Diretora
de “Citizenfour”, o documentário sobre denúncias de Edward Snowden,
alerta:controle social e esvaziamento da democracia ampliaram-se, após
revelações. Esperança é consciência
Tom
Englehardt, do Tom
Dispatch, entrevista Laura Poitras - Tradução: Mariana
Bercht Ruy – Outras Palavras
Temos
aqui uma estatística da nova era de vigilância global. Quantos norte-americanospossuem a
chamada security
clearance, que permite acesso aos dados sigilosos, das agências de espionagem, sobre
pessoas e organizações? Resposta: 5,1 milhões – número que reflete o
crescimento explosivo do Estado de segurança nacional no pós-11 de
setembro. É algo equivalente à população da Noruega. E ainda assim é
apenas 1,6% da população norte-americana. A intenção é deixar os
98,4% restantes às cegas, num número crescentes de
assuntos. E isso é apresentado como se fosse algo “em favor
denossa própria segurança”.
Estes
fatos oferecem uma nova definição de democracia, na qual as pessoas devem saber
apenas aquilo que o sistema de segurança nacional conta a elas. Sob esse
sistema, a ignorância é o pré-requisito necessário e legalmente imposto para
que as pessoas sintam-se protegidas. É significativo: o único delito pelo qual
aqueles que estão dentro do sistema de segurança nacional podem ser
responsabilizados, na Washington pós-11 de setembro, não é mentir diante do
Congresso, destruir evidências de um crime, torturar, sequestrar, assassinar ou
provocar morte de prisioneiros em sistemas prisionais extralegais — mas
denunciar irregularidades. Ou seja, contar à sociedade algo que seu governo
esteja fazendo. E esse “crime”, apenas esse, tem sido perseguido com toda a
força da lei e mais – com um vigor nunca visto na história do país. Para
oferecer um único exemplo, o único norte-americano preso pelo programa de
tortura da CIA da era Bush foi John Kiriakou – um denunciante da CIA que
revelou, a um repórter, o nome de um agente envolvido no programa.
Nesses
anos, uma Casa Branca cada vez mais imperial lançou várias guerras
(redefinidas pelos seus defensores como outra coisa qualquer), além uma
campanhainternacional de assassinatos [por meio de drones], na qual a Presidência tem
a sua própria “lista negra” e o presidente decide sobre ataques globais do
tipo que matou Bin Laden.
E
ainda assim isso não significa que nós, o povo, não saibamos nada. Contra
obstáculos crescentes, surgiram algumas boas reportagens na imprensa
“mainstream” – feitas por James Risen e Barton Gellman – sobre as atividades
extra-legais do estado de segurança. Acima de tudo, apesar do uso regular que o
govern Obama faz da Lei de Espionagem, da época da I Guerra Mundial,
denunciantes têm dado um passo adiante dentro do governo para, às vezes,
oferecer informações surpreendentes sobre o sistema que foi implantado em nosso
nome, mas sem nosso conhecimento.
Entre
eles, destaca-se um jovem, cujo nome é agora conhecido em todo o mundo. Em
junho de 2013, graças ao jornalista Glenn Greenwald e à produtora Laura
Poitras, Edward Snowden, que trabalhou na NSA e anteriormente na CIA, entrou em
nossas vidas a partir de um quarto de hotel em Hong Kong. Com um
tesouro de documentos que ainda estão sendo publicados, ele mudou a perspectiva
pela qual praticamente todos nós víamos o mundo. Está sendo acusado sob a Lei
de Espionagem. Se de fato ele era um “espião”, a espionagem que fez foi por nós
e pelo mundo. O que ele revelou, a um planeta chocado, foi um estado de
vigilância global cujos alcance e ambições eram únicos. Um sistema baseado em
uma única premissa: que a privacidade já não existe e que ninguém é, em teoria
(e, em grande medida, na prática) invigiável.
Os
criadores do sistema imaginaram uma única exceção: eles próprios. Foi, ao menos
em parte, por isso que, quando Snowden nos permitiu espreitá-los, eles
extravasaram ódio. Seja como for que tenham reagido, do ponto de vista
político, é claro que também sentiram-se violados – algo que, até onde se sabe,
deixou-os sem qualquer empatia diante do resto de nós. Snowden provou, de
qualquer forma, que o sistema nasceu pronto para dar um tiro pela culatra.
Dezesseis
meses depois que os documentos da NSA começaram a ser lançados pelo
Guardian e pelo Washington Post, talvez seja possível falar numa Era
Snowden. E agora, um novo filme notável, Citizenfour,
que teve pré-estreia no Festival de Filmes de NovaYork em 10 de
outubro, oferece uma janela para como tudo aconteceu. Já foi mencionado
como possível vencedor do Oscar.
Laura
Poitras, a diretora, é produtora de documentários, jornalista e artista.
Tornou-se – assim como o repórter Glenn Greenwald – quase tão amplamente
conhecida quanto o próprio Snowden. Seu novo filme, o último em uma trilogia
(os anteriores são My Country, My Country sobre a Guerra do Iraque, e The Oath,
sobre Guantanamo), remete-nos a junho de 2013 e nos leva ao quarto de hotel em Hong Kong em que Snowden
começou a fazer suas revelações a Glenn Greenwald, Ewen MacAskill (do
Guardian), e a própria Laura. Antes daquele momento, estávamos quase
literalmente no escuro. Depois dele, temos mais noção, pelo menos, da natureza
da escuridão que nos envolve. Tendo visto seu filme, dialoguei com
Poitras em uma pequena sala de conferências de um hotel em Nova York para
discutir como o mundo mudou e qual foi o papel dela nisso.
Você
poderia começar expondo brevemente o que você acredita que aprendemos com
Edward Snowden sobre como o mundo realmente funciona?
Laura
Poitras: O mais impressionante que Snowden revelou é a profundidade do que
a NSA e os chamados Cinco Olhos [Five Eyes, países anglo-saxões aliados:
EUA, Reino Unido, Canadá, Austrália e Nova Zelândia] estão fazendo: sua fome
por todos os dados, o enorme arrastão de vigilância onde tentam coletar o fluxo
de todas as comunicações e fazê-lo de várias formas diferentes. Seu ethos é
“coletar tudo”. Trabalhei em uma história com Jim Risen, do New York Times,
sobre um documento – um plano de quatro anos para a interceptação de sinais. É
um termo cunhado pelos autores. Para eles, a internet é isso: a base para uma
era de ouro na qual se espia todo mundo.
Esse
foco em vigilância do planeta maciça, dissimulada, e na forma de arrastão é
certamente o mais impressionante. Muitos programas fizeram isso. Além disso, a
NSA e a GCHQ [inteligência britânica] fazem coisas como atacar engenheiros de
telecomunicações. Um artigo publicado pelo The Intercept, e baseado
em documentos da NSA providos por Snowden, tinha um capítulo intitulado “Eu
caço Syadmins” [administradores de sistema]. Eles tentaram encontrar os
guardiões das informações, as pessoas que protegem os dados dos clientes, e
atingi-los. Além disso, temos a coleta passiva de tudo: as informações que não
conseguem de um jeito, obtêmde outro.
Eu
acho que uma das coisas mais chocantes é como nossos governantes sabiam pouco
sobre o que a NSA fazia. O Congresso está aprendendo a partir de reportagens, o
que éimpressionante. Snowden e William Binney [ex-funcionário da NSA], que
também está no filme como delator de uma outra geração, são técnicos que
entendem os perigos. Nós, leigos, talvez entendamos alguma coisa dessas
tecnologias, mas eles realmente compreendem o perigo existente na forma como
elas podem ser usadas. Uma das coisas mais assustadoras, na minha opinião, é a
capacidade de pesquisa retroativa, de voltar no tempo e descobrir os contatos
que qualquer pessoa manteve e os locais que frequentou. No que diz respeito à
minha profissão de jornalista, isso permite ao governo rastrear o que você está
reportando, com quem fala e aonde vai. Não importa se eu tenho ou não o
comprometimento de proteger minhas fontes: o governo tem acesso a informações
que talvez lhe permitam identificar com quem estou falando.
Perguntando
a mesma coisa de outra forma: como o mundo seria sem Edward Snowden? Porque me
parece que, de alguma forma, nós estamos na Era Snowden
Laura
Poitras: Snowden nos permitiu escolher sobre como queremos avançar para o
futuro. Estamos em uma encruzilhada e ainda não sabemos qual caminho vamos
tomar. Sem Snowden, praticamente todo mundo ainda estaria no escuro sobre a
quantidade de informação que o governo norte-americano está coletando. Acho que
ele mudou a consciência sobre os perigos da vigilância. Sabemos que muitos
advogados deixam seus celulares fora das suas reuniões, agora. As pessoas estão
começando a compreender que os aparelhos que carregamos conosco revelam nossa
localização, com quem estamos falando, e todo tipo de informações. Houve uma
mudança de consciência real, depois das revelações de Snowden.
Apesar
disso, não houve nenhuma mudança na atitude do governo dos EUA
Laura
Poitras: Os especialistas nos campos de vigilância, privacidade e
tecnologia dizem que é necessário atuar dem dois campos: o político e o
tecnológico. O caminho tecnológico é a criptografia. Funciona e, se você quer
privacidade, deveria usar. Já há mudanças em grandes empresas – Google e Apple,
por exemplo –, que agora entendem quão vulneráveis são os dados dos seus
clientes. Também percebem que, desse modo, seus negócios também se tornam
vulneráveis. Por isso, também, há uso crescente das tecnologias de
criptografia. Porém, nenhum programa foi desmantelado em Washington, apesar da
pressão internacional.
Em Citizenfour, uma hora da
ação se passa em um quarto de hotel em Hong Kong , com Snowden,
Glenn Greenwald, Ewan MacAskill e você. Isso é fascinante. Snowden é quase
preternaturalmente cativante e senhor de si. Imagino um romancista em cuja
mente simplesmente entra o personagem dos sonhos. Deve ter sido assim com você
e Snowden. Mas e se fosse um cara cinzento, com os mesmos documentos e coisas
muito menos inteligentes para dizer sobre eles? Em outras palavras como
exatamente a pessoa que ele era afetou o seu filme e reconstruiu seu mundo?
Laura
Poitras: São duas questões importantes. Uma: qual foi a minha primeira
sensação? Outra: como eu acho que isso teve impacto no filme? Editamos o filme
e o exibimos para pequenos grupos. Não tive dúvida de que Snowden é articulado
e verdadeiro, na tela. Mas vê-lo em uma sala cheia [na pré-estreia do Festival
de Filmes de Nova York, em 10 de outubro], foi tipo, uau! Ele realmente domina
a tela! E eu tive uma nova experiência sobre o filme, em uma sala cheia.
Mas
qual foi sua primeira experiência com ele? Quero dizer, você não sabia quem ia
conhecer, certo?
Laura
Poitras: Eu mantive correspondência com uma fonte anônima por cerca de
cinco meses antes. No processo de desenvolver um diálogo, você constrói ideias,
é claro, sobre quem a pessoa talvez seja. Achava que ele seria uma pessoa com
quarenta e tantos anos, ou pouco mais de cinquenta. Percebi que deveria ser da
geração da internet por ser super ligado em tecnologia. Mas
pensei que, dado o nível de acesso e informação que podia discutir, devera ser
mais velho. Minha primeira experiência foi a necessidade de reprogramar minhas
expectativas. Fantástico, sensacional, ele é jovem e carismático. Fiquei
pensando: uau, isso muito tão desorientador, precisso fazer um reboot.
Retrospectivamente, posse ver que é realmente forte que alguém tão inteligente,
tão jovem e com tanto a perder tenha arriscado tanto.
Ele
estava muito em paz com a escolha que tinha feito e sabia que as consequências
podiam significar o fim da sua vida – ainda assim, havia tomado a decisão
certa. Ele acreditava nisso e, quaisquer que fossem as consequências, estava
pronto a aceitá-las. Conhecer alguém que tomou esse tipo de decisão é extraordinário.
E poder documentar isso e também a forma como Glenn [Greenwald] interveio e se
esforçou, de modo ativo, para que o relato se produzisse mudou a narrativa.
Como Glenn e eu enxergamos tudo de uma perspectiva externa, a narrativa
desenvolveu-se de forma a que ninguém sabia realmente como responder. Por, acho
acho que a Casa Brana ficou, a princípio, transtornada. Não é todo dia que um
denunciante está pronto para ser identificado.
Meu
palpite é que Snowden nos deu o sentimento de que agora conhecemos a natureza
do estado de vigilância global que nos observa. Mas sempre penso que ele é só
um cara, vindo de um dos 17 órgãos de inteligência interligados. Seu filme
termina de forma marcante – o golpe final – com outro ou outros informantes
despontando em algum lugar do mundo, para revelar informações sobre a enorme
lista de pessoas vigiadas, na qual você mesma está, fico curioso. O que você
acredita que ainda existe para ser descoberto? Suspeito que se delatores estão
para surgir, nas maiores cinco ou seis agências, com documentos similares aos
de Snowden, vamos ficar aturdidos com o sistema que foi criado em nosso nome.
Laura
Poitras: Não posso especular sobre aquilo que ainda não sabemos, mas acho
que você tem razão sobre a escala e escopo das coisas, e a necessidade de essa
informação tornar-se pública. Quero dizer, considere apenas a CIA e seu esforço
para impedir o Senado dos EUA de conhecer seu programa de tortura. Considere o
fato vivermos em um país que a) legalizou a tortura b) onde ninguém nunca foi
responsabilizado por isso e agora a visão interna do governo sobre o que
aconteceu está sendo suprimida pela CIA. É uma paisagem assustadora.
Realmente, rejeito a ideia de falar sobre um, dois ou três
denunciantes. Nosso trabalho foi informado por muitas fontes e acho que temos,
diante delas, dever de gratidão por terem assumido os riscos que assumiram. De
uma perspectiva pessoal, porque estou numa lista de pessoas vigiadas. Passei
anos tentando descobrir a razão. O governo recusou-se a confirmar ou negar a
própria existência da tal lista. Foi muito significativo que sua existência
real fosse revelada, para que o público saiba que ela existe. Agora, os
tribunais podem decidir sobre a legalidade disso. Quero dizer, a pessoa que
revelou isso fez um imenso serviço público e eu estou pessoalmente grata.
Você
se refere ao delator desconhecido, que é mencionado visual e elipticamente ao
final do seu filme, e que revelou a existência de uma imensa lista, com os
nomes de mais de 1,2 milhão de pessoas vigiadas. Nesse contexto, como é viajar
como Laura Poitras hoje? Como você encarna o novo estado de segurança nacional?
Laura
Poitras: Em 2012, estava pronta para editar e escolhi deixar os EUA por
que não sentia como se pudesse proteger minhas fontes. A decisão foi baseada em
seis anos sendo parada e questionada todas as vezes que retornava aos EUA. Fiz
as contas e percebi que seria muito arriscado editar nos EUA. Comecei a
trabalhar em Berlim em 2012. Em janeiro de 2013, recebi o primeiro e-mail de
Snowden.
Então
você está protegendo…
Laura
Poitras: Outra filmagem. Filmei com o denunciante da NSA William Binney,
com Julian Assange, com Jacob Appelbaum do Tor Project. São pessoas
também visadas pelos EUA, e senti que esse material que eu tinha não estava
seguro. Fui incluída na lista em 2006. Fui detida e questionada na fronteira,
ao regressar aos EUA, cerca de 40 vezes. Se contasse as paradas domésticas, e
todas as vezes em que fui parada em pontos de trânsito europeus, provavelmente
chegaria a algo entre 80 e 100 vezes. Tornou-se uma coisa regular, ser
questionada sobre onde estive e com quem me encontrei. Me vi capturada em um
sistema do qual aparentemente não se pode sair, nessa lista kafkiana que os EUA
nem sequer reconhecem.
Você
foi parada quanto entrou nos EUA, dessa vez?
Laura
Poitras: Não. As detenções pararam em 2012, depois de um incidente
bastante extraordinário. Eu estava voltando pelo Aeroporto de Newark [nas
proximidades de Nova York] e fui detida. Peguei meu caderno, porque sempre tomo
notas sobre quando sou parada, quem são os agentes e coisas assim. Dessa vez,
ameaçaram me algemar por tomar notas. Disseram “Abaixe a caneta!” Alegaram que
a minha caneta podia ser uma arma e ferir alguém.
“Abaixe
a caneta! A caneta é perigosa!” Eu fiquei imaginando que fossem malucos. Várias
pessoas gritavam comigo, todas as vezes que eu movia minha caneta para baixo,
para tomar notas – como se ela fosse uma faca. Depois disso, decidi que era
maluquice demais, eu precisava fazer alguma coisa. Chamei Glenn Greenwald. Ele
escreveu um texto sobre as minhas experiências. Depois do artigo, recuaram.
Snowden
nos contou muito sobre a estrutura de vigilância global que está sendo
construída. Nós sabemos muito pouco sobre o que estão fazendo com toda essa
informação. Me choca como foram inábeis em usar essa informação em sua gerra ao
terror, por exemplo. Quero dizer, eles sempre parecem estar um passo atrás no
Oriente Médio – não apenas atrás dos acontecimentos, mas atrás do que acredito
que uma pessoa, usando apenas informações abertas, poderia informar a eles.
Acho isso surpreendente. Que sentido faz você fazer o que estão fazendo com a
montanha de informações, os yottabytes, todos os dados que estão
recolhendo?
Snowden
e muitas outras pessoas, inclusive Bill Binney, disseram que essa mentalidade –
de tentar sugar tudo o que podem – deixou-os tão afogados em informações que
perdem as ligações mais óbvias. No final, o sistema que criaram não leva ao que
descreveram como seu objetivo, que é segurança – porque têm infomação demais
para processar.
Laura
Poitras: Não sei realmente como compreender tudo isso. Penso muito a
respeito, porque fiz um filme sobre a Guerra do Iraque e outro sobre
Guantanamo. Da minha perspectiva, em resposta aos ataques de 11 de setembro, os
EUA envolveram-se em atividades que criaram duas gerações de pessoas nutridas
por sentimentos anti-americano – em resposta a coisas como Guantanamo e Abu
Ghraib. Ao invés de responder a um grupo pequeno de terroristas, criamos
gerações de pessoas irritadas e que nos odeiam. Então, penso: se o objetivo é
segurança, como essas coisas se alinham? Por que há, agora, mais gente que
odeia os Estados Unidos, mais gente que tenciona fazer-nos mal? Ou o objetivo
que o sistema de segurança proclama não é o real, ou eles são simplesmente
incapazes de dialogar com o fato de que cometeram grandes erros, pelos quais
agora pagamos.
Me
impressiona como a falha converteu-se, de alguma maneira, em rampa de
lançamento para o sucesso. Quero dizer, a construção de um aparato de
inteligência sem paralelos e a a maior coleta de informações da história veio
da falha de 11 de setembro. Ninguém foi responsabilizado, ninguém foi punido,
ninguém foi rebaixado nem nada. Todas as falhas semelhantes, incluindo uma
recente, no gramado da Casa Branca, simplesmente levam ao reforço do sistema.
Laura
Poitras: Como você entende isso?
Não
acho que essas pessoas estejam pensando: precisamos falhar, para termos
sucesso. Não sou conspiratório nesse sentido, mas eu acho que, estranhamente, a
falha construiu o sistema e acho isso estranho. Mais que isso, não sei.
Laura
Poitras: Não discordo. O fato de que a CIA sabia que dois dos
sequestradores do 11 de setembro estavam entrando nos Estados Unidos, mas não
notificou o FBI e ninguém perdeu seu emprego por isso, é chocante. Ao invés
disso, ocupamos o Iraque, que não tinha nada a ver com o 11 de setembro. Quero
dizer, como essas escolhas são feitas?
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