![]() |
Acesso ao Folha 8 digital |
Folha
8 (edição digital), 01 novembro 2014
O
presidente da UNITA, Isaías Samakuva, disse em Lisboa que o Orçamento Geral
do Estado “é algo de fachada, que não se cumpre”, acrescentando também que
ninguém sabe “de onde surgem enormes somas de dinheiro a passear na Europa”.
Questionado
pelos jornalistas no final de uma intervenção em Lisboa, no ‘International
Club de Portugal’, o líder da UNITA ressalvou que ainda não tinha lido o
documento que rege as despesas e receitas de Angola em 2015, mas sublinhou
que, pela experiência, podia dizer que “o Orçamento Geral do Estado, em Angola,
é algo de fachada, não se cumpre não se respeita, não se sabe de onde vêm
enormes somas de dinheiro apanhadas em caixas de sapatos aqui na Europa, ou
então para fazer muita festa em Angola”.
O
OGE, sublinhou, “é algo só para formalidades”, disse, lamentando que o Governo
não invista mais na diversificação da economia, apostando no sector da
agricultura, e continuando dependente da evolução da produção petrolífera para
equilibrar o orçamento.
“O
facto de termos todo o Orçamento baseado no petróleo traz consequências
enormes, pensamos sempre que os preços do petróleo estão altos e com a produção
enorme que temos não há problemas, mas depois vemos, assim que descem, o
Presidente da República, no Estado da Nação, a atirar todas as culpas do que
não se faz para a diminuição da produção e para a baixa dos preços”, disse
Isaías Samakuva.
Por
isso, a UNITA “tem insistido para uma real diversificação da economia” e tem
afirmado que “não podemos basear toda a nossa economia no petróleo, até seria
melhor basearmos a nossa produção na agricultura, um sector vital e
estratégico” para Angola, disse.
Antes,
no discurso, já tinha deixado duas mensagens, uma para os investidores, e
outra para os estrategas e governantes: na primeira, afirmou que “Angola é um
país maravilhoso onde se pode ganhar muito dinheiro em muito pouco tempo, mas
esta facilidade encobre uma séria doença cancerosa que preocupa os que olham
para o seu futuro”.
ANGOLANOS
QUEREM MUDANÇA
Num
discurso repleto de críticas ao actual Governo e ao Presidente da República,
Isaías Samakuva considerou estar-se “num momento crítico na história de uma
nação, um daqueles momentos que redefine o seu futuro”, e defendeu que “os angolanos
querem mudança, mas o regime continua, e a intensidade deste desejo cresceu de
tal forma que um dificilmente sobreviverá ao outro”.
Aproveitando
a passagem por Portugal, o responsável político deixou bem vincadas as
diferenças entre os dois regimes políticos: “alguém imagina um mandato de 40
anos sem que o Presidente se tenha sujeitado a um único debate na televisão? E
o que diriam se os deputados só pudessem fiscalizar o Governo se isso fosse autorizado
pelo próprio Presidente da República?”.
O
responsável lembrou que “Angola é o único país da CPLP sem autarquias” e disse
que “os direitos e liberdades fundamentais não são respeitados”, para concluir
que “Angola precisa de outra independência”, porque “o actual governo chegou
ao seu fim e já não consegue reunir as condições políticas de governabilidade e
legitimidade para se manter em plenitude de funções”.
Noutra
frente, Isaías Samakuva, considerou que o que se passa no BES Angola
configura “um caso de polícia” e lamentou que, “ao contrário do que se passa em
Portugal, em Angola fazem-se perguntas mas não há resposta”.
Há
várias questões “que configuram inconstitucionalidades e uma atitude e
comportamento não transparente” das autoridades, disse o presidente da UNITA,
respondendo a uma questão do deputado do CDS-PP José Ribeiro e Castro, que
integra a comissão de inquérito ao que se passou na gestão do grupo e do Banco
Espírito Santo.
Recorde-se
que o Banco Espírito Santo Angola (BESA) vai passar a assumir a denominação
de Banco Económico SA e entre os novos accionistas, como Folha 8 revelou,
encontram-se o grupo público angolano Sonangol e o Novo Banco português,
informou na quarta-feira o Banco Nacional de Angola.
As
alterações foram decididas durante uma Assembleia-Geral extraordinária de
accionistas, realizada em Luanda, em cumprimento das determinações do banco
central angolano, que assim vai cessar a intervenção no BESA, e que o BES
considera sem qualquer valor legal.
Na
mesma informação, o Banco Nacional de Angola (BNA) esclarece que “se confirmou
a subscrição do capital social”, conforme o próprio banco central tinha
deliberado, há uma semana, no âmbito das medidas de saneamento e da intervenção
directa no BESA.
Embora
sem revelar o peso de cada participação, o BNA informa que “sob aprovação
prévia do regulador”, a Assembleia-Geral decidiu pela “continuidade do
accionista Geni, S.A.”, que anteriormente detinha uma participação de 18,99 por
cento.
A
nova estrutura accionista envolveu também a entrada para o capital do agora
Banco Económico da Lektron Capital, do grupo petrolífero estatal Sonangol e do
português Novo Banco.
A
estrutura anterior era composta ainda pelo Banco Espírito Santo (BES) com
55,71%, e pela Portmill, com 24%, participações que, conforme o BNA já tinha
anunciado anteriormente, foram diluídas face ao aumento de capital.
Sem comentários:
Enviar um comentário