não tinha sido formado em 1956. "É uma situação muito perigosa. Há uma
tentativa de forjar a verdade com o intuito de ser protagonista da história e
subverter os factos, com intenção de neocolonizar o angolano", acusou
Gomes, para quem o MPLA "sofre de complexos de inferioridade".
Para o dirigente, o
abandono a que estão votados os antigos combatentes da UPA/FNLA parece
enquadrar-se na estratégia de se dizimar as fontes históricas reais. O
objectivo "é matar a história de todos estes velhos para depois eles
inventarem a historia à sua maneira", insistiu.
"Se nós
queremos uma história genuína, puramente angolana sem lhe acrescentar quaisquer
tipos de ingredientes de falsidade, porque não convidar a UPA/FNLA para fazer
parte da comissão para a elaboração da história moderna?", interrogou.
"Nós queremos fazer parte de todas comissões para elaborar a história
moderna de Angola", concluiu.
Data esteve ligada
ao MPLA
Já o historiador
Fernando Manuel esclareceu que o 4 de Fevereiro de 1961 tem sim a ver com o
MPLA, "embora tenha havido a contribuição de um elemento ligado à igreja
Católica e que não tem nada a ver com ideologias partidárias, que é o cónego
Manuel das Neves".
Justificando a sua
afirmação, Fernando Manuel afirmou que "a história é feita no espaço e no
tempo" e todas as fontes consultadas, "muitas delas vindas do
exterior", apontam para a ligação do MPLA a esta acção.
"Mas havia
algumas pessoas que não eram deste partido, como é o caso do cónego Manuel das
Neves, que é um homem ligado à igreja Católica e que apoiava os movimentos
nacionalistas, porque amava a sua terra e também participou na preparação da
acção que viria a ser desencadeada a 04 de Fevereiro de 1961", esclareceu.
"Os
historiadores são livres de pensar nas suas ideias, porque nós bebemos de
várias fontes - continuou - mas tudo indica que foram patriotas instruídos pelo
Movimento Popular de Libertação de Angola, fundado a 10 de Dezembro de 1956,
cujo manifesto dizia que o colonialismo nunca iria cair sem a luta armada, que
fizeram com que os nacionalistas pegassem em armas brancas e lutassem contra o
colonialismo portugueses", defendeu.
Na visão de
Fernando Manuel, "o 4 de Fevereiro é um marco histórico na vida do povo
angolano e teve alguns antecedentes".
O historiador
referiu-se concretamente ao processo dos 50, quando meia centena de
compatriotas foi levada a julgamento sumário, a 29 de Março de 1959, sob a
acusação de terroristas.
"Desta grande
barbárie colonial, que foi o processo dos 50, temos alguns sobreviventes, como
são os casos dos nacionalistas Mendes de Carvalho, Amadeu Amorim, entre
outros", notou.
Para o professor
universitário, esta data foi a gota de água na insatisfação dos angolanos que
veio a transbordar o copo na madrugada do dia 4 de Fevereiro "em que um
punhado de nacionalistas, entre eles Paiva Domingos da Silva, Imperial Santana
e a heroína Engrácia Cabuenha, pegaram nas catanas para dizer basta ao
colonialismo e conseguiram mobilizar alguns patriotas corajosos que mataram os
sustentáculos dos lugares considerados intransponíveis do poder colonial".
"Refiro-me às
cadeias de São Paulo, onde, na altura, se encontravam detidos muitos patriotas
angolanos sem justa causa, à casa da reclusão situada no Porto de Luanda, que
hoje e com justa razão os sobreviventes do 4 de Fevereiro reclamam que seja um
momento histórico nacional e creio que o Ministério da Cultura está a tratar
disto", elucidou.
De acordo com
Fernando Manuel, após os acontecimentos daquela data, "a acção foi
selvaticamente reprimida pela PIDE/DGS" e a repressão iniciada em Luanda
estendeu- -se a outras zonas periurbanas, nos conhecidos musseques, e alastrou
a outros municípios, onde alguns intelectuais, que na altura já tinham a 4ª
classe, foram chamados de agitadores e muito deles foram massacrados.
"Isto fez com
que houvesse um grande êxodo populacional da cidade de Luanda e de outras
cidades costeiras que foram atingidos por esta repressão e outros foram parar
aos países vizinhos, fundamentalmente no Baixo Congo, no ex-Congo
Leopoldeville, actual República Democrática do Congo, outros para a Zâmbia, a
fim de salvaguardarem a sua vida", concluiu.
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