O
"nacionalismo de recursos" praticado no Brasil dificulta a operação
da Petrobras e prejudica o país, que tem enfrentado sucessivos atrasos e
problemas na exploração de petróleo, considera o analista da Energy Aspects
Virendra Chauham.
Em
entrevista à Lusa, este analista de uma das principais consultoras na área da
energia afirma que "o Brasil vai ter um enorme papel a desempenhar no
mercado do petróleo", mas lembra que as metas de produção têm sido
sucessivamente adiadas por dificuldades técnias e falta de interesse dos
investidores, motivados pelo excessivo peso que o Governo deposita na
Petrobras, configurando um "nacionalismo de recursos".
"A
Petrobras tem baixado as metas de produção ao longo dos últimos anos, e o
crescimento da produção continua a desapontar face às expetativas",
acrescenta Virendra Chauhan, explicando que isso se deve, em grande parte, ao
"nacionalismo de recursos" praticado no Brasil.
"Algumas
das medidas do Governo, como as alterações à moldura da regulamentação do
setor, representou um nacionalismo de recursos, e abrandaram a produção, porque
dava 30% da exploração à Petrobras, o que obrigava as grandes companhias
petrolíferas internacionais a fornecerem o seu 'know-how' e a fazer grandes e
prolongados compromissos de capital, mas depois o desenvolvimento do projeto e
as decisões estratégicas eram tomadas pela Petrobras", explicou o
analista.
"Já
em 2006 a
Agência Internacional de Energia previa que três anos depois o país chegasse
aos 3 milhões de barris por dia, mas estamos em 2014 e agora a previsão dos 3
milhões passou para 2018", diz o consultor que segue de perto o setor da
energia no Brasil, Angola e Moçambique.
Para
Virendra Chauham, este foi um dos principais motivos que "fez abrandar a
taxa de desenvolvimento dos projetos", mas não foi a única razão para as
contas da Petrobras não estarem nos níveis positivos dos últimos anos.
"Muitos
argumentam que a Petrobras, uma companhia controlada pelo Governo brasileiro, é
um mecanismo para controlar a inflação e manter os preços da gasolina baixos, o
que amarra as mãos da empresa, porque se espera que gastem imenso dinheiro com
a exploração de petróleo, e ao mesmo tempo têm de, na prática, subsidiar a
gasolina, por isso, trimestre após trimestre, as contas têm piorado",
argumenta o analista.
Nos
últimos três anos, afirma, "a Petrobras perdeu 26 mil milhões de dólares,
e por isso teve de recorrer a dívidas, o que é suficiente para, do ponto de
vista dos investidores, baixar o interesse e os preços das ações".
Outro
dos grandes problemas da Petrobras, conclui o analista, têm a ver com a
necessidade de desenvolver os projetos, que já de si estão "a romper
fronteiras em termos da perícia necessária", com a indústria local, que é
"demasiado caro para gerir a infraestrutura e potenciar comercialmente o
potencial de exploração".
De
acordo com os últimos dados da Agência Nacional do Petróleo do Brasil, a
produção de petróleo e gás em águas profundas bateu o recorde em abril pelo
sexto mês consecutivo e, pela primeira vez, superou 400 mil barris por dia.
A
produção no pré-sal em abril superou em 4,2% a realizada no mês anterior, tendo
sido gerados 503,6 mil barris de óleo equivalente por dia, sendo 412 mil barris
diários de petróleo e 14,6 milhões de metros cúbicos por dia de gás natural.
A
produção total de petróleo e gás natural no Brasil em abril foi de 2,667
milhões de barris equivalentes por dia, sendo 2,146 milhões de barris diários
de petróleo e 82,9 milhões de metros cúbicos por dia de gás natural.
Lusa,
em Notícias ao Minuto