Com o apoio de Lisboa
Folha
8 – 07 junho 2014
Portugal
está, correspondendo aos mais recentes estudos sobre melhores mercados para
investir, a apostar forte em Moçambique. Dessa forma, comenta-se nos corredores
do poder de Lisboa, procura ultrapassar o “veto” que Eduardo dos Santos impôs
à chamada parceria estratégica. Armando Guebuza está receptivo e, tanto quanto
parece, pouco preocupado com a reacção do seu velho camarada e amigo Presidente
do MPLA, chefe do Governo e Presidente da República.
A
Lisboa já chegaram, segundo o Folha 8 apurou junto do Executivo de Passos
Coelho, alertas de desagrado remetidos de Luanda. Admitem essas fontes que,
para tentar apaziguar a reacção angolana, embora mantendo firme a aposta em
Moçambique, o Governo português esteja a preparar uma deslocação de alto
nível ao nosso país. Por outras palavras, trata-se de apostar em diversos
tabuleiros.
Importa,
neste contexto, atentar que Portugal apresentou este ano 43 projectos orçados
em mais de 150 milhões de euros, segundo dados do Centro de Promoção de
Investimentos (CPI) moçambicano.
O
investimento português aumentou 5,1% face ao ano passado, quando as empresas
portuguesas investiram cerca de 124 milhões de euros em Moçambique, ficando
atrás das sul-africanas (267,2 milhões de euros) e chinesas (168,1 milhões).
O
Centro de Promoção de Investimentos de Moçambique aprovou 125 projectos
durante o primeiro trimestre de 2014, no valor de 782,9 milhões de dólares,
dos quais 359,07 milhões de dólares referentes a investimentos estrangeiros.
Dados
da organização enviados indicam que, no mesmo período, o investimento
nacional atingiu o valor de 72,04 milhões de dólares, com os empréstimos e
suprimentos a representarem 351,8 milhões de dólares do montante global
apurado.
Com
204,2 milhões de dólares, relativos a 43 projectos, Portugal foi o país que
mais investiu em Moçambique durante os três primeiros meses do ano, seguido
das ilhas Maurícias (46,7 milhões de dólares), África do Sul (36,1 milhões),
China (21,4 milhões), Bielorrússia (12,05 milhões), Singapura (7,2 milhões),
Kuwait (6,6 milhões), Índia (4,9 milhões), Reino Unido (3,5 milhões) e
Emirados Árabes Unidos (3,3 milhões).
Dos
125 projectos aprovados, 108 contaram com investimento estrangeiro com origem
em 28 países, segundo informações do CPI, que revelam que o sector de Energia
recebeu a grande fatia do investimento realizado, cerca de 421 milhões de
dólares, que foi canalizada exclusivamente para a construção da Central
Termoeléctrica de Búzi, na província meridional de Sofala.
Envolvendo
28 iniciativas, a Indústria foi o segundo maior destino dos investimentos,
recebendo 138,2 milhões de dólares, sendo seguida pelas áreas de Construção e
Obras Públicas (91,7 milhões de dólares), Serviços (66,7 milhões), Turismo e
Hotelaria (41,1 milhões), Transportes e Comunicações (12,3 milhões), e
Agricultura e Agro-indústria (11,6 milhões).
Em
termos do investimento realizado por província, Sofala ocupa a liderança, com
474,05 milhões de dólares, estando atrás Maputo Cidade (110 milhões de
dólares), Tete (102,1 milhões), Maputo Província (39,6 milhões), Cabo Delgado
(21,9 milhões), Inhambane (13 milhões), Manica (12,1 milhões), Nampula (7
milhões), Zambézia (2,5 milhões) e Gaza (400 mil dólares).
Recorde-se
que a consultora Pricewaterhouse Coopers (PwC) defende que as empresas portuguesas
devem intensificar os investimentos em Moçambique, que vai ter um “crescimento
muito significativo”, acentuando sem meias palavras a necessidade de Portugal
diversificar os destinos de investimento, contrariando a aposta em Angola.
“Moçambique
vai ser dos países que vão crescer significativamente nos próximos três a
cinco anos em África”, diz Manuel Lopes da Costa, especialista da consultora,
acrescentando que “as empresas portuguesas preferiram transaccionar com
Angola, mais do que com Moçambique, por causa do atraso ainda maior nas
infra-estruturas moçambicanas, e porque fariam negócios melhores e mais
rapidamente, mas não podem descurar Moçambique”.
E
não podem porque Moçambique “vai ser importante para as empresas portuguesas
diversificarem os investimentos, até porque há sempre riscos quando os
investimentos estão concentrados no mesmo país”.
“Temos
uma presença muito diminuta face ao que podíamos ter” em Angola e em
Moçambique, salientou o responsável da consultora, explicando que só 5% das
importações de Moçambique são provenientes de Portugal, e Portugal exporta
apenas 2% das compras moçambicanas ao exterior.
No
que diz respeito às áreas onde será mais rentável para as empresas portuguesas
apostarem em Moçambique, Lopes da Costa salientou a agricultura, as pescas, a
indústria extractiva, a construção, a energia, a hotelaria e turismo e as
infra-estruturas.
Por
outro lado, os maiores desafios passam pela “dificuldade na obtenção de
crédito, acesso limitado à electricidade e atraso no início da exploração de
blocos de GPL e reservas de carvão”.
Esta
consultora não exclui, contudo, a a continuação do investimento no nosso país.
Assim, no caso de Angola, as áreas preferenciais para investimento apontadas
são a agricultura, as pescas, o petróleo, a geologia, as infra-estruturas, o
comércio, a hotelaria e o turismo, e o ambiente.
Quanto
às dificuldades dos empresários, elas passam essencialmente pela falta de
mão-de-obra qualificada, reduzida abertura da economia, uma forte estratégia
proteccionista e pela dificuldade de repatriamento de lucros.
VISITA
A PORTUGAL
O
Presidente da República de Moçambique, Armando Guebuza, visita Portugal em
Julho, no âmbito dos “encontros periódicos” entre os dois países, disse o ministro
da Planificação e Desenvolvimento moçambicano, Aiuba Cuereneia.
“A
visita insere-se nos encontros periódicos, no âmbito da nossa relação bilateral
estabeleceram-se as cimeiras e sendo este o último ano do mandato do Presidente,
é dentro desse relacionamento que se estabeleceu que vem a Portugal para
estabelecer contactos”, adiantou o governante moçambicano.
Todavia,
Portugal e Moçambique “estão ainda a preparar a visita”, pelo que Aiuba
Cuereneia considerou ”prematuro” avançar mais pormenores acerca desta
deslocação.
Armando
Guebuza visitou Portugal em 2010 e 2011, tendo recebido a visita de Passos
Coelho em Março do ano passado.
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