Folha 8 – 07 junho 2014
O
ministro do Trabalho, António Pitra Neto, negou, em Ge n e b r a , q u a l q u
e r envolvimento de Angola no cancelamento da assinatura do acordo de cooperação
entre os países da CPLP no âmbito laboral. “É falso, foi mesmo Luanda que
esteve na origem deste problema”, revelou ao Folha 8 fonte presente na
conferência da Comunidade de Países de Língua Portuguesa.
Os
ministros do Trabalho e Assuntos Sociais da CPLP deveriam assinar um acordo de
cooperação no âmbito laboral à margem da 103ª Sessão da Conferência
Internacional do Trabalho, organizada pela Organização Internacional do
Trabalho (OIT), em Genebra.
O
acordo não chegou, contudo, a ser assinado pelos Estados presentes. Em declarações
à RFI, o ministro angolano indicou que o cancelamento foi motivado por
problemas técnicos e não por divergências entre os signatários em relação ao
conteúdo do acordo.
“Da
parte de Angola o conteúdo está perfeitamente de acordo. Tecnicamente já
temos aspectos que já foram considerados, portanto da parte de Angola há uma
vontade política de assinar”, refere o governante, criticando a posição
moçambicana que, segundo o ministro António Pitra Neto, porque preside
actualmente à CPLP “tomou a decisão de adiar a assinatura”, sendo a interpretação
angolana que tal se ficou a dever “à ausência de titulares importantes”.
Em
relação à conferência, António Pitra Neto destacou o debate sobre os temas da
formação profissional e da questão da transformação da economia informal.
Por
sua vez, Maputo contesta a versão angolana e endossa as culpas para Luanda,
explicando a nosso fonte que “Angola está habituada a impor as suas ideias,
levando por arrasto todos os outros países”. Por outras palavras, “Moçambique
está a assumir-se cada vez mais como uma voz forte, como alternativa válida à
tradicional pujança angolana, estratégia que não agrada aos angolanos”.
Curiosamente,
António Pitra Neto reuniu-se com o homólogo português, Pedro Mota Soares, para
discutir matérias de cooperação bilateral.
O
encontro ocorreu à margem da 103ª Conferência Internacional do Trabalho,
tendo sido discutida a necessidade de reactivar acordos na área do trabalho,
nomeadamente no que respeita à formação profissional, emprego e inspecção geral
do trabalho.
“A
formação de formadores e a capacitação de quadros da área da inspecção geral
do trabalho, está no centro das nossas prioridades, para se dar resposta aos
planos e programas gizados para a área do trabalho, em função dos termos de
referência e das necessidades actuais”, salienta Pitra Neto.
Por
sua vez, Mota Soares sublinhou a disponibilidade de Portugal para cooperar
com Angola no sector do trabalho.
O
governante angolano reuniu-se, ainda, com o director regional para África da
Organização Internacional do Trabalho (OIT) e com o director-geral da OIT, Guy
Ryder.
Sobre
estes encontros, nomeadamente com o ministro português, Moçambique entende
“que Angola tem mau perder e está a jogar na divisão dos estados membros da
CPLP, indo tratar em encontros bilaterais o que teria total cabimento nas
reuniões multilaterais, desde logo porque os assuntos são os mesmos”.
“Mau
grado a posição de força que Angola tomou em relação à parceria estratégica
com Portugal, vê-se que as notícias que indicam que Lisboa deve virar-se para
outros mercados, nomeadamente para Moçambique, desagradou ao governo de
Luanda”, refere a nossa fonte junto da CPLP, acrescentando que “Maputo está
consciente de outros boicotes por parte de Angola e até mesmo co o
recrudescimento de alguma animosidade”.
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