Verdade
(mz) - Editorial
Trinta
e oito dias depois do seu suposto sequestro, o empresário de sucesso, que
enriqueceu devido ao seu trabalho, desde os nove anos de idade, porém, acusado
pelo Governo norte-americano de ser o “barão de drogas”, regressou ao convívio
familiar, mas a operação que culminou com o seu resgate deixou muitas dúvidas
por esclarecer.
O
resgate de Momad Bachir carrega marcas de um show off visando fins
publicamente inconfessos, mas repugnáveis. Pede-se mais seriedade à Polícia e
às autoridades que lidam com a matéria criminal, que investiguem mais para
apurar quem são as verdadeiros mandantes dos sequestros.
As
declarações de Momad Bachir Sulemane (só ele sabe qual é a grafia correcta do
seu nome) à Imprensa sobre a tortura pela qual passou durante estes dias
parecem visar o arrastar, cegamente, dos milhões de moçambicanos para que
acreditem numa Polícia já com o rótulo de incompetência e aplaudirem o seu
trabalho duvidoso em torno do combate aos sequestros. Não nos tomem por parvos!
Ao
contrário de outras vítimas de rapto, que após serem restituídos à liberdade
pelos raptores não sabem descrever detalhadamente os lugares onde foram
submetidos ao sofrimento, Momad Bachir tenta fazer-nos crer que o tempo em que
esteve alegadamente no cativeiro não lhe ofuscou a memória: descreve, com
exactidão, as medidas métricas a olho nu. Convicto, este cidadão narra que esteve
preso “numa caixa metálica de 3.80 metros de altura, 1.20 metro de largura e 1.90 metro de
comprimento, onde comia e fazia necessidades”. Será porque ele vendeu capulanas
durante muito tempo?
É
também interessante que, de repente, os raptores decidiram mudar o cativeiro
das suas vítimas sequestradas em Maputo, passando a privilegiar a provínciade
Gaza, o que se for verdade exige que a nossa Polícia se prepare ainda mais, se
purifique e paute pelo profissionalismo para não ter surpresas macabras no
futuro.
Mas
todo este resgate encenado parece consubstanciar a ideia de que a Polícia
conhece os raptores e convive com eles. Com estas cenas de ranger os dente, que
deixam qualquer cidadão abespinhado e que pisoteiam as normas básicas de boa
conduta da corporação policial, Moçambique tornou-se, cada vez mais, um país
onde a promiscuidade tende a ser uma coisa natural, onde os dirigentes se
baldam e colaboram com os criminosos.
O
regate de Momade Bachir contém muitas questões por esclarecer a partir da
altura em que tem como característica o facto de ser um trabalho encomendado.
As voltas que Bachir diz ter dado entre Maputo e Gaza até ser “recuperado” no
distrito de Macia não convencem nem meio mundo porque carregam muita mentira.
Nas suas declarações aos órgãos de comunicação, Bachir parecia um objecto
teleguiado. São manifestamente estranhos os agradecimentos que ele faz ao
Ministério do Interior e procura eternizá-los para que se pense que a sua
libertação é a materialização de um plano bem-sucedido e concebido pelo
comandante Jorge Khalau.
Sem comentários:
Enviar um comentário