segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

A UNIÃO EUROPEIA E A DESINDUSTRIALIZAÇÃO DA FRANÇA

 


– De como um caniche "made in UE" deixa destruir a indústria francesa para melhor fraturar o solo da França
PRCF [*]
 
Há muitas razões para publicar este texto em Portugal. Aquilo que em França já é grave, em Portugal é gravíssimo. A desindustrialização que afecta a França como uma constipação, atinge Portugal como uma broncopneumonia tripla. Este texto mostra como os mitos do "crescimento e emprego" [1] da UE não passam de estratagemas para ludibriar os povos. A França está hoje num processo de decadência económica e social que os portugueses conhecem demasiado bem. Lá, é o resultado da política de cedências, ilusões e submissão do PS do sr. Hollande. Aqui, é o resultado da recuperação monopolista e imperialista verificada ao longo dos últimos 39 anos de governação PS, PSD e CDS. As mesmas causas levam às mesmas consequências.
resistir.info


O sr. Montebourg [2] deixa a UE destruir a produção em França e relança o gás de xisto

Florange, PSA Aulnay, Continental, Goodyear, e tantas outras empresas antes destas, a lista das destruições industriais em França é longa…E no entanto está longe de estar fechada, o último fabricante de carroçarias de autocarros em França a Carrier vai fechar as portas. São mais 180 postos de trabalho industriais destruídos (210 com os provisórios e quantos mais nos subcontratados (??) No entanto Carrier representava 400 autocarros por ano…Vão ser importados, é "bom" para a balança comercial !

Então é preciso constatar que por detrás das gesticulações dos charlatões o roubo industrial do nosso país continua. Seria preciso fazer a lista das instalações industriais destruídas desde a adesão à CECA (Comunidade Europeia do Carvão e do Aço). Das hulheiras do Norte às aciarias de Florange passando pela indústria açucareira, são sessenta anos da destruição industrial ininterrupta, como se um país pudesse viver não produzindo senão finança e seguros polvilhados de uma pitada de turismo.

Durante anos a crença neoliberal contou-nos que não era grave, pois os "cérebros" ficavam no país (de passagem um pouco de racismo colonial não ficava mal), que a classe operária era coisa do passado e que os fatos-macaco deviam dar lugar aos colarinhos brancos! Esquecendo que os engenheiros e os técnicos de produção também são classe operária !

Esquecendo que a investigação e desenvolvimento (I e D) não existem senão em apoio de uma indústria poderosa. Com a liquidação do património industrial bem avançada, agora é a I e D que começa a ficar em farrapos…Seria preciso ser muito ingénuo para acreditar que a gangrena neoliberal se contentaria com a carne, agora ataca os ossos.

Deslocalizações + desindustrialização = liquidação da I&D

Pela primeira vez em 2013, houve mais destruição de empregos em I&D que criação e isto afecta todos os sectores estratégicos como a informática, produtos farmacêuticos ou ainda a ótica e a eletrónica.

É necessário ser muito claro, é a política de descomprometimento do Estado, sob a pressão da comissão europeia e dos diktats de Maastricht, que são responsáveis por este naufrágio. Com efeito todos os grandes projetos de futuro em França depois da segunda guerra mundial, não puderam ser levados a efeito sem a intervenção do poder público.

Ariane, TGV, Airbus, equipamento nuclear, equipamentos hidroelétricos, fosse num quadro francês (TGV), fosse num quadro de cooperação entre estados (Ariane, Airbus), em qualquer caso, fora da "concorrência livre e não falseada" da UE…É pois natural que o capital privado preocupado em satisfazer os seus apetites glutões e imediatos prefira viver de rendas e oportunismo em vez de investimentos a longo prazo tendo em vista o progresso comum.

Sem recuar às
"falências" das primeiras sociedades de autoestradas francesas que só deveram a sua salvação à retoma pelo estado , não é difícil verificar os estragos sobre as infraestruturas do futuro causadas pelo potentado de Bruxelas e seu cortejo de privatizações/territorialização. Energia, água, alta exorbitante das tarifas de gás e de eletricidade, telecomunicações, autoestradas, redes rodoviárias , SNCF é longa a lista de sectores privados ou privatizados nos quais os trabalhos de manutenção do existente e a execução de obras futuras deixam de ser feitas. E ao ritmo a que estão as coisas será em breve a indústria automóvel e todos os seus equipamentos que se deverão juntar a esta lista negra.

Enquanto alguns dizem que são apenas fantasmas, nós falamos forte: os factos são teimosos e não mentem. A França investe apenas 2,2% do seu PIB em I e D enquanto os EUA consagram 2,7%, a Alemanha 2,9% e o Japão 3,5%...e é ainda necessário salientar que o sector privado não assume as suas responsabilidades, pois os 20% da I e D consagrados à investigação fundamental, são quase inteiramente assumidos pelo poder público, nomeadamente através da CNRS, um organismo de público herdado da Frente Popular e da Libertação que os nossos euro-governantes desejam ardentemente liquidar.

Com Montbourg e a UE, destruição da produção industrial nacional e poluição vão juntas

Tudo isto é grave, mas destruir o potencial produtivo do nosso país não basta aos tiranos da zona euro. É preciso mais que este caniche fortemente teimoso mantido à trela por Margerie ( PDG da petrolífera TOTAL ) e os déspotas financeiros e apátridas de Bruxelas,
prepara-se para destruir o ambiente esforçando-se para instalar exploração de gás de xisto em França …

Que ironia da História, depois de ter mandado para a rua milhões de trabalhadores da indústria pesada, o capital financeiro globalizados projeta poluir o nosso país destruindo o solo à semelhança do que se faz no Alasca, nos EUA.

Sim, decididamente com a UE os povos estão condenados a beber o cálice até à última gota. E então a gota "made in UE" tem o cheiro a betuminosos! Isto já não é "produzir em França", é destruir a França.

No entanto, seguindo o exemplo que os
nossos antepassados progressistas nos mostraram na Libertação , deixando-nos em herança alguns pecadilhos tais como o sistema de aposentações e reformas, a segurança social ou os contratos coletivos de trabalho, é possível escapar a este destino mortal, a esta tenaz que com uma machadada destrói a produção industrial e com outra polui o nossos território com golpes de fratura hidráulica de fluor-propano e outras gritantes obscenidades.

Para isto é preciso permitir ao nosso povo retomar o seu destino em mãos, o que passa pela saída da UE e do euro, passa pelas nacionalizações para permitir recriar um grande polo industrial de forma a produzir em França, isto é, assegurar a prosperidade do povo de França, a satisfação das nossas necessidades e não apenas os lucros de uma ínfima minoria de ricaços apátridas que não sabem que fazer do seu país.

De Luís XVI fugindo para a Áustria a Laurance Parisot (faz parte da administração de várias grandes empresas; presidente da confederação patronal MEDEF entre 2005 e 2013) que ameaçava numa rádio pública prejudicar a imagem da França no estrangeiro se a ANI do Medef
[3] não fosse adotado, as classes privilegiadas sempre gostaram de trair o seu país.

Para sairmos das nossas dificuldades, sair da UE, do Euro, da NATO e do capitalismo, quebremos as cadeias de União Europeia.

Assim, à vista desta constatação alarmante, é necessário agir para tirar o nosso país da UE, do euro do capitalismo. Sim, é necessário que as forças progressistas da França se unam num
CNR 2.0 [NT] e coloquem em primeiro plano a criação de um grande sector público nacionalizado industrial e financeiro para planificar a RECONSTRUÇÃO do nosso país largamente destruído e a reabilitação da classe operária permanentemente atacada e desqualificada desde há quarenta anos.

Sim, é preciso dizer saber dizer MERDA para a UE e seu cortejo reacionário e isso começa pelo
boicote às eleições europeias de junho de 2014 [NR] .
 
[1] Ver Crescimento e desenvolvimento
[2]
Arnaud Montebourg , ministro do Relançamento Produtivo
[3] ANI - Accord National Interprofessionnel, subscrito pela confederação patronal MEDEF e o sindicato CFDT. A CGT e a CGPME (Confedração Geral de PME) não o assinaram.

[NT] O CNR 2.0, foi lançado em dezembro de 2011 pelo presidente e fundador da URP (união Popular Republicana). Trata-se de um
programa inspirado no Conselho Nacional de Resistência de 1944, mas adaptado às condições atuais . Da sua introdução destaca-se: "a construção europeia não é a solução, é o problema", propondo-se "libertar a economia, os serviços públicos e órgãos de comunicação social da penhora dos feudalismos privados."

 
[NR] Em Portugal, na atual situação política, resistir.info não subscreve a tese do boicote a eleições.

[*] Pôle de Renaissance Communiste en France (PRCF)

O original encontra-se em
www.initiative-communiste.fr/... . Tradução de VC.

Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/

Portugal: AI AGUENTAM, AGUENTAM

 

Ana Sá Lopes – jornal i, opinião
 
Para Ulrich nem em 75 houve uma política tão redistributiva como hoje
 
Fernando Ulrich, presidente do BPI, voltou ao ataque. Depois do célebre “ai aguentam, aguentam” – relativamente ao qual mais tarde se retratou – no sábado decidiu anunciar aos portugueses, numa entrevista à SIC--Notícias, que este governo está a ter uma política “tão ou mais redistributiva” do que “os comunistas” em 1975. Entre outras alegrias, o banqueiro sentenciou que “nunca provavelmente a esquerda fez em Portugal uma política tão redistributiva como a que tem feito o governo do dr. Passos Coelho”. Afinal, segundo Ulrich, “as pessoas que mais ganham, tiveram cortes – seja pela via dos cortes, seja pela via da carga fiscal – muito maiores do que as pessoas que ganham menos. Com esta dimensão, talvez só em 75.”
 
Ulrich, infelizmente, não aprendeu nada desde o “ai aguentam, aguentam”. Estas declarações são outra versão da mentalidade de Maria Antonieta (“não há pão, comam brioches”) que preside aos decisores do actual estado de coisas – governo, banqueiros e os amigos nas instituições europeias.
 
Vamos lá dar a palavra outra vez a Ulrich: “Evidentemente que isto foi duro, não se pode é dizer que as pessoas que mais ganham não estão a passar por cortes enormes e muito maiores do que aqueles que ganham menos”, disse, citado pelo “Jornal de Negócios”. Para que se perceba melhor que Fernando Ulrich até tem uma ponta de piedade para com os falidos: “Não estou com isto a dizer que aqueles que ganham menos, ganham o suficiente, que estão bem, ou que os sacrifícios dos mais pequenos, que lhes foram impostos também não são duros. Não se pode é dizer que a política não tem tido uma preocupação redistributiva enorme”. Temos um governo comunista e não sabíamos.
 
Não interessa que, recentemente, um estudo do banco UBS tenha concluído que desde que começou o protectorado os mais ricos estão cada vez mais ricos. Também a OCDE, que ano após ano aponta Portugal como um exemplo de um país com fortíssimas desigualdades, alertou recentemente que a crise económica veio agravar de forma brutal a desigualdade de rendimentos. Os dados da OCDE revelaram que a desigualdade cresceu mais entre 2008 e 2010 nos 34 Estados-membros da organização (que inclui Portugal) do que nos 12 anos anteriores.
 
A OCDE diz que “depois de impostos e transferências, o rendimento dos 10% mais ricos da população dos Estados da OCDE é 9,5 vezes superior ao dos 10% mais pobres”. Ai aguentam, aguentam. Até um dia, senhor banqueiro.
 

Portugal: A OPOSIÇÃO FAZ DE CONTA

 

Pedro Marques Lopes – Diário de Notícias, opinião
 
Poucas semanas como as últimas demonstraram o estado do Partido Socialista. Começou com a absoluta mudez acerca da execução orçamental de 2013 e terminou com as perturbações com a chamada oposição interna. Pelo meio tivemos uma proposta abstrusa sobre tribunais especiais para investidores estrangeiros, promessas de reaberturas dos que o Governo está a fechar e a novela da escolha do cabeça de lista para as Europeias. O laçarote deste embrulho foi a sondagem ontem divulgada pelo Expresso que põe a coligação PSD/CDS a três pontos de distância do PS nas intenções de voto.
 
Poucos ficarão surpreendidos com tal proximidade. No fundo, o que dividiu o PS do Governo em termos de grandes opções? Pouco, muito pouco. O PS achava que era preciso mais tempo e metas mais realistas, e de facto os valores do défice foram revistos e foi dado mais tempo. O pacto orçamental era peça fulcral da política europeia e do Governo, e o PS assinou. O Governo quis diminuir o IRC e não o IRS, ou seja, taxar mais os trabalhadores e menos o capital, o PS aprovou. O Governo, a partir de certa altura, resolveu culpar Sócrates por todos os males do mundo, e o PS ficou mudo e quedo, mas até podiam sentir-se as palmas de contentamento da atual direção. Mas, sobretudo, a sensação que passa é que o PS pouco ou nada, na essência, faria de diferente. Talvez um bocadinho ao lado, talvez falando um bocadito mais grosso na Europa, mas nada de substancial.
 
É normal que o PS tenha ficado sem pio com a execução do Orçamento de 2013. O PS sempre pôs a tónica no não cumprimento das metas, não na essência das medidas. Só isso explica o silêncio. O Governo define as regras do jogo e o PS aceita.
 
Também não espanta, portanto, que Seguro só não tivesse assinado o pacto de regime, proposto por Cavaco Silva, porque a pressão de figuras históricas do PS foi demasiada. Era capaz de apostar singelo contra dobrado que o acordo com o PSD era total. Seria, aliás, interessante conhecer as atas das reuniões e desconfio que elas serão "libertadas" à medida dos interesses eleitorais do PSD. Também sou capaz de jurar que Seguro vai pagar caro ter dado o dito por não dito a Cavaco Silva.
 
A verdade é que para o Governo, Seguro foi o homem certo no momento certo. Alguém que fingiu que se opunha, que não incomodou e que se limita a esperar pela vez dele.
 
O PS não está sem discurso, ao contrário do que se diz, o PS tem simplesmente o mesmo discurso do Governo. É aliás por isso que se perde em propostas avulsas que soam a demagogia e a populismo. O anúncio de que se irão reabrir os tribunais que foram encerrados, baseia-se em que estudos? Não tinha o PS há poucos anos uma proposta muito parecida? Claro que sim. E será que alguém pensou no disparate de propor um tribunal para estrangeiros e para empresas ricas, dizendo basicamente que teríamos de acelerar a justiça para uns e mantê-la lenta para outros? O que fica claro é que não há estratégia nenhuma, há vontade de dizer coisas para ocupar o espaço.
 
Também não é estranho que o PS e Seguro ainda não tenham o cabeça de lista às europeias designado e a fazer campanha. Primeiro, o PS não tem discurso alternativo para a Europa (onde é aliás acompanhado por todo o centro-esquerda europeu). O pacto orçamental e a colagem a Hollande foram fatais; depois, como esta direção sofre de aparelhite aguda, jamais poderia colocar alguém que não fosse da estrita confiança política de Seguro, o que por si só exclui praticamente todas as figuras relevantes e com notoriedade dos socialistas. Sobrava Francisco Assis, mas este, pelos vistos, fartou-se de esperar.
 
Mas pior do que a atual direção do PS, só mesmo a sua oposição interna. Já cansa a conversa estafada dos críticos. Vem uma eleição e lá voltam eles ao "agarrem-me senão eu mato-o". É uma história de que conhecemos o princípio e o fim: grandes críticas, grandes exigências de resultados eleitorais e depois... nada. Dá muito trabalho, "a máquina está dominada" (nunca saberemos se é verdade ou não), não é o tempo certo.
 
Só há dois grupos de pessoas que ligam aos críticos da atual direção: Seguro e a sua equipa e parte da direção do PSD. Os primeiros, como pensam que a governação lhes acabará por cair nas mãos, preocupam-se sobretudo com o poder dentro do partido, e aí são exímios no combate e rápidos na resposta. Os segundos vivem preocupados com o possível afastamento de Seguro.
 
A grande preocupação atual do PSD é não ganhar as europeias e apenas perdê-las por pouco, isso, segundo eles, manterá Seguro. A última coisa que quereriam é não enfrentar o atual secretário-geral nas legislativas. Mas não têm de se preocupar nem com uma derrota nas europeias Seguro sairá.
 
Sem Governo e sem oposição. Era mesmo disto que precisávamos.
 

Portugal: A CAMINHO DO NOVO ESTADO

 

Tomás Vasques – jornal i, opinião
 
O Estado foi ocupado por quem o quer desacreditar e dele se quer desfazer, reduzindo-lhe a capacidade de intervenção e a dignidade
 
Os resultados económicos do último semestre de 2013, que levam o governo a embandeirar em arco, levianamente, por razões eleitorais, resultam, sobretudo, do crescimento do consumo privado. Por isso, mal se entende este foguetório do governo, quando são as decisões do Tribunal Constitucional que, em larga medida, estão na origem do minguado crescimento que o primeiro-ministro apresenta como "prova" do sucesso das suas políticas de austeridade. Foi, precisamente, contrariando medidas severas de empobrecimento, propostas pelo governo, declaradas inconstitucionais, que foi permitido um maior desafogo às famílias e o consequente aumento do consumo. Mas, mais significativo do que estes "sinais positivos", é que a austeridade dos últimos três anos tem aumentado continuamente a dívida pública. Esta, que ronda os duzentos e vinte mil milhões de euros e ultrapassa os 130% do PIB, não pode ser reduzida sem mais carga fiscal e sem mais austeridade. É o ciclo vicioso a que nos conduz, se não for interrompida, a política de austeridade custe o que custar.
 
Mas o estado a que chegámos não resulta só desta saga perversa da austeridade. O Estado foi ocupado por quem o quer desacreditar e dele se quer desfazer, reduzindo-lhe a capacidade de intervenção e a dignidade. Todos os dias somos surpreendidos por novos factos e ainda não começou o degradante espectáculo, provavelmente televisivo, da "factura da sorte", sorteio semanal de um carro "topo de gama", promovido pelo governo, a que concorrem todos os contribuintes que se disponibilizem a colaborar com a fiscalização do ministério das Finanças. E o governo já anunciou que haverá, para além dos habituais, mais dois sorteios extraordinários, com três prémios de uma só vez. Deve ser para estimular, ainda mais, esta "cidadania de casino" promovida pelo governo.
 
Na semana passada, talvez contagiada pela "factura da sorte", a presidente da Assembleia da República, Assunção Esteves, propôs aos deputados que se procurassem patrocínios que pagassem as iniciativas das comemorações dos 40 anos da "revolução dos cravos" a promover por aquele órgão de soberania. Circulou por aí, na comunicação social, que uma das ideias da segunda figura do Estado, para lembrar "o dia inicial inteiro e limpo", era cobrir toda a fachada do Parlamento com uma intervenção de Joana de Vasconcelos. Como quem paga quer retorno, é de supor, sem caricaturar, que não estava fora de questão ver, no topo do Palácio de São Bento, uma faixa, a todo o comprimento, a anunciar cinquenta por cento de desconto no peixe numa qualquer cadeia de supermercados. Por este caminho e com este "pensamento de Estado", qualquer dia, ainda vamos ver a Presidência da República a solicitar o patrocínio de um banco ou de uma multinacional para realizar as comemorações do dia de Portugal.
 
Mas não ficamos por aqui. Os exemplos sucedem-se, uns atrás dos outros: o governo português tem uma posição de "apoio empenhado e construtivo" à entrada, como membro de pleno direito, na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, da Guiné Equatorial, governada há décadas por Teodoro Obiang, um dos ditadores mais sanguinários de África. A posição do governo português, neste caso, pode ter a ver, também, com outro "patrocínio": o ditador da Guiné Equatorial estaria disposto a investir mais de 130 milhões de euros no BANIF.
 
Estes factos não são isolados: correspondem ao "pensamento" de quem nos governa sobre os cidadãos, a sociedade e o papel do Estado. Por isso, entraram na rotina, como parte substancial da "reforma" do Estado. De um "Novo Estado".
 
Jurista
 
Escreve à segunda-feira
 

Organização timorense critica possível compra de armas à Indonésia

 


Díli, 17 fev (Lusa) - A organização não-governamental timorense Fundação Mahein - Monitorização, Pesquisa, e Advocacia do Setor da Segurança criticou hoje a possível compra de armas pelo Governo de Timor-Leste à Indonésia, invocando razões de moralidade e qualidade do material.
 
Na semana passada, durante uma visita à Indonésia, o primeiro-ministro timorense, Xanana Gusmão, admitiu a possibilidade de comprar armas Àquele país para desenvolver as capacidades das forças de defesa timorenses.
 
"A Fundação Mahein está preocupada com o aumento da dependência de Timor-Leste da Indonésia para fornecimento de equipamento militar. Permitir que a Indonésia seja o principal fornecedor de armas de Timor-Leste é uma má decisão", referiu a organização, em comunicado divulgado à imprensa.
 
A Fundação Mahein considerou de "qualidade suspeita" os produtos produzidos pela empresa estatal indonésia PT. Pindad.
 
"É também importante lembrar que armas produzidas pela PT. Pindad caíram nas mãos de grupos terroristas que operam na Indonésia e nas Filipinas", afirmou a fundação, sublinhando que podem representar um problema de segurança para Timor-Leste, principalmente quando o país ainda não tem um sistema de controlo de armas.
 
No comunicado, a Fundação Mahein também questionou a moralidade de comprar armas a militares que foram responsáveis por atrocidades contra o povo de Timor-Leste.
 
"Muitos dos soldados e líderes responsáveis por abusos dos direitos humanos contra o povo de Timor durante a ocupação continuam nas forças armadas indonésias", referiu a fundação.
 
A organização não-governamental questionou como é que o Governo, de boa-fé, pode comprar armas ao responsável por décadas de repressão e subjugação ao seu povo.
 
"É inadmissível que os responsáveis pelos abusos dos direitos humanos contra a nossa nação façam agora lucro à custa do povo timorense. Sinceramente, Timor-Leste tem melhores opções para comprar armas do que a PT. Pindad. A Fundação Mahein pede ao Governo e ao ministro da Defesa para procurarem outro fornecedor que fabrique armas de melhor qualidade e tenha uma verdadeira parceria com as forças de defesa timorenses", concluiu.
 
MSE // VM - Lusa
 

C-295 da Força Aérea portuguesa em Díli para mostrar capacidades da aeronave

 


Díli, 15 fev (Lusa) - Um C-295 da Força Aérea portuguesa aterrou hoje em Díli, Timor-Leste, para uma missão de demonstração das capacidades da aeronave feita a pedido das autoridades timorenses.
 
"O objetivo desta paragem é, no sentido daquilo que se passou há uma semana em Portugal onde foi estabelecido um acordo de cooperação com Timor-Leste, incentivar, valorar esse acordo e dar também o contributo da Força Aérea naquilo que for possível e demonstrar as valências e as capacidades que a Força Aérea tem e que de algum modo possam contribuir também para desenvolver a nossa cooperação com Timor", afirmou o major-general Pedro Palhares.
 
O C-295 pertence à Esquadra 502 da Força Aérea Portuguesa que realiza missões de transporte tático e geral, apoio logístico, vigilância marítima, busca e salvamento, evacuações médicas, bem como lançamento de tropas aerotransportadas, carga aérea e transporte de altas entidades.
 
A demonstração da capacidade da aeronave em termos de vigilância e reconhecimento, busca e salvamento e controlo de pescas incluiu um voo por Timor-Leste, levando a bordo o primeiro-ministro timorense, Xanana Gusmão, e alguns elementos do Governo, forças de defesa e segurança, bem como o embaixador de Portugal, Manuel Gonçalves de Jesus.
 
No final da viagem, o primeiro-ministro, Xanana Gusmão, afirmou aos jornalistas que aquele tipo de aeronave responde às "preocupações" de Timor-Leste.
 
"Somos uma ilha, temos o problema dos crimes transnacionais, mas também temos obrigação de defender os nossos recursos piscatórios. Portanto, cai fantasticamente bem", disse Xanana Gusmão.
 
Xanana Gusmão disse também que a aeronave é aquilo que "responde às nossas necessidades".
 
A visita do C-295 a Díli ocorre depois de uma demonstração feita na Austrália, Nova Zelândia e Singapura das capacidades da aeronave no âmbito de um protocolo celebrado entre a Força Aérea Portuguesa e a Airbus Militar.
 
MSE // ZO - Lusa
 

São Tomé e Timor-Leste estudam criação de consórcio CPLP para petróleo

 


Lisboa, 15 fev (Lusa) - São Tomé e Princípe e Timor-Leste estão a reavaliar o acordo de petróleo bilateral e vão avançar com um estudo para a criação de um consórcio de exploração 'onshore' da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP)
 
Em comunicado, a Agência Nacional de Petróleo de São Tomé e Príncipe adianta que, no âmbito da reavaliação do acordo e do estudo, estão naquele país africano uma delegação de nove pessoas do Estado timorense.
 
Entre os representantes de Díli, estão os presidentes da Agência Nacional de Petróleo do país, Gualdino da Silva, e da Companhia Nacional de Petróleo, Francisco Monteiro.
 
As autoridades timorenses "vão apresentar uma proposta de estabelecimento de consórcio CPLP de exploração 'onshore' em Timor-Leste", assente numa parceria estatégica entre os países membros da comunidade. Além disso, prevê-se ainda a "apreciação do grau de aplicação das atividades previstas no memorando de entendimento" sobre petróleo e gás, assinado em 2011.
 
ALU // PJA - Lusa
 

Acordo entre Governo e RENAMO fortalece imagem dos partidos e de Moçambique

 


Silvério Ronguane, politólogo independente, acredita que MDM não deverá criar problemas com o facto de acordo ter sido debatido à porta fechada. Pacto é fruto da pressão interna e externa e segue agora para o Parlamento.
 
O Governo e a segunda maior força política de Moçambique, a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) alcançaram na quinta-feira (13.02) um acordo final em relação à revisão do pacote eleitoral.
 
Esta constituía a principal exigência da RENAMO para a participação do principal partido da oposição nas eleições gerais agendadas para 15 de outubro de 2014.
 
Acordo sob pressão
 
Segundo o analista político independente Silvério Ronguane, o acordo é fruto de várias pressões. “A pressão popular, dos investidores, dos doadores e sobretudo a pressão do Movimento Democrático de Moçambique (MDM)”, indica. “As vitórias do MDM nas eleições ajudaram a desfazer a ideia de que as eleições se ganham através dos órgãos eleitorais”, frisa.
 
Silvério Ronguane alerta que qualquer falha no processo pode, contudo, arrastar o país para um novo impasse. Porém, nas palavras deste politólogo, o MDM, que não participou no acordo, vai manter uma postura pacífica em prol da paz no país.
 
“O MDM está a exigir o que é de direito porque está na Assembleia da República e deve ter os mesmos direitos que os outros partidos. Mas apesar de tudo, graças ao líder pacífico do MDM, há uma perceção de que a prioridade é a democracia e a paz. O MDM não está a entrar no debate político para piorar o ambiente, mas sim no sentido de aperfeiçoá-lo”, explica o analista.
 
O acordo entre a RENAMO e o Governo foi alcançado durante uma sessão que contou com a presença de observadores nacionais, após uma série de rondas negociais iniciadas em maio de 2013.
 
O acordo introduz na lei o conceito de paridade política entre partidos nos órgãos eleitorais, nomeadamente na Comissão Nacional de Eleições e Secretariado Técnico de Administração Eleitoral.
 
Contudo, o politólogo Silvério Ronguane salienta que há pontos por elucidar.
 
“A questão da sociedade civil continua por esclarecer. Na lei que está em vigor, a sociedade civil participa, mas quem a escolhe é o Parlamento por voto maioritário e a FRELIMO acaba por eleger na totalidade esses membros”, recorda.
 
Presença do MDM nos órgãos eleitorais por clarificar
 
Com base no pacto, sabe-se que a Comissão Nacional de Eleições (CNE) deverá ser composta por 17 membros, enquanto o Secretariado Técnico de Administração Eleitoral (STAE) contará com 18 elementos. Embora não tenha sido anunciada ainda a distribuição dos assentos naqueles orgãos pelos partidos parlamentares, sabe-se também que a RENAMO verá a sua presença reforçada. Quanto ao MDM, ainda não há dados públicos.
 
No que respeita à integração dos militares da RENAMO no Exército Nacional, Silvério Ronguane acredita que esse processo continuará a decorrer de forma pacífica. “Os próprios militares são os mais interessados na paz, até porque são eles as primeiras vítimas em caso de guerra”, comenta.
 
A RENAMO pretende agora submeter a proposta de revisão do pacote eleitoral e pedir que o início do recenseamento eleitoral seja adiado por mais duas semanas. Quanto à imagem dos dois partidos, Silvério Ronguane não tem dúvidas de que todos saíram beneficiados.
 
“Quer o Governo, quer a RENAMO vão sair reforçados como partidos da paz e vão reconciliar-se diante do seu povo e diante dos investidores. Todos saem a ganhar e os moçambicanos saem bem na fotografia”, salienta.
 
Deutsche Welle - Autoria: Nuno de Noronha – Edição: Madalena Sampaio
 

Governo retira veículos por via-férrea devido a inundações no centro de Moçambique

 


O governo regional de Sofala, centro de Moçambique, acionou hoje a retirada de viaturas ligeiras por via-férrea no troço Dondo-Tica, devido às inundações que condicionam o trânsito rodoviário, disse hoje à Lusa fonte oficial.
 
Élsio Canda, diretor provincial dos Transportes e Comunicações de Sofala, disse que um comboio de carga foi colocado à disposição para evacuar carros impedidos de atravessar a Estrada Nacional 6, a principal estrada que liga os países africanos do interior ao porto moçambicano da beira, devido a inundações.
 
"Ativámos a locomotiva logo que a situação complicou na N6. Durante sábado e domingo, 10 viaturas foram transportadas e as carruagens continuam disponíveis para viaturas com suspensão baixa", disse hoje à Lusa Élsio Canda.
 
As águas do rio Púnguè transbordaram e galgaram cerca de cinco quilómetros de asfalto no troço entre Mutua (Dondo) e Tica (Nhamatanda), condicionando o trânsito durante o dia. Nas noites o tráfego é interdito, afetando o movimento entre a a cidade da Beira e países como Maláui, Zâmbia e Zimbabué.
 
"Ao longo da tarde de domingo e manhã de segunda-feira, as águas desceram significativamente na plataforma, e estamos a ponderar a reativação da circulação noturna na terça-feira, caso prevaleça a descida do nível das águas", adiantou Canda.
 
Desde sexta-feira, as viaturas são escoltadas no troço Mutua-Tica, quando o nível das águas atingiu mais de um metro de altura acima da plataforma, fazendo com que muitos carros ficassem retidos por várias horas na zona.
 
A Lusa testemunhou no domingo a retenção de pelo menos 350 camiões de carga nas duas margens da estrada, à espera da travessia, que chega a demorar em média uma hora, num troço de cerca de 15 quilómetros.
 
Ali, viaturas com suspensão baixa, estão sujeitas a pagar 600 meticais (15.3 euros) para atravessar, com o motor desligado, empurrado por estivadores que se instalaram na zona.
 
AYAC// PJA – Lusa – foto Yoav Leemer – AFP
 

Renamo depositou projeto de revisão da lei eleitoral no parlamento moçambicano

 


A Renamo, principal partido da oposição moçambicana, depositou hoje na Assembleia da República o projeto de revisão pontual da Lei Eleitoral, disse à Lusa a chefe da bancada parlamentar do movimento, Angelina Enoque.
 
Angelina Enoque afirmou que a proposta que o seu partido entregou hoje à Assembleia da República traduz o acordo que a Renamo alcançou com o Governo para uma nova composição da Comissão Nacional de Eleições (CNE e do Secretariado Técnico da Administração Eleitoral (STAE), o braço operativo dos processos eleitorais em Moçambique.
 
O executivo moçambicano e o principal partido da oposição chegaram na semana passada a um entendimento sobre o aumento do número de representantes da Renamo na CNE e integração de representantes do partido no STAE.
 
O acordo foi alcançado no quadro das negociações que as duas partes vinham mantendo há mais de um ano para a resolução do diferendo em torno da legislação eleitoral, que provocou a pior crise política e militar em Moçambique, desde a assinatura do Acordo Geral de Paz em 1992.
 
"A nossa expetativa é que hoje mesmo a proposta comece a ser distribuída pelas comissões de trabalho, para a analisarem até quarta-feira, de modo que na quinta-feira seja debatida em plenário", disse á Lusa a chefe da bancada parlamentar da Renamo.
 
A revisão da lei eleitoral será o ponto mais importante da nona sessão da Assembleia da República, que se inicia no dia 19.
 
Durante a última sessão da atual legislatura, o parlamento vai também discutir o projeto de lei do Direito à Informação, proposta de lei de Sindicalização da Função Pública, a informação do Provedor de Justiça e terá a habitual sessão de perguntas ao Governo, bem como a informação anual do Procurador-Geral da República.
 
PMA // APN – Lusa – foto António Silva
 

Angola e Cabo Verde assinam acordo de financiamento de 10 milhões de euros

 


Angola e Cabo Verde assinaram hoje em Luanda um acordo de financiamento de 10 milhões de euros para apoiar a execução de projetos de infraestruturação em curso no arquipélago.
 
O documento foi rubricado pelos ministros das Finanças de Angola, Armando Manuel, e pela sua homóloga de Cabo Verde, Cristina Duarte, que chegou hoje à capital angolana para uma visita de trabalho de três dias.
 
No final da cerimónia, Cristina Duarte disse à imprensa que a verba disponibilizada por Angola visa apoiar o Governo de Cabo Verde na execução do seu programa de infraestruturação da economia, nomeadamente a construção, expansão e modernização de seis aeroportos, de quatro aeroportos internacionais, a cobertura do país com uma estrutura rodoviária e de governação eletrónica.
 
"Este nível de infraestruturação começou a colocar por cima da mesa um conjunto de oportunidades de negócios vocacionados para o investimento privado nacional e estrangeiro", referiu a ministra das Finanças e Planeamento de Cabo Verde.
 
A governante cabo-verdiana sublinhou que o Governo pretende atrair além do investimento privado europeu também o africano e particularmente o de Angola.
 
Relativamente ao investimento angolano, Cristina Duarte referiu que o atual "ainda não é muito significativo", face à falta de condições para ter maior vulto.
 
"Agora é que as grandes oportunidades vão surgir", disse a ministra, destacando a segunda vaga de privatizações, nomeadamente da empresa nacional e eletricidade, os estaleiros navais, a concessão da exploração de um aeroporto.
 
"Continuamos a ter imensas oportunidades no setor turístico, infraestruturação de zonas que neste momento foram demarcadas para o desenvolvimento do turismo em Cabo Verde", acrescentou.
 
No que diz respeito ao interesse de Angola na privatização da transportadora aérea cabo-verdiana TACV, Cristina Duarte disse que desde 2009 os dois Governos têm vindo a manter "conversas" sobre a associação das duas companhias numa lógica de joint-venture.
 
"Porque nós acreditamos que a TACV e a TAAG (companhia aérea angolana) têm algumas complementaridades. A TACV é uma empresa que tem algumas certificações internacionais, faz parte da CDEAO, com algum nível de penetração preferencial nesse mercado de aviação e por outro lado a TAAG é uma empresa com uma musculação financeira e uma frota impressionante", justificou.
 
O programa de visita de Cristina Duarte prevê encontros com os administradores do Fundo Soberano de Angola, da Comissão do Mercado de Capitais, do Fundo de Garantia de Crédito, com o governador do Banco Nacional de Angola e uma deslocação à Zona Económica Especial de Luanda-Bengo, em Viana, a cerca de 20 quilómetros de Luanda.
 
NME // VM – Lusa – foto José sousa Dias
 

Angola: A INTERNACIONAL SOCIALISTA NOS BRAÇOS DO MPLA

 


William Tonet - Folha 8, 14 fevereiro 2014
 
Vista de Portugal, a pre­sença do MPLA na Interna­cional Socialista não sur­preende especialmente. Desde que se iniciou em Angola a extracção petro­lífera em larga escala que a família política internacio­nal do partido do governo não cessou de alargar-se.
 
No congresso do MPLA, em 2009, discursou como convidado um dirigente de topo do Partido Comu­nista Português, que deu detalhes sobre “o alarga­mento de uma frente anti­-imperialista que inverta o actual curso das relações internacionais”. A proxi­midade com o PCP vêm dos tempos do heróico combate pela independên­cia, quando o movimento angolano era uma referên­cia para todas as forças da luta anti-colonial.
 
Mas há muito que o MPLA se transformou num poder pró-imperialista e pró-ca­pitalista, pouco interessa­do na inversão do “actual curso das relações inter­nacionais”. É assim que a amizade com o PCP se vai tornando cada vez mais incómoda, tanto mais que o regime angolano se tor­nou dono de muitos bens privatizados em Portugal, da banca à energia e às te­lecomunicações. Aliás, na­quele mesmo congresso, o enviado comunista teve de partilhar os holofotes com Nuno Morais Sarmento, um ex-ministro do Parti­do Social Democrata, de direita, com responsabili­dades na privatização da Galp a favor dos interesses da oligarquia angolana.
 
Esta amplitude das rela­ções políticas do MPLA não é de hoje. O PSD já chegara aos palcos do MPLA em Setembro de 1991, quando Cavaco Sil­va, então de visita ao país como primeiro-ministro, aproveitou para participar num comício partidário na cidade de Luena.
 
Não surpreende por isso que também os socialistas portugueses se encontrem em irmandade política com a cúpula do MPLA no seio da Internacional Socialista.
 
É que, não só foram gover­nos do Partido Socialista que abriram ao regime de Angola o acesso à proprie­dade de grandes grupos económicos portugueses, como também são do PS muitos dos ex-governan­tes portugueses nomea­dos para cargos de topo em empresas de direito angolano.
 
TRÁFICO DE INFLUÊNCIA DO MPLA CORROMPE POLÍTICOS PORTUGUESES
 
Estão nessa situação 27 membros de governos portugueses, onze dos quais do PS, segundo o estudo que publicámos no livro “Os Donos An­golanos de Portugal”. Estas são empresas de capitais angolanos (Fi­nertec, banco Atlântico, BAI), de maioria ango­lana (Multitel) ou filiais angolanas de empresas portuguesas (Millenium, Mota Engil) ou brasilei­ras (Camargo Correa), que incluem no seu ca­pital “parceiros locais” angolanos.
 
Esta proximidade do PS português com o poder angolano é a mesma que outras formações da In­ternacional Socialista fo­ram mantendo, ao longo dos anos, com regimes políticos que nada tinham de comum com os princí­pios políticos proclama­dos pela Internacional Socialista. Ilustres mem­bros da IS foram também, no passado, os ditadores tunisino Ben Ali ou o egípcio Hosni Mubarak.
 
Mário Soares, histórico socialista e ex-presi­dente da República de Portugal, refere-se cri­ticamente ao fenóme­no: “ditaduras [como a da Tunísia] não devem poder entrar na Interna­cional Socialista, mas é a mesma razão pela qual o MPLA também faz par­te: é o partido único de José Eduardo dos Santos, ditador que confunde o seu gozo próprio com o orçamento” (entrevista a Joaquim Vieira, 2013).
 
Pelo seu lado, o presiden­te do Parlamento Euro­peu, o também socialista Martin Schultz, confron­tado com as vultuosas aplicações financeiras do poder angolano em Portugal, declarou em Fevereiro de 2012 que “este tipo de pedidos [de investimento, feitos pelo governo português ao regime angolano] conde­na Portugal ao declínio.
 
Lisboa deve perceber que só tem hipóteses no quadro da União Euro­peia, onde há um modelo democrático estável que pode ser conjugado com uma estabilidade econó­mica”.
 
As palavras de Schultz valem pouco: assim como as suas críticas a Luanda convivem bem com a presença do se­cretário-geral do MPLA na vice-presidência da IS, o líder do SPD ale­mão aceita pactuar com o partido de Angela Merkel, a mesma direi­ta que ameaça a União Europeia a golpes de empobrecimento sobre países como Portugal. Mas mais significativa que a presença de vozes críticas no campo da In­ternacional Socialista, é a falta de ouvidos para as escutar. O autoritarismo e o modelo de acumula­ção de riqueza pelo regi­me angolano não põe em causa o seu papel naque­la organização.
 
Ora, nada demonstra melhor a força da in­fluência de Luanda entre os dirigentes políticos dos partidos socialistas, desde logo portugueses. Vendo o MPLA sentado sobre a riqueza nacional angolana, logo se pres­tam a atribuir-lhe todos os cartões-de-visita e credenciais de esquerda que a Internacional So­cialista tem para dar.
 
(*) Membro da Comissão Política do Bloco de Esquerda
 

Angola: O VALOR DA UNANIMIDADE

 

Jornal de Angola, editorial
 
Em democracia a unidade faz-se na diversidade de projectos políticos e propostas alternativas. As eleições não excluem ninguém, apenas sufragam os programas de governo que dão garantias aos eleitores e escolhem os políticos mais credíveis.
 
Ninguém vai a votos para perder, mas quem ganha nunca ganha tudo e quem perde ganha sempre uma parcela do poder em disputa. Uma visão diferente conduz a frustrações, conflitos, às vezes extremos, e instabilidade social. Basta olhar para o comportamento de forças partidárias derrotadas em eleições, nos países onde o regime democrático não amadureceu o suficiente e os adversários são vistos como inimigos a abater. As derrotas eleitorais são tidas como afrontas e desonras que só o sangue pode lavar.

Angola já pagou uma factura pesada, apresentada de armas na mão, por aqueles que não são capazes de trabalhar pela unidade, na diversidade de ideias, programas políticos ou opções ideológicas. Nos longínquos Acordos de Alvor, Portugal, FNLA e UNITA não queriam discutir, nem sequer marcar uma data para eleições gerais em Angola. O chefe da delegação do MPLA, Presidente Agostinho Neto, bateu-se desde o primeiro dia de negociações pela marcação de uma data para que o Povo Angolano fosse chamado às urnas a fim de escolher os seus representantes.

Agostinho Neto defendia que “precisamos de passar pelo crivo das eleições para se aferir da implantação e influência de cada movimento de libertação”. Dois juristas de primeiro plano, Maria do Carmo Medina e Diógenes Boavida, que faziam parte da delegação do MPLA no Alvor, puseram em cima da mesa argumentos jurídicos que levaram Portugal a aceitar a reivindicação. FNLA e UNITA acabaram por subscrever essa posição.

As vicissitudes da política e da História só permitiram que o “crivo das eleições” só fosse usado em 1992, num acto eleitoral que foi o mais escrutinado do mundo, sob a vigilância permanente da ONU e dos países que constituam a Troika de Observadores: Rússia, EUA e Portugal, na qualidade de antiga potência colonial. Mas a Guerra Fria ainda não tinha “arrefecido” o suficiente para que os derrotados nessas eleições compreendessem que iam ter no futuro muitas oportunidades para convencer os eleitores. A tragédia que se seguiu, ainda hoje pesa no quotidiano dos angolanos.

O presidente José Eduardo dos Santos tem feito tudo para que os derrotados de ontem e de hoje não se sintam excluídos, mas sim uma parte, ainda que minoritária, de um todo que é o Povo Angolano. A legitimidade do voto abrange quem ganha mas também quem perde. Todos os deputados eleitos cumprem um mandato que lhe foi legado pelo Povo Angolano. E a unidade nacional só é possível se todos contribuírem para a diversidade de ideias e projectos.

A unanimidade é outra coisa. Em democracia é uma situação muito rara, mas acontece. Para que todos concorram, de forma unânime, na concretização de um determinado objectivo, é preciso, antes do mais, coragem. E muita confiança. Elevação e maturidade na forma de fazer política. E um desígnio nacional muito claro. Foi sem surpresa que a CPLP anunciou o apoio à candidatura de Angola ao Conselho de Segurança da ONU. Os Estados membros sabem que o nosso país tem um rumo que não se afasta dos valores democráticos. O Presidente da República tudo faz - não é de hoje mas desde os anos 80 - para promover a estabilidade política, a unidade e reconciliação nacional. Os angolanos bateram-se pela sua liberdade e para que os portugueses se libertassem do regime fascista. Angola ajudou a libertar a Namíbia, o Zimbabwe e África do Sul do regime de Apartheid.

O Presidente José Eduardo dos Santos nunca aceitou que a sedição e a guerra pós eleitoral acabassem com vencedores e vencidos. Apesar de ventos e tempestades contrários, conseguiu impor a paz e a reconciliação nacional aos que apostavam na guerra. Ao longo dos anos conduziu todos os esforços diplomáticos que levaram a paz e a democracia à África Austral. Por isso e muito mais, Angola faz falta no Conselho de Segurança da ONU, sobretudo numa fase em que o mundo está mergulhado numa crise sem precedentes e os tambores da guerra soam desde África, ao Médio Oriente, América Latina e Europa. Angola e o Presidente José Eduardo dos Santos fazem muita falta no Conselho de Segurança da ONU. A CPLP, a União Africana e alguns países europeus e latino-americanos compreenderam a necessidade de apoiar a nossa candidatura.

Mas ninguém sabe o que pensa sobre tão importante tema, o líder da oposição. Ou as direcções dos partidos representados na Assembleia Nacional. Muito menos os partidos extra-parlamentares. É um silêncio esmagador que revela um défice democrático inquietante. Fazer política de cadeiras vazias é grave. Usar a retórica como única arma no combate político é de uma pobreza atroz. Mas ignorar a candidatura de Angola ao Conselho de Segurança da ONU demonstra total inabilidade para fazer política, o que justifica, à saciedade, as sucessivas derrotas eleitorais. Há candidatos às eleições que são a imagem indesmentível da fraude.

Angola: REDES CRIMINOSAS À SOLTA

 


O secretário de Estado das Relações Exteriores afirmou, em Londres, que a pouca capacidade de aplicação e execução da legislação propicia o surgimento de grupos organizados de contrabando e de comércio ilegal de carne de caça.
 
Manuel Augusto, que manifestou a opinião na primeira Conferência Internacional sobre o Comércio Ilegal do Animal Selvagem, disse que o Executivo está preocupado com o reforço progressivo da rede de pessoas e de dinheiros associada ao comércio de espécies selvagens e outras formas de actividades criminosas organizadas.

O secretário de Estado, que falava para mais de delegados de 150 países, entre os quais Presidentes da República e primeiros-ministros, lembrou que os crimes contra a vida selvagem constituem “grave ameaça aos Estados de direito e ao desenvolvimento sustentável.

Dados apresentados na Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies de Fauna e Flora Selvagens Ameaçadas de Extinção (CITES), referiu, revelam que o número de elefantes africanos abatidos por caçadores furtivos duplicou em dez anos e chegou em 2012 a 22 mil.

Manuel Augusto salientou que o tráfico de animais selvagens se tornou numa empresa que factura dez mil milhões de dólares anuais e é alimentada por uma crescente procura de marfim na Ásia.

A caça e comercialização ilegal de animais selvagens, que preocupa os ecologistas, devem ser combatidas também em conjunto pelos governos. O príncipe Charles da Inglaterra afirmou que “este tipo de actividades está a transformar-se numa ameaça perigosa para a sobrevivência das espécies mais preciosas do planeta e a estabilidade económica e política de muitas regiões no mundo”.

Os Presidentes do Botswana, Chade, Gabão e Tanzânia, realçaram o papel dos grupos criminosos organizados, que roubam e massacram elefantes, rinocerontes e tigres numa escalada sem precedentes que ponham em causa a sua sobrevivência.

Os delegados foram informados que em África a caça aos elefantes nunca foi tão grave e que apenas em dez anos 62 por cento deles foram exterminados para lhes extraírem o marfim. O material é bastante valorizado na Ásia, onde se concentra o comércio ilegal. Os participantes na conferência congratularam-se por a Comissão para a Prevenção do Crime e para a Justiça Penal das Nações Unidas ter na Resolução de Maio de 2013 elevado a gravidade dos crimes contra a vida selvagem ao nível de outras formas de criminalidade organizada internacional, como o tráfico de seres humanos e de estupefacientes.

Os participantes exortaram a Comissão e os Estados-Membros a tirarem partido da sua política de comércio e de desenvolvimento para assegurarem que o acordo internacional é integralmente aplicado. A conferência apoiou o Consórcio Internacional de Combate ao Crime contra a Vida Selvagem (ICCWC), constituído pela CITES, Interpol, UNODC, Banco Mundial e Organização Mundial das Alfândegas, que permite o intercâmbio de dados e de informações, bem como o reforço da aplicação e do cumprimento das medidas.

Os delegados instaram a Comissão Europeia a reforçar as políticas, os quadros legais e a capacidade de aplicação da legislação, a satisfazer as necessidades de tecnologias de informação e a desenvolver sistemas judiciários eficazes para combater a nível internacional os crimes contra a vida selvagem.

Jornal de Angola
 
Foto AFP
 

Angola: CAOS NO TRÂNSITO DE LUANDA

 

Casimiro Pedro – Jornal de Angola
 
O trânsito em Luanda é caótico. As infrações são inúmeras e a impunidade dos condutores é quase absoluta. O desrespeito ao peões é causa de inúmeros atropelamentos, alguns mortais, outros incapacitam em permanência os peões vitimados. Muito desta anarquia é devido à opção de ignorar os semáforos. A polícia de trânsito está a apertar o cerco aos infratores. Certamente inspirado nessa realidade, Casismiro Pedro produziu este cartoon no Jornal de Angola de hoje. Cartoon de que fazemos a nossa Imagem Escolhida. - PG
 

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