terça-feira, 17 de junho de 2014

MOÇAMBIQUE DIZ QUE ANGOLA QUER MANDAR EM QUASE TUDO


Folha 8 – 07 junho 2014

O ministro do Trabalho, António Pi­tra Neto, negou, em Ge n e b r a , q u a l q u e r envolvimento de Angola no cancelamento da assi­natura do acordo de coo­peração entre os países da CPLP no âmbito laboral. “É falso, foi mesmo Luan­da que esteve na origem deste problema”, revelou ao Folha 8 fonte presente na conferência da Comu­nidade de Países de Língua Portuguesa.

Os ministros do Traba­lho e Assuntos Sociais da CPLP deveriam assinar um acordo de coopera­ção no âmbito laboral à margem da 103ª Sessão da Conferência Internacional do Trabalho, organizada pela Organização Interna­cional do Trabalho (OIT), em Genebra.

O acordo não chegou, con­tudo, a ser assinado pelos Estados presentes. Em de­clarações à RFI, o ministro angolano indicou que o cancelamento foi motiva­do por problemas técni­cos e não por divergências entre os signatários em relação ao conteúdo do acordo.

“Da parte de Angola o con­teúdo está perfeitamente de acordo. Tecnicamen­te já temos aspectos que já foram considerados, portanto da parte de An­gola há uma vontade po­lítica de assinar”, refere o governante, criticando a posição moçambicana que, segundo o ministro António Pitra Neto, por­que preside actualmente à CPLP “tomou a decisão de adiar a assinatura”, sendo a interpretação angolana que tal se ficou a dever “à ausência de titulares im­portantes”.

Em relação à conferência, António Pitra Neto des­tacou o debate sobre os temas da formação pro­fissional e da questão da transformação da econo­mia informal.

Por sua vez, Maputo con­testa a versão angolana e endossa as culpas para Luanda, explicando a nos­so fonte que “Angola está habituada a impor as suas ideias, levando por arras­to todos os outros países”. Por outras palavras, “Mo­çambique está a assumir­-se cada vez mais como uma voz forte, como alter­nativa válida à tradicional pujança angolana, estra­tégia que não agrada aos angolanos”.

Curiosamente, António Pitra Neto reuniu-se com o homólogo português, Pedro Mota Soares, para discutir matérias de coo­peração bilateral.

O encontro ocorreu à mar­gem da 103ª Conferência Internacional do Traba­lho, tendo sido discutida a necessidade de reactivar acordos na área do tra­balho, nomeadamente no que respeita à formação profissional, emprego e inspecção geral do traba­lho.

“A formação de formado­res e a capacitação de qua­dros da área da inspecção geral do trabalho, está no centro das nossas priori­dades, para se dar resposta aos planos e programas gi­zados para a área do traba­lho, em função dos termos de referência e das neces­sidades actuais”, salienta Pitra Neto.

Por sua vez, Mota Soares sublinhou a disponibilida­de de Portugal para coope­rar com Angola no sector do trabalho.

O governante angolano reuniu-se, ainda, com o di­rector regional para África da Organização Interna­cional do Trabalho (OIT) e com o director-geral da OIT, Guy Ryder.

Sobre estes encontros, no­meadamente com o minis­tro português, Moçambi­que entende “que Angola tem mau perder e está a jogar na divisão dos esta­dos membros da CPLP, indo tratar em encontros bilaterais o que teria total cabimento nas reuniões multilaterais, desde logo porque os assuntos são os mesmos”.

“Mau grado a posição de força que Angola tomou em relação à parceria es­tratégica com Portugal, vê-se que as notícias que indicam que Lisboa deve virar-se para outros mer­cados, nomeadamente para Moçambique, de­sagradou ao governo de Luanda”, refere a nos­sa fonte junto da CPLP, acrescentando que “Ma­puto está consciente de outros boicotes por parte de Angola e até mesmo co o recrudescimento de alguma animosidade”.

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