Maputo, 03 abr
(Lusa) - A adjudicação direta a uma empresa liderada pela filha do Presidente
moçambicano do processo de digitalização da televisão e rádio de Moçambique
está a provocar a contestação de partidos da oposição, sociedade civil e
operadores privados.
A entrega, sem
concurso público, da operação avaliada em 220 milhões de euros à empresa
sino-moçambicana Star Times liderada por Valentina Guebuza, filha do atual
Presidente moçambicano, Armando Guebuza, é criticada pelos dois principais
partidos da oposição moçambicanos, a Resistência Nacional Moçambicana (Renamo)
e o Movimento Democrático de Moçambique (MDM), que acusam o executivo de Maputo
de ter "quebrado as regras do jogo".
Em sentido
contrário, a Frelimo, partido no poder, considera que se trata de "uma
polémica desnecessária", em torno deste processo. "A filha do
Presidente da República é ou não é moçambicana? O facto de ela ser filha do
Presidente e membro da Frelimo não significa que perde os seus direitos como
moçambicana", defendeu Damião José, porta-voz da Frelimo.
Do lado da
sociedade civil, também o Centro de Integridade Pública (CIP) contesta a
decisão do Governo moçambicano, "interrogando" a capacidade da
empresa privada para implementar o processo de migração do sinal analógico para
digital de televisão e rádio.
"Haverá sempre
interrogações sobre até que ponto a empresa vai fazer o trabalho com a
qualidade que se quer, sem que tenha havido uma apresentação pública das
garantias e créditos que essa empresa tem", afirmou o diretor do CIP,
Adriano Nuvunga, citado pelo diário O País.
Na sua edição de
hoje, no qual o tema é escrutinado por diversas figuras públicas moçambicanas,
o jornal cita o diretor da estação privada Televisão Independente de Moçambique
(TIM), João Ribeiro, que teme que o "apagão" analógico, previsto para
junho de 2014, vá apanhar desprevenida a população do país.
"Se ele
[apagão] acontecer na data prevista, as pessoas não vão poder sintonizar
televisão. Para que tal aconteça, precisarão de um conversor ou adquirir um novo
televisor, o que tem um custo, mas nada disto está claro", sublinhou João
Ribeiro.
Já Daniel David,
presidente do grupo Soico, que, entre outros órgãos, detém o jornal O País e a
estação televisiva STV, destacou a necessidade de serem prestadas informações
sobre o processo "aos telespetadores e aos próprios operadores".
"O que é que
os operadores deverão contar para que isso conste dos seus planos de negócio,
para se perceber se vai ser viável ou não, a quem se vai cobrar, quem vai
cobrar", disse Daniel David.
Para o responsável,
o processo de migração digital poderia ter sido entregue ao operador estatal
Telecomunicações de Moçambique (TDM), uma vez que "havia recursos e
capacidade de financiamento".
Na terça-feira, o
ministro moçambicano dos Transportes e Comunicações, Gabriel Muthisse, assinou
o acordo de concessão do Sistema de Radiodifusão Digital em Moçambique com o
responsável da Startimes Software Tecnology, empresa da China que detém 85 por
cento da Startimes Mozambique, Pang Xinxing.
Além da firma
chinesa, a Startimes Mozambique é detida em 15 por cento pela Focus 21, um
grupo empresarial da família de Armando Guebuza, presidida pela sua filha,
Valentina Guebuza.
EMYP (PMA) // PJA –
Lusa
Sem comentários:
Enviar um comentário